30 Setembro 2011
A crise no governo Evo Morales que tem sua raiz na repressão à Oitava Marcha Indígena, continua. Ontem, a Central Operária Boliviana (COB) disse que se somará a mobilização indígena que está se reagrupando na localidade beniana de São Borja após a violenta repressão da polícia no domingo passado, da qual ainda há desaparecidos.
A reportagem é de Sebastián Ochoa e publicado pelo Página/12, 29-09-2011. A tradução é do Cepat.
O apoio majoritário da população aos agredidos deu-lhes força e anunciaram que apenas dialogarão com o governo quando chegarem ao Palácio Quemado. "Vamos retomar nossa marcha e apenas em La Paz aceitaremos o diálogo", disse Fernando Vargas Mósua, porta-voz dos indígenas, recuperando-se dos golpes que lhe deram os policiais quando já se encontra caido como se pode ver nas imagens da televisão.
Uma segunda marcha indígena se dirige até esta cidade proveniente de Oruro, encabeçada pelo Conselho Nacional de Ayllus e Markas de Qullasuyu (Conamaq) que reúne os povos quechua e aymara. Esta organização também tinha militantes (e desaparecidos) na coluna original da mobilização que atualmente se recompõe em São Borja.
Para aumentar o sofrimento do governo nacional, os policiais que participaram da ação repressiva começaram a falar subrepticiamente e sustentam que a ordem de bater nos índigenas veio diretamente do Poder Executivo. Dentro do gabinete de Morales, entretanto, ainda se busca pelo responsável da ação policial que deixou o primeiro presidente indígena num descrédito inédito diante da população.
Ontem, a cidade de La Paz ficou paralisada em função da marcha dos operários, indígenas, vizinhos do El Alto, estudantes, hippies e inclusive um grupo de religiosos Hare Krishna (os mais fashion do protesto). Mais de 50 mil pessoas inundaram as ruas com gritos de guerra contra Morales e seus ministros. Alguns levaram bandeiras bolivianas com tarjas negras pelos mortos da Oitava Marcha, fato ainda não reconhecido pelo governo.
Miriam Yubanore, vice-presidenta da Central dos Povos Étnicos Mojeños de Beni (Cpemb) disse que no acampamento onde foram reprimidos havia uma mulher e dois bebês mortos. Afirmou, em consonância com outros indígenas que a polícia desapareceu com os corpos. A dirigente está com o corpo coberto de hematomas. "Si éste es el cambio/ el cambio es una mierda" [Se esta é a mudança, é uma mudança de merda], gritavam milhares de manifestantes que carregavem várias bandeiras brancas nas quais havia um Patajú pintado, flor símbolo da marcha indígena que partiu no dia 15 de agosto passado da cidade de Trinidad, em Beni.
A finalidade da marcha de ontem era entrar na Praça Murillo (local correlato à Praça de Maio), mas as ruas de acesso estavam fechadas por correntes, valas, filas de policias com escudos e motos. "Restam dois caminhos para a polícia: unir-se ao seu povo ou ser seu assassino", cantavam os manifestantes. Os policiais se mantiveram imóveis e eretos até que um grupo de jovens tentou romper a barreira e então fizeram uso de seus escudos e gases.
Muito disciplinado marchava um grupo de mineiros com seus capacetes reluzentes. De vez em quando paravam e tapavam os ouvidos. O melhor era imitá-los antes que o estouro de dinamites sacudisse os cabelos. À frente da coluna de El Monte ia Pedro Montes, secretário executivo da COB. "Estamos com raiva. Esta é a resposta do povo diante do massacre criminoso contra os irmãos indígenas. Isto tem que ser pago com prisão e os delinquentes responsáveis dever ir para detrás das grades", disse Montes a esse jornal.
"Falamos aos companheiros que não estão sós. A COB, as organizações populares e cívicas estão com vocês. Se temos que marchar com vocês, iremos fazê-lo. E se o governo não obedece ao povo boliviano, vamos ganhar as ruas", disse Montes na Praça São Francisco ao final da mobilização. Nessa sexta-feira, a central operária definirá se envia uma delegação para se somar aos que farão parte da marcha e estão em São Borja.
No domingo, cem indígenas da Conamaq irão reforçar a Oitava Marcha que está decidida a chegar em La Paz. Essa organização nacional e a Confederação dos Povos Indígenas da Bolívia (Cidob) que representam os 36 povos originários do país começaram a marcha indígena. As mesmas têm uma pauta de 16 reivindicações para o presidente. A primeira exige que o território Indígena Parque Nacional Isiboro Sécure (Tipnis) não seja cortado por uma estrada como deseja o governo.
Até o momento, em função da repressão contra a Oitava Marcha, deixaram o governo três ministros: o da Defesa, Cecília Chacón; o de governo, Sacha Llorenti; e o vice-ministro do Interior, Marcos Farfán, além deles alguns funcionários do segundo escalão. Os indígenas exigem ainda as renúncias do ministro da Presidência, Carlos Romero; o de Obras Públicas, Walter Delgadillo; e o do chanceler, Davi Choquehuanca.
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Indígenas retomarão marcha na Bolívia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU