Por: Jonas | 12 Abril 2012
No aniversário do desastre de Fukushima tinha que nascer no Japão uma “internacional antinuclear” entre os credos. E não aconteceu porque, diferente das outras religiões, a Igreja católica japonesa não se somou às manifestações contra a energia nuclear em Taipei, Taichung e Kaohsiung.
A reportagem é de Giacomo Galeazzi, publicada no sítio Vatican Insider, 03-04-2012. A tradução é do Cepat.
O primeiro aniversário do terremoto, que provocou a catástrofe atômica, tinha que se transformar numa espécie de “Assis ecóloga”, para pressionar o governo japonês a abandonar completamente os programas nucleares, a fechar as três centrais em funcionamento e bloquear a construção da quarta. Quase setenta denominações e confissões se somaram à convocação lançada pelos organizadores, coordenada pela religiosa budista Shih Chao-hwei. A Conferência Episcopal e as congregações católicas se negaram a juntar suas vozes à mobilização contra a energia nuclear. A Igreja do Japão segue as orientações que dá, nesta matéria, a Santa Sé e explica que o Vaticano pede aos bispos que mantenham uma posição neutra, em relação à energia nuclear.
O parágrafo 470 do Compêndio da Doutrina Social da Igreja, sobre a questão energética, convida a comunidade científica a “continuar” com o triplo compromisso de identificar novas fontes energéticas, desenvolver as alternativas e elevar os níveis de segurança da energia nuclear. “A Conferência Episcopal não tem nada contra se alguns representantes do clero, e fiéis católicos, se somarem, pessoalmente, nas iniciativas e protestos contra a energia nuclear”, assinala um porta-voz dos bispos japoneses. “A energia nuclear é um direito inalienável para o desenvolvimento econômico e social”, lembrou dom Giampaolo Crepaldi, arcebispo de Trieste e ex-secretário do Pontifício Conselho Justiça e Paz, no convênio organizado pela Società Gestione Impianti Nucleari (SOGIN).
Por outro lado, a Santa Sé encontra-se entre os fundadores do organismo da ONU para a energia nuclear (OIEA), no intuito de “promover o bem comum”, seguindo de perto “o processo de desarmamento e de não proliferação nuclear, além da investigação das possíveis aplicações pacíficas da tecnologia nuclear”. Garantida a segurança das instalações e dos depósitos, dotadas de regras severas na produção, distribuição e comércio da energia nuclear, parece-me que se concretizam os pressupostos para uma política energética integrada, que contemple, portanto, junto às formas de energia limpa, também a energia nuclear.
A Doutrina Social da Igreja, destacou dom Crepaldi, introduz a energia nuclear na “comum responsabilidade da humanidade para construir seu progresso futuro, no respeito, não, como às vezes se diz, dos direitos do ambiente, porque o ambiente entendido de maneira naturalista não tem direitos, mas, sim, os direitos dos homens, compreendendo os pobres de hoje, de amanhã, e as gerações futuras”. Durante anos, a Santa Sé ressaltou, repetidamente, a necessidade de usar a favor do desenvolvimento dos países pobres, os recursos derivados do cumprimento dos tratados sobre o desarme nuclear. Bento XVI, na Mensagem em razão da Jornada Mundial da Paz, em 2006, especificou que os reatores nucleares constituem “o único meio para destruir para sempre, convertendo-os em energia, o urânio e o plutônio, provenientes do desmantelamento das cabeças nucleares”. A Igreja “tem uma grande consideração pela ciência, pela técnica e pelo progresso humano” e, ao mesmo tempo, convida o homem a manter uma atitude de prudência, que não quer dizer incerteza, renúncia, paralisação das decisões, nostalgia do passado, pessimismo acrítico para o futuro, ficar esperando.
“Prudência – esclareceu o arcebispo Crepaldi – quer dizer proceder com decisão, mas após uma atenta avaliação do plano original de Deus para a humanidade, e é neste contexto que se deve enquadrar a problemática da energia nuclear”.
Uma posição que já foi expressa na Rádio Vaticana, pelo cardeal Renato Martino, no vigésimo aniversário da explosão em Chernobyl: “Quando se usam estas fontes de energia é necessário muita prudência e tomar medidas adequadas para evitar desastres. É como ensinar a uma criança usar uma faca: tem que prestar atenção porque pode tornar-se perigoso, porém se bem usada pode ser útil”. Com a esperança de “um aproximação não ideológica ao tema da energia nuclear, para uso civil”. Não ideológica, porém pragmática, não guiado por prejuízos a favor ou contra, sim dirigido a fazer dela um uso mais seguro. Levando-se em conta, também, a crise energética que “aperta cada vez mais a corda no pescoço dos países mais pobres”.
A energia atômica separa os ortodoxos (contrários) e os católicos (a favor). Enquanto de Istambul, o patriarca ortodoxo de Constantinopla, Bartolomeu I, lança tristes convocações, à comunidade internacional, para que se abandone definitivamente o caminho da energia nuclear, sobretudo, depois do que aconteceu no desastre japonês, no Vaticano seguem sendo válidas as reflexões publicadas, em 2009, pelo Pontifício Conselho para a Justiça e a Paz.
Apesar da nítida condenação do uso das armas atômicas, a energia nuclear se qualifica como “um direito inalienável para o desenvolvimento econômico e social”. Em conclusão, a presença e o uso da energia proveniente das centrais de última geração, muito seguras e protegidas, segue sendo uma oportunidade para os países que decidem adotar este caminho energético. Precisamente, foi o então presidente do dicastério de Justiça e Paz, cardeal Martino, que organizou uma reunião internacional, de portas fechadas, com a participação de cientistas, físicos e especialistas na matéria. A jornada de estudo e de debate serviu para adquirir conhecimento e informação, com a finalidade de estender uma avaliação que pudesse servir de orientação para o uso e consumo interno. O objetivo era dar aos bispos, desejosos de conhecer a posição da Igreja, um ponto de vista unívoco.
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Vaticano atômico. Desvanece-se a “santa aliança” contra a energia nuclear - Instituto Humanitas Unisinos - IHU