18 Janeiro 2012
À medida que as economias asiáticas reduzem a disparidade em relação aos padrões de vida ocidental, uma pergunta estranha permanece à espreita, sob o seu progresso aparentemente espetacular. Poderão os asiáticos desfrutar padrões de vida ocidentais sem destruir o planeta?
A reportagem é do Financial Times e reproduzida pelo jornal Valor, 18-01-2012.
Chandran Nair, autor de "Consumptionomics", um livro que questiona a sustentabilidade do modelo de crescimento importado do Ocidente, argumenta que não. Suas opiniões são controversas. Sugerir que os asiáticos devem abster-se de um estilo de vida ocidental seria considerado por muitos como uma afronta às aspirações perfeitamente legítimas e esperadas há demasiado tempo.
Mas Nair, um malaio, diz que isso é negar a realidade. Como podem todos, na China ou na Índia, comer sushi como os japoneses ou dirigir automóveis como os americanos, pergunta ele, sem esgotar os mares de seus peixes e os desertos de seu petróleo? O capitalismo ocidental, diz ele, construiu seu nível de vida elevado com base em recursos abundantes, supridos, em parte, pelo colonialismo. Os Estados Unidos tinham pouca gente e recursos aparentemente ilimitados, o oposto do que hoje é verdade na Ásia.
A resposta, diz Nair, é atribuir adequadamente preços aos recursos naturais. Você pode possuir um carro, mas apenas se pagar as estradas por onde trafega e a gasolina (não subsidiada) que consome. Essa é uma mensagem clara tanto para os ocidentais como, cada vez mais, para os asiáticos, muitos dos quais estão começando a achar que um estilo de vida ocidental é um direito de nascença.
Amartya Sen, agraciado com o Nobel de Economia, argumenta a partir de uma perspectiva distinta, que os asiáticos precisam redefinir o tipo de crescimento que desejam. Num ensaio publicado pela revista "Outlook" e escrito em parceria com Jean Drèze, um economista especializado em desenvolvimento, ele escreve que "o crescimento econômico não é constitutivamente a mesma coisa que desenvolvimento". A Índia vem crescendo fortemente há 20 anos, mas "o progresso das condições de vida para as pessoas comuns, ao contrário do que ocorre com uma minoria favorecida, tem sido terrivelmente lento". O crescimento pode ser útil. Mas sem políticas públicas para garantir que os frutos desse crescimento melhorem a nutrição, a saúde e a educação, ele tem escassa relevância, diz ele.
O reconhecimento de que 20 anos de crescimento tiveram um impacto mínimo sobre a vida de 800 milhões de indianos está por trás da posição de Sonia Gandhi, que defende um projeto de lei de segurança alimentar para subsidiar a compra de comida por cerca de dois terços da população. Se essa iniciativa da líder do governista Partido do Congresso é um passo vital para um desenvolvimento mais equitativo ou uma fantasia socialista que destruirá as finanças do governo é uma questão sob acalorado debate.
Esses argumentos se encaixam perfeitamente com o temor de Nair, de que a maioria dos asiáticos está "comprando" uma fantasia capitalista. "Eles foram ao Ocidente e compraram a ideia de que a riqueza vai se infiltrando gradualmente, de cima para baixo", diz ele. "Mas o molho é muito espesso e não existe em quantidade suficiente para todos."
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Região discute se pode crescer sem agredir planeta - Instituto Humanitas Unisinos - IHU