09 Março 2018
A visita do Papa ao Conselho Mundial de Igrejas em Genebra em 21 de junho "quer ser um sinal de esperança para o mundo: mostrar que é possível viver as diferenças de forma reconciliada”. Isso é o que explica o secretário-geral do CMI, Rev. Olaf Fykse Tveit, que acrescentou: "Os desafios hoje são muito complexos para que possamos resolvê-los sozinho. Nossa maior contribuição hoje é atuar para a humanidade, e fazê-lo juntos e com quem compartilha conosco dos nossos valores. É certamente importante iniciar processos de mudança no âmbito político, mas as mudanças partem das pessoas e das comunidades e as Igrejas atuam de forma significativa”.
A entrevista é de M. Chiara Biagioni, publicada por SIR, 07-03-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.
Os trabalhos estão em curso em Genebra, na sede do Conselho Mundial de Igrejas (CMI), aonde em 21 de junho chegará Papa Francisco. Os trabalhos são para definir os detalhes da visita e ainda é cedo para dar detalhes. Uma coisa é certa: a visita do Papa Francisco ao CMI é "um sinal de esperança para a paz e a justiça em um mundo destroçado e dividido". Falamos com o secretário-geral do CMI, Rev. Olav Fykse Tveit, um dia após à conferência de imprensa que se realizou em Roma na Sala de imprensa do Vaticano, à qual o pastor Tveit participou, juntamente com o cardeal Kurt Koch, presidente do Pontifício Conselho para a unidade dos cristãos. A visita do Papa marcará o 70º aniversário da organização ecumênica oficialmente fundada em 1948, sobre os escombros da II Guerra Mundial, como um sinal de reconciliação e unidade. Hoje reúne 348 Igrejas protestantes, luteranas, anglicanas e ortodoxas, representando 500 milhões de cristãos. Lema da visita: "Caminhando, rezando, trabalhando juntos".
Setenta anos de história. Pode-se dizer que a fundação do CMI corresponde ao nascimento do movimento ecumênico. Era 1948 e a Europa estava saindo da Segunda Guerra Mundial. Qual era o "sonho" que levou os padres fundadores para a criação de um Conselho Mundial de Igrejas?
Acredito que seja mais exato dizer que o nascimento remonta bem antes da Segunda Guerra Mundial. Já em 1910, em Edimburgo, uma conferência missionária chamou as Igrejas para dar um testemunho comum de Cristo no mundo e encontrar formas para unidade nesse propósito. Foi em 1920 que o então Patriarca Ecumênico de Constantinopla incentivou as Igrejas para que trabalhassem para reforçar entre si uma cooperação mais estreita, e em 1937 os líderes de várias Igrejas cristãs protestantes, anglicanos e ortodoxas concordaram em constituir um Conselho. Por isso, quando em 1948 foi constituído o CMI, o sonho de uma unidade visível da Igreja já estava vivo há bastante tempo. Mas quando esse sonho se tornou realidade, a Europa estava emergindo do desastre de uma guerra mundial e os cristãos sabiam que estavam divididos e que também seu testemunho cristão no mundo estava dividido. O CMI nasceu dentro desse contexto: construir a paz sobre os escombros da guerra e dar testemunho juntos a Cristo em um mundo dividido.
A ideia de criar um Conselho de Igrejas era o caminho para que aquele sonho se tornasse realidade.
O contexto atual é muito semelhante. O mundo está dilacerado por conflitos, o papa Francisco fala inclusive de uma terceira guerra mundial em pedaços. Aquele sonho de unidade visível das Igrejas ainda está vivo?
Certamente, e vemos todos os dias. Vemos isso naqueles que trabalham para a unidade. Vemos isso no que as igrejas fazem juntas, em muitas áreas de conflito no mundo. Vemos isso naqueles que acreditam nos valores do Reino de Deus em um mundo dividido. Essa visão de unidade não é só para a Igreja, mas para toda a humanidade.
