05 Janeiro 2012
A energia solar é uma fonte de energia limpa. Mas nessa parte árida do nordeste da Índia ela também pode ser uma fonte poeirenta.
A reportagem é de Vikas Bajaj, publicada pelo The New York Times e reproduzida pelo Portal Uol, 04-01-2012.
Mais ou menos a cada cinco dias, num casamento de alta tecnologia com antiga, trabalhadores com espanadores de cabos longos limpam cada um dos 36 mil painéis solares numa instalação de 63 acres operada pela Azure Power. O local é um dos maiores exemplos do ambicioso plano da Índia para usar energia solar para ajudar a modernizar sua rede elétrica notoriamente insuficiente e reduzir sua dependência das usinas elétricas movidas a carvão.
A Azure Power tem um contrato para fornecer eletricidade gerada por energia solar para uma central do governo estadual. Inderpreet Wadhwa, diretor-executivo da Azure, prevê que dentro de alguns anos a energia solar será competitiva em preços com a eletricidade gerada convencionalmente na Índia.
“A eficiência da tecnologia solar continuará aumentando, e com o aumento da demanda de energia solar, o custo continuará a diminuir”, disse Wadhwa.
Há dois anos, os estrategistas políticos da Índia disseram que no ano 2020 aumentariam drasticamente o uso de energia solar no país, de praticamente nada para 20 mil megawatts – eletricidade suficiente para fornecer energia para o equivalente a 20 milhões de lares norte-americanos modernos. Muitos analistas disseram que isso é impossível. Mas, agora aqueles que duvidaram estão retirando suas palavras.
Dezenas de desenvolvedores como a Azure, por causa de subsídios agressivos do governo e uma queda grande no preço mundial dos painéis solares, estão cobrindo as planícies do nordeste da Índia – incluindo esse vilarejo de 2 mil pessoas – com painéis solares brilhantes.
Até agora, a Índia usa apenas cerca de 140 megawatts, incluindo 10 megawatts usados pela instalação da Azure, que podem fornecer energia suficiente para uma cidade de 50 mil pessoas, de acordo com a companhia. Mas os analistas dizem que a meta nacional de 20 mil megawatts é atingível, e a Índia atingirá esses números mesmo alguns anos antes de 2020.
“Os preços caíram e de repente as coisas que pareciam impossíveis se tornaram possíveis”, disse Tobias Engelmeier, diretor administrativo da Bridge to India, uma firma de pesquisa e consultoria sediada em Nova Déli.
Fabricantes chineses como a Suntech Power e Yingli Green Energy ajudaram a liderar a queda no custo dos painéis solares. As firmas aumentaram agressivamente a produção de painéis e cortaram os custos este ano de cerca de 30% para 40%, para menos de US$1 por watt.
Os desenvolvedores de usinas solares na Índia, entretanto, mostraram uma preferência por células solares mais avançadas, de “filmes finos”, oferecidas por fornecedores nos Estados Unidos, Taiwan e Europa. A maior fornecedora norte-americana para a Índia é a First Solar, localizada em Tempe, Arizona.
A Índia não tem uma grande indústria manufatureira de painéis solares, mas está tentando desenvolver uma, e a China está mostrando um novo interesse na crescente demanda da Índia. A Suntech Power da China vendeu os painéis que estão sendo usados na instalação da Azure, que foi inaugurada em junho.
Executivos do setor atribuem a expansão da energia solar na Índia às políticas do governo, um elogio incomum porque normalmente o setor empresarial critica as regulações da Índia dizendo que há muita burocracia.
Durante a última década, a Índia abriu o setor de geração de energia elétrica estatal para o capital privado, enquanto deixou a transmissão, a distribuição e o estabelecimento de preços em grande parte nas mãos do governo. Países europeus subsidiam pesadamente a cara energia solar concordando em comprar a energia produzida durante décadas, mas os subsídios na Índia são muito menores e as operadoras de energia solar são forçadas a uma concorrência muito maior, ajudando a reduzir os custos.
Este mês, o governo realizou seu segundo leilão para determinar o preço pelo qual a companhia de energia estatal NTPC Vidyut Vyapar Nigam compraria energia solar para a rede nacional. O lance médio vencedor foi de 8,77 rúpias (16,5 centavos) por quilowatt-hora.
Isso é mais ou menos o dobro do preço da energia gerada pelo carvão, mas cerca de 27% mais baixo do que os lances vencedores no primeiro leilão feito há um ano. A Alemanha, maior usuária de energia solar, paga cerca de 17,94 centavos de euro (23 centavos de dólar) por quilowatt-hora.
A Índia ainda está bem atrás dos países europeus no uso de energia solar. A Alemanha, por exemplo, tinha 17 mil megawatts de capacidade de energia solar no final de 2010. Mas a Índia, que recebe mais de 300 dias de sol por ano, é um lugar muito mais adequado para gerar energia solar. E o fato de ter demorado para começar está agora beneficiando a Índia, uma vez que os preços dos painéis estão caindo, permitindo que ela gaste bem menos para montar usinas solares do que os países que foram pioneiros na tecnologia.
Além disso, nos leilões de energia solar, a NTPC não está criando contratos sem limites definidos. O último leilão, por exemplo, era para um total de apenas 350 megawatts, que cobrirão os custos do governo. A noção é de que o preço da energia solar continuará a cair, eventualmente aproximando-se do custo da eletricidade gerada por métodos convencionais.
A maioria das usinas elétricas são alimentadas por carvão e geram eletricidade a cerca de 4 rúpias (7,5 centavos de dólar) por quilowatt-hora. Mas, mesmo no leilão desse mês, os lances vencedores já eram comparáveis ao que os usuários industriais e comerciais da Índia pagam de fato pela energia elétrica – de 8 a 10 rúpias. E os custos da energia solar são competitivos em relação às usinas e geradores que usam combustíveis a base de petróleo, cuja eletricidade custa cerca de 10 rúpias por quilowatt-hora.
“Pelo menos durante o dia, os painéis fotovoltáicos competirão com a eletricidade gerada por petróleo mais do que qualquer coisa” na Índia, diz Cedric Philibert, analista sênior da Agência Internacional de Energia em Paris. “Essa comparação está se tornando melhor a cada mês.”
Além do governo federal, várias estados da Índia como Gujarat, onde Khadoda fica localizada, também estão comprando energia a taxas subsidiadas de companhias solares como a Azure Power.
Analistas não esperam que o desenvolvimento solar da Índia esteja livre de problemas. Eles dizem que alguns desenvolvedores provavelmente deram lances muito agressivos nos leilões federais e podem não ser mais capazes de construir suas usinas rápido o suficiente ou a um custo baixo o suficiente para sobreviver.
Consequentemente, ou exatamente porque seus lances foram meramente especulativos, alguns desenvolvedores estão tentando vender seus acordos energéticos com o governo para terceiros, dizem os analistas, embora esta mudança seja contra as regras do leilão.
Wadhwa, da Azure Power, disse que é quase inevitável que haja uma reorganização do setor solar na Índia.
“Inicialmente, muitos novos empreendedores entram no setor”, disse ele, “e então o mercado se estabelecerá com alguns deles que têm um compromisso de longo prazo” com o setor.
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Índia começa a realizar suas ambições no setor de energia solar - Instituto Humanitas Unisinos - IHU