19 Novembro 2011
Para matar irmã Valsa foram cinquenta, de noite, com machados e bastões. Disse-o a polícia e é preciso crer neles: é mais fácil condenar um bandido do que uma multidão de cinquenta De um assassino se pode chegar a um mandante, investigar os moventes. Mas, cinquenta assassinos fazem antes pensar num grupo de habitantes furiosos que se organizam sozinhos e se encarniçam contra a vítima também por motivos religiosos, num Estado como o Jharahkand (Índia norte-oriental) governado por extremistas hindus, fazendo em pedaços o seu corpo a ponto de torná-lo, como disseram os policiais, “intransportável”. Quem decidiu a execução de Valsa John, 53 anos, dos quais 24 vividos na congregação católica das Irmãs da Caridade, morta na noite do dia 17-11-2011, na porta de sua casinha alugada na pequena aldeia de Bachuwari, distrito de Pakur, talvez quisesse despistar as indagações.
A reportagem é de Michele Farina e publicada pelo jornal Corriere della Sera, 18-11-2011. A tradução é de Benno Dischinger.
A polícia tende a interpretar neste sentido também os cartazes dos guerrilheiros maoístas encontrados no lugar do delito. Irmã Valsa (foto) chamava os seus inimigos com outro nome: “a máfia do carvão”. Falava disso visitando à família no passado mês de agosto em Kochi (Estado de Kerala), e voltou a falar disso à irmã Leena no telefone (“estava muito preocupada”) poucas horas antes de ser massacrada.
Sim, o carvão o Jharhkand é o Estado que se vangloria das maiores reservas num país como a Índia sempre carente de fontes energéticas. Segundo a agência AP o negócio é controlado em larga escala por uma máfia que controla mineiras ilegais e vende ao mercado negro. E pouco se importa com as populações originárias como os Santhal, a antiga comunidade tribal da qual irmã Valsa se tornara paladina.
Tom Kawala, que trabalhou com ela 15 anos, contou à Asia News que a religiosa católica havia criado uma organização para frear a expropriação das terras e obter compensações das companhias mineradoras. “Há seis anos uma destas lobby procurou apropriar-se de 9 aldeias e irmã Valsa mobilizou os pobres. Os barões do carvão apresentaram 33 denúncias contra ela”.
Uma vida por um fio para uma mulher que parecia encaminhada para um destino diverso: após ter feito os votos começara a ensinar economia numa tranqüila escola do Sul. Decidira depois transferir-se entre as mineradoras (e a ilegalidade) a céu aberto do Jharhkand. As suas superioras haviam-na desaconselhado. Disse o irmão menor, Baby, que “lhe haviam oferecido um lugar melhor alhures, mas ela não o aceitou”. Não tinha às suas costas um convento, uma estrutura, um xerife bom, embora já há três anos denunciara às autoridades ser objeto de ameaças de morte. Ela fora presa brevemente em 2007 após um protesto.
Os perdedores não inspiram medo. O fato é que ela sabia vencer: em 2006 havia arrancado aos “barões” um pacote de compensações para uma comunidade tribal (dinheiro, postos de trabalho, escolas para as crianças) em troca da terra a escavar. O governo indiano somente em setembro de 2011 assumiu aquele caminho, com um tímido projeto de lei que obrigaria as companhias “a dividir com as populações locais os proventos do carvão”. Irmã Valsa foi pioneira de um direito sacrossanto.
No entanto há agora quem vê naquele acordo (que não havia contentado a todos) a causa de ressentimentos incubados por uma parte da população, ressentimentos que teriam estourado em linchagem na noite entre terça e quarta-feira.
Simon Marandi, um líder tribal, disse à mídia local que “na realidade a irmã trabalhava para a Panem Coal Mines (uma companhia mineradora, ndr). Era faminta por dinheiro”.
Eis, após os machados e os bastões, as lamas da infâmia. Parece, ao invés, que a última campanha da religiosa fosse precisamente uma mineradora daquela companhia que fornece carvão às centrais do Punjab. O corpo “intransportável” de Valsa John foi sepultado ontem de manhã longe das minas e dos explorados pelos quais deu a vida. Em seus funerais, na catedral de Dumka, estavam presentes 700 pessoas.
A reportagem é de Michele Farina e publicada pelo jornal Corriere della Sera, 18-11-2011. A tradução é de Benno Dischinger.
A polícia tende a interpretar neste sentido também os cartazes dos guerrilheiros maoístas encontrados no lugar do delito. Irmã Valsa (foto) chamava os seus inimigos com outro nome: “a máfia do carvão”. Falava disso visitando à família no passado mês de agosto em Kochi (Estado de Kerala), e voltou a falar disso à irmã Leena no telefone (“estava muito preocupada”) poucas horas antes de ser massacrada.
Sim, o carvão o Jharhkand é o Estado que se vangloria das maiores reservas num país como a Índia sempre carente de fontes energéticas. Segundo a agência AP o negócio é controlado em larga escala por uma máfia que controla mineiras ilegais e vende ao mercado negro. E pouco se importa com as populações originárias como os Santhal, a antiga comunidade tribal da qual irmã Valsa se tornara paladina.
Tom Kawala, que trabalhou com ela 15 anos, contou à Asia News que a religiosa católica havia criado uma organização para frear a expropriação das terras e obter compensações das companhias mineradoras. “Há seis anos uma destas lobby procurou apropriar-se de 9 aldeias e irmã Valsa mobilizou os pobres. Os barões do carvão apresentaram 33 denúncias contra ela”.
Uma vida por um fio para uma mulher que parecia encaminhada para um destino diverso: após ter feito os votos começara a ensinar economia numa tranqüila escola do Sul. Decidira depois transferir-se entre as mineradoras (e a ilegalidade) a céu aberto do Jharhkand. As suas superioras haviam-na desaconselhado. Disse o irmão menor, Baby, que “lhe haviam oferecido um lugar melhor alhures, mas ela não o aceitou”. Não tinha às suas costas um convento, uma estrutura, um xerife bom, embora já há três anos denunciara às autoridades ser objeto de ameaças de morte. Ela fora presa brevemente em 2007 após um protesto.
Os perdedores não inspiram medo. O fato é que ela sabia vencer: em 2006 havia arrancado aos “barões” um pacote de compensações para uma comunidade tribal (dinheiro, postos de trabalho, escolas para as crianças) em troca da terra a escavar. O governo indiano somente em setembro de 2011 assumiu aquele caminho, com um tímido projeto de lei que obrigaria as companhias “a dividir com as populações locais os proventos do carvão”. Irmã Valsa foi pioneira de um direito sacrossanto.
No entanto há agora quem vê naquele acordo (que não havia contentado a todos) a causa de ressentimentos incubados por uma parte da população, ressentimentos que teriam estourado em linchagem na noite entre terça e quarta-feira.
Simon Marandi, um líder tribal, disse à mídia local que “na realidade a irmã trabalhava para a Panem Coal Mines (uma companhia mineradora, ndr). Era faminta por dinheiro”.
Eis, após os machados e os bastões, as lamas da infâmia. Parece, ao invés, que a última campanha da religiosa fosse precisamente uma mineradora daquela companhia que fornece carvão às centrais do Punjab. O corpo “intransportável” de Valsa John foi sepultado ontem de manhã longe das minas e dos explorados pelos quais deu a vida. Em seus funerais, na catedral de Dumka, estavam presentes 700 pessoas.
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A irmã dos camponeses morta a golpes de machado - Instituto Humanitas Unisinos - IHU