Muitas são as frentes "quentes" em que o CMI está envolvido: a Síria, a Coreia do Norte, o Sudão do Sul ... Qual é a missão do CMI hoje?
É uma contribuição para a reconciliação e a paz, comprometendo-se nos diferentes contextos de conflito, onde o homem mata o homem e a vida humana parece ter perdido valor. Tentamos nesses contextos incentivar as pessoas a encontrar soluções não violentas para os conflitos. O CMI considera sua missão, hoje, apoiar as Igrejas nesses contextos de tensão, de modo que possam ser capazes de contribuir para construir a paz, especialmente quando está ameaçada, como na Síria, Coréia do Norte, Sudão do Sul, Nigéria. Mas, também na Europa, encorajando os cristãos a serem operadores da paz, construtores de pontes.
O Papa Francisco estará em Genebra para o 70º aniversário do CMI. Foi convidado por vocês ou foi ele que quis estar presente?
Nós o convidamos, porque quisemos aproveitar essa oportunidade, ou seja, o 70º aniversário do CMI, para reiterar a relação estreita que existe entre as Igrejas individuais e com a Igreja Católica, como ele sempre fez em comunicados, cartas e, especialmente, com o seu empenho pessoal para cooperar em muitos níveis. Essa visita será mais uma demonstração das Igrejas de todo o mundo que estamos juntas em nossa missão e em nosso serviço à humanidade. Não é por acaso que o lema escolhido para essa visita é: "Caminhando, rezando, trabalhando juntos".
Por que essa visita é importante para vocês?
É importante para cada uma das 348 Igrejas de todo o mundo que pertencem ao CMI. É importante ver os numerosos frutos do trabalho que tem sido realizado hoje no caminho rumo à unidade ao longo destes 70 anos. A Igreja Católica, embora não faça parte do CMI, tem feito muito. Essa visita, portanto, afirmará a realidade, o que somos e aonde chegamos, mas também será um convite para o futuro, talvez uma inspiração para continuar esse trabalho e essa jornada. Também quer ser um sinal de esperança para o mundo: mostrar que é possível viver as diferenças de forma reconciliada.
Em Lund o Papa Francisco assinou com a Federação Luterana Mundial um compromisso de cooperação social. Está programado algo semelhante em Genebra. Falaram que vocês lançarão uma iniciativa conjunta pela paz. Você pode nos dizer algo mais? Em que direção vocês estão trabalhando?
Os detalhes da visita serão divulgados mais tarde, inclusive porque ainda estamos trabalhando. Comparado com Lund, este será um evento diferente. Em Lund os católicos e os luteranos reuniram-se pela primeira vez para comemorar os 500 anos da Reforma de Lutero. O CMI é um Conselho de Igrejas. Somos chamados a encontrar formas de fazer as coisas juntos.
O mundo está atravessando um dos períodos mais críticos da história humana. Conflitos, migrações, ameaças nucleares, alterações climáticas. O que podem fazer as igrejas juntas?
Se me permite, vou inverter a questão porque não há nada que as igrejas não possam fazer juntas. Por que não deveríamos atuar juntas para lutar contra a pobreza? Por que não deveríamos trabalhar juntas nas negociações e pela paz? Por que não deveríamos trabalhar juntas para fortalecer as relações entre os cristãos e os muçulmanos? Por que não deveríamos trabalhar juntas pela paz em Jerusalém? Por que não deveríamos nos esforçar juntas para superar a crise das mudanças climáticas e por que não nos deveríamos unir para garantir aos nossos filhos um futuro melhor? Com isso quero dizer que os desafios de hoje são muito complexos para que possamos resolvê-los sozinhos.
A nossa maior contribuição, hoje, é atuar pela humanidade, e fazê-lo juntos e com quem compartilha conosco dos nossos valores.
É certamente importante iniciar processos de mudança no âmbito político, mas as mudanças partem das pessoas e das comunidades e as Igrejas atuam de forma significativa.
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A visita do Papa ao CMI. Olav Fykse Tveit: "É possível viver as diferenças de forma reconciliada" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU