Governos progressistas: por que e para quê

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07 Agosto 2012

Esses governos progressistas são muito mais frutíferos do que aqueles que, em tempos das teorias pró-soviéticas, eram quimericamente postulados como governos "democrático-revolucionários". São progressistas com relação ao passado recente e são progressistas porque extirparam parte da herança neoliberal.

A opinião é de Nils Castro, ensaísta panamenho, autor de Las izquierdas latinoamericanas en tiempo de crear, em artigo publicado no jornal Página/12, 06-08-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

Alguns críticos insistem que a maioria dos governos "progressistas" latino-americanos administram uma fase pós-neoliberal, mas não pós-capitalista, do desenvolvimento de suas sociedades, economias e Estados. Não são revolucionários, já que o capitalismo continua sendo o horizonte de sua gestão política. Essa observação é descritivamente correta, mas silencia sobre as razões dessa característica.

Com seus respectivos matizes, esses governos foram eleitos em consequência do dano e da rejeição sociais que as políticas neoliberais acumularam no período passado. São, portanto, o resultado do voto antineoliberal – mas não necessariamente anticapitalista – de milhões de cidadãos. Voto capturado, por sua vez, por algumas esquerdas que ofereceram programas eleitorais de baixa intensidade, que prometiam subsanar os efeitos mais perversos do neoliberalismo, mas que não falavam em substituir o capitalismo.

Depois do colapso do "socialismo" soviético, ainda falta clareza sobre o que é que cada povo entende por socialismo e como construí-lo (e, nesse contexto, se instalou essa noção de "pós-capitalista", cujo sentido é ainda mais impreciso). Se a opção que deverá substituir o capitalismo por enquanto continua tão indeterminada, dificilmente servirá para mobilizar milhões de eleitores, em se tratando de democracia e de voto.

Em outras palavras, esses governos latino-americanos conseguiram se eleger e podem se sustentar porque ofereceram e cumprem programas que a maioria dos cidadãos já não podia assumir (embora alguns críticos ditem que, no longo prazo histórico, esses não são os projetos filosoficamente corretos...). Sua eleição foi possível porque esses programas foram programas politicamente acertados, em particular perante maiorias eleitorais que aspiram a uma mudança sem riscos, escassez, hiperinflações nem sobressaltos.

Mesmo assim, esses governos progressistas são muito mais frutíferos do que aqueles que, em tempos das teorias pró-soviéticas, eram quimericamente postulados como governos "democrático-revolucionários". São progressistas com relação ao passado recente e são progressistas porque extirparam parte da herança neoliberal e, sobretudo, porque deram oportunidade de cidadania, emprego, alimentação e escolarização a milhões de latino-americanos, e porque impulsionam a integração regional e recuperaram a soberania nacional.

Nesse ínterim, esse progressismo se associa a quatro aspirações: uma participação mais autodeterminada e eficiente no mercado global/ a distribuição mais justa de uma maior porcentagem da riqueza social gerada por essa participação; solidariedade política latino-americana e maior delimitação da influência dos Estados Unidos na região.

No entanto, para a maioria dos eleitores, o que vale é a melhoria das suas expectativas pessoais e familiares, e de suas possibilidade de se organizar para participar na definição do futuro previsível.

Agora, frente à consistente contraofensiva das velhas e das novas direitas locais e imperiais, até mesmo os profetas críticos admitem, senão defender esses governos, ao menos protestar quando se tenta derrubá-los. Obviamente, é melhor a moderação do bispo Lugo, que iniciava uma perspectiva democratizadora, do que o previsível retorno da barbárie stroessnerista e a consequente reinstalação de um baluarte regional da reação.

Assim, pois, a questão não é como qualificar esses governos e as suas limitações, mas sim em como prever e estruturar a passagem para a próxima etapa. Ou seja, como realizar a formação, a concertação e a acumulação – ideológica e organizativa – das forças sociais apropriadas para impulsionar essa transição e sustentá-la. Mais do que uma tarefa dos governos progressistas e dos gurus filosóficos, essa é a missão principal dos partidos e dos movimentos revolucionários, uma missão que não poderá se cumprir a partir de nenhum sectarismo.

No fim das contas, para ter governos que vão além, antes será preciso contar maiorias cidadãs que queiram intimá-los e sustentá-los.

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