01 Junho 2020
A “inovação” que igrejas abraçaram assim que celebrações litúrgicas foram bloqueadas em função do combate ao covid-19 e passaram a ofertar missas e cultos virtuais “não foi realmente inovação, foi adaptação”. Algumas das mudanças que viriam daqui a cinco, dez anos – como a normalização do trabalho remoto – chegaram em dias e a mudança do ministério centrado nas instalações físicas para o ministério domiciliar aconteceu em horas.
A reportagem é de Edelberto Behs, jornalista.
A análise é do ex advogado e pastor fundador da Igreja Connexus, Carey Nieuwhof, de Barrie, no Canadá, que mantém blog voltado à formação de lideranças religiosas, mudança e crescimento pessoal. O normal desapareceu e “uma das tendências mais emocionantes que surgiram até agora é ver as igrejas se concentrarem no ministério diário, não apenas no ministério dominical”, analisa.
No futuro, prevê o pastor, as igrejas em crescimento serão organizações digitais com localizações físicas. Com a mudança para a igreja digital como padrão, “muitos líderes perceberão que seu foco no ministério terá que mudar de suas instalações para as casas das pessoas”, vaticina.
Nieuwhof assinala que “fazer com que as pessoas assumam a responsabilidade por seu próprio crescimento espiritual, pelo evangelismo, pelo discipulado e até pela liderança de suas próprias famílias só pode ser uma coisa boa”. No futuro, prossegue, os líderes da igreja se verão mais como facilitadores, ajudando as pessoas a aprofundar sua fé nos lares, nos bairros e nos locais de trabalho. “A missão da igreja sempre foi conectar pessoas a Deus e umas às outras. A igreja sempre foi sobre isso, pessoalmente ou online”, lembra.
Mas ele considera surpreendente que, às vezes, as conexões digitais são tão ou mais significativas que as conexões pessoais. “Sei que haverá muitos que se opõem a isso, mas é tolice ignorar o fato de que as pessoas se conectam mais facilmente online e muitas vezes admitem a verdade mais prontamente online do que presencialmente”.
O líder da Connexus destaca que as igrejas ainda terão reuniões e serviços físicos pós-pandemia, mas “na futura igreja, se você se importar com as pessoas, vai se preocupar com a igreja digital”. O crescimento e o impacto online são “subprodutos do trabalho duro de ajudar as pessoas todos os dias”, afirma.
A lógica de Nieuwhof é simples: “Se as pessoas vivem todos os dias precisando de esperança e recursos para viver sua fé, ou encontrar fé, todos os dias, os líderes da igreja precisam começar a acompanhar as pessoas todos os dias”. Ele recomenda: “Embora sua missão nunca mude, seus métodos terão que mudar”.
Inovar, experimentar, “faça sua missão mais importante que seus métodos”, admoesta. A crise pode ser um acelerador, mas também é o berço de inovações e avanços. E conclui: “Colocar a igreja digital de volta à prateleira no novo normal é ignorar a maior oportunidade que a igreja hoje tem para alcançar as pessoas”.
Leia mais
- Covid-19: o início de uma igreja virtual?
- Se não mudar com a vida, a liturgia se torna um mero teatro
- Igrejas fechadas são antecipação do futuro, alerta Tomáš Halík
- Igreja após o vírus: futuro plural
- Igrejas e vírus: balanço intermediário
- Uma “agenda digital” para a Igreja. Artigo de Luca Peyron
- Catolicismo digital
- “As Igrejas domésticas não podem existir sem a dinâmica da grande Igreja”
- “A pandemia mudará a ordem e o sistema mundial, nossa tarefa é tentar que seja para melhor”. Entrevista com Augusto Zampini, da Comissão Vaticana Covid-19
- Em vez de missa on-line, rezo ‘A missa sobre o mundo’, de Teilhard
- E se alguns preferissem “algo diferente” da missa?
- Enquanto o coronavírus mantém os fiéis em casa, clero cristão debate a Comunhão online
- Coronavírus e a importância das atividades religiosas em casa
FECHAR
Comunicar erro.
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Pós pandemia igrejas terão que se voltar mais ao evangelismo digital - Instituto Humanitas Unisinos - IHU