Na gangorra. Dilma e a destituição de Lugo

Mais Lidos

  • Para a professora e pesquisadora, o momento dos festejos natalinos implicam a escolha radical pelo amor, o único caminho possível para o respeito e a fraternidade

    A nossa riqueza tem várias cores, várias rezas, vários mitos, várias danças. Entrevista especial Aglaé Fontes

    LER MAIS
  • Frente às sociedades tecnocientífcas mediadas por telas e símbolos importados do Norte Global, o chamado à ancestralidade e ao corpo presente

    O encontro do povo com o cosmo. O Natal sob o olhar das tradições populares. Entrevista especial com Lourdes Macena

    LER MAIS
  • Diante um mundo ferido, nasce Jesus para renovar o nosso compromisso com os excluídos. IHUCast especial de Natal

    LER MAIS

Assine a Newsletter

Receba as notícias e atualizações do Instituto Humanitas Unisinos – IHU em primeira mão. Junte-se a nós!

Conheça nossa Política de Privacidade.

Revista ihu on-line

Natal. A poesia mística do Menino Deus no Brasil profundo

Edição: 558

Leia mais

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

28 Junho 2012

"Qualquer que seja a posição adotada por Dilma sobre o Paraguai, haverá ônus para a política externa brasileira". escreve Jânio de Freitas, jornalista, em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, 28-06-2012.

Eis o artigo.

A situação mais delicada em relação ao golpe parlamentar no Paraguai é a do Brasil. Qualquer que seja a posição a ser adotada pelo governo Dilma Rousseff, haverá ônus para a política externa brasileira e risco de problemas maiores com o vizinho ou na crescente projeção internacional do Brasil.

A chamada cláusula democrática, exigência de que os integrantes do Mercosul e da Unasul (União dos Países da América do Sul) sejam leais ao Estado de Direito Democrático ou sejam afastados, consta da política externa brasileira como princípio fundamental. É um legado, quanto à primeira entidade, ainda do governo Sarney e, quanto à segunda, do governo Lula, cofundador da Unasul.

Se a exigência prevalecer, seja por decisão conjunta de uma ou de ambas as entidades, ou por decisão unilateral do Brasil de esfriar as relações com o Paraguai, o problema dos brasiguaios ganha nova dimensão. Desde que Lula e Fernando Lugo conseguiram apaziguar o confronto violento que se iniciava entre os sem-terra paraguaios e os grandes fazendeiros brasileiros em terra paraguaia, os riscos arrefeceram. Na aparência e temporariamente, porém.

A grande ocupação brasileira, tanto legal quanto duvidosa, da imensa parte do território paraguaio dedicada à agricultura extensiva, é suscetível de explosão. Lá e cá admite-se que em alguma altura a área, ou boa parte dela, entrará em combustão, com o enfrentamento dos jagunços armados pelos fazendeiros e dos sem-terra que se armam cada vez mais.

É importante não esquecer, a propósito, que no Paraguai existe um núcleo de guerrilha em atividade e, provavelmente, beneficiário da indignação de jovens com a derrubada de Lugo. Ou, mais indignante para eles, com os que voltam a ser o poder nacional.

A maior distância entre os governos do Brasil e do Paraguai, mesmo sem corte de todos os canais, será um obstáculo para a prevenção de ataques aos brasiguaios e a diluição de novos confrontos abertos, como feito por Lula e Lugo. Deixar brasiguaios em dificuldades pode ser até uma forma de represália paraguaia à possível reprovação prática do Brasil ao golpe parlamentar.

Na ocorrência oposta, em que se preservariam as relações entre os dois países como se nada houvesse transfigurado o Paraguai, os brasiguaios e os sem-terra de lá estarão com as mesmas disposições. Mas o Brasil poderá tentar que os militantes paraguaios concedam ao seu novo governo a consideração que tiveram com Lugo e Lula. O êxito, no entanto, é muito improvável.

E, caso se dê, a política externa brasileira precisará descobrir onde colocar o seu princípio básico de cláusula democrática na América do Sul. Ele é o que é, e nenhuma fantasia lhe daria aparências de ser o que não for mais. Todo o prestígio conquistado pela política externa, nos últimos anos, se perderia depressa. E sem reserva de crédito moral para preservar alguma confiança sequer por parte dos seus demais vizinhos.