A Terceira Revolução Industrial. Entrevista com Jeremy Rifkin

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Por: André | 27 Junho 2012

O economista americano Jeremy Rifkin é um dos pensadores mais influentes da atualidade. Professor da escola de negócios Wharton, da Universidade da Pensilvânia, Rifkin é conselheiro da União Europeia e interlocutor frequente da chanceler alemã Angela Merkel.

Há alguns anos, Rifkin se propôs a demonstrar que era viável colocar as diversas fontes de energia renovável no centro da matriz energética mundial. O assunto evoluiu e foi transformado em livro, A Terceira Revolução Industrial [Makron Books], que chegou às livrarias brasileiras neste mês.

No livro, Rifkin prega que todos os prédios - residenciais ou comerciais - podem ser transformados em pequenas usinas de energia. “Se o Brasil adotar esse modelo, pode ser a Arábia Saudita das energias renováveis e um dos líderes do século XXI”, diz Rifkin.

A entrevista é de Roberta Paduan e Daniel Barros e está publicada na Revista Exame, 26-06-2012.

Eis a entrevista.

O que o senhor chama de Terceira Revolução Industrial?

Quando estudamos história, vemos que as grandes revoluções econômicas acontecem quando há convergência de transformações nas áreas de comunicações e de geração de energia. No século XIX, saímos da prensa manual para a máquina a vapor e pudemos fazer impressões em massa a preços baixos.

Isso possibilitou a criação de escolas na Europa e nas Américas e a educação da força de trabalho, o que conduziu à Primeira Revolução Industrial. O telefone, o rádio, a TV e o petróleo abriram caminho para uma sociedade de consumo de massa, a Segunda Revolução Industrial.

Movida pelos veículos automotores, essa fase agora está chegando ao fim. Teremos de encontrar outras fontes de energia, porque alcançamos o pico mundial da produção de petróleo.

Toda vez que o preço do barril chegar a níveis como o de julho de 2008, quando atingiu 147 dólares, todos os preços vão subir, as pessoas vão deixar de consumir e o sistema vai parar.

Isso acontece porque quase tudo é feito de petróleo: celulares, fertilizantes, pesticidas, medicamentos, materiais de construção, energia elétrica e combustíveis. A produção de petróleo cresce, é verdade, mas a população também aumenta, principalmente com a expansão do número de consumidores de países emergentes, como é o caso do Brasil.

E o que está substituindo o modelo da Segunda Revolução Industrial?

As últimas décadas foram marcadas por uma profunda mudança na área de comunicações, fruto do computador pessoal e da internet. Hoje, há 2,3 bilhões de pessoas mandando os próprios vídeos, fotos e textos para a rede. E o mais incrível é que fizemos isso em 20 anos.

A internet é colaborativa e nela o poder não é mais hierárquico. Ao mesmo tempo, estamos evoluindo no sentido de ter uma geração de energia disseminada, feita no nível do indivíduo. Essa é a grande transformação no campo da energia.

Como é possível que as pessoas produzam energia individualmente?

Primeiro, é importante lembrar que há energias renováveis espalhadas por todo o mundo: solar, eólica, geotérmica, de biomassa e das ondas. Se as fontes renováveis estão em todo lugar, por que somente colhê-las em alguns poucos pontos?

Por que não converter os 191 milhões de prédios espalhados pelos países da União Europeia em miniusinas verdes, com painéis fotovoltaicos no teto, aerogeradores na lateral e conversores de lixo em biomassa? Os prédios são os principais consumidores de energia elétrica e em emissões de gás carbônico.

Isso já acontece em algum lugar?

Alguns prédios novos na Europa geram mais eletricidade do que usam, como é o caso de um complexo de escritórios em Paris. Quando esse modelo se disseminar, movimentará a economia francesa gerando milhões de empregos. A Alemanha, que é o motor econômico da Europa, já converteu 1 milhão de prédios em usinas parciais.

Esse processo criou 370 000 empregos diretos. Hoje cerca de 20% de sua matriz energética é de fontes renováveis. O objetivo é chegar a 35% em 2020. O encaixe perfeito ocorrerá quando for criada uma rede de distribuição que permita o compartilhamento dessas energias por todos os usuários. Mas não resta dúvida: a Europa já começou a Terceira Revolução Industrial.

Como funciona essa rede?

É aí que a revolução nas comunicações converge com a revolução na geração de energia. Já é possível digitalizar a rede de energia - que é unidirecional - e transformá-la em uma rede bidirecional, para que leve energia ao usuário final, mas também receba a energia produzida por ele.

Quando milhões e milhões de prédios estiverem gerando energia elétrica e estocando eletricidade - e já há meios para isso -, poderão usar um software para vender o excesso entre cidades ou países. A Alemanha já está testando uma rede elétrica inteligente em seis regiões.

Pense que todas as grandes montadoras terão veículos elétricos até 2015. No futuro, quando os prédios funcionarem como miniusinas de energia, os carros elétricos poderão ser abastecidos num desses edifícios que geram e armazenam energia, ou seja, em qualquer rua de qualquer cidade.

O senhor diz que devemos perseguir uma sociedade de baixo carbono. Isso significa que devemos parar de buscar petróleo?

Não. Precisaremos de petróleo para o que não temos substitutos, como lubrificantes, alguns processos químicos, produtos farmacêuticos, materiais de construção, fibras sintéticas e uma série de outros produtos. Não devemos é usar combustíveis fósseis para transporte e geração de energia elétrica.

Como o Brasil deveria lidar com o petróleo do pré-sal?


O Brasil tem a chance de usar parte dos recursos do petróleo para criar um modelo energético baseado em eletricidade verde. Caso contrário, o país estará voltado para o século passado. O Brasil pode ser a Arábia Saudita das energias renováveis. Tem mais potencial de geração de energia renovável que qualquer país do mundo.

Todo prédio brasileiro deveria ter painéis solares no teto e nas paredes externas. Deveria haver geradores de energia eólica por toda a costa. O Brasil pode liderar a Terceira Revolução Industrial na América Latina, como a Alemanha está fazendo na Europa. Apostar apenas no petróleo levaria o país a ser uma nação de segundo escalão. Gostaria de conversar sobre isso com a presidente Dilma Rousseff.

O que o senhor espera da Rio+20?

Creio que haverá boas discussões, mas a conclusão será que é preciso haver um plano econômico. Metas de redução de emissão de CO2 parecem uma punição. O que será visto com cada vez mais força, inclusive no Rio de Janeiro, é a discussão de um novo paradigma econômico.

Algo que trate de mudanças climáticas, das energias renováveis, mas que amplie nossa visão sobre o problema. Vale sempre ressaltar: a busca da eficiência energética cria empregos e negócios em larga escala.

Como o senhor responde a quem considera seu plano utópico?

As empresas e os governos com os quais trabalho não estão interessados em utopia. Estamos tentando criar um novo modelo econômico que seja viável, que nos liberte do carbono, que movimente a economia, que gere empregos.

Sabemos que funciona porque estamos testando. Daimler, GM, Toyota, Bosch, Siemens, Cisco, Philips e IBM são empresas utópicas? Elas estão fazendo exatamente o que estou falando. Em breve teremos carros movidos a hidrogênio. Isso é utopia?

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