30 Agosto 2016
Impactos sobre a vegetação ainda provocam alterações no clima e põem em risco grande quantidade de espécies animais
A estação da seca entre julho e setembro, aliada à formação de bolsões de calor nas regiões Norte e Centro-Oeste, favorecem a ocorrência de queimadas que prejudicam especialmente a flora e a fauna da Amazônia e do Cerrado.
A reportagem é publicada por Portal Brasil, 26-08-2016.
Um estudo do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostra que são as vegetações destes dois biomas as mais afetadas pelos incêndios florestais: 82,45% dos 3.568 focos registrados já em maio estavam concentrados nessas regiões.
O chefe do centro especializado do PrevFogo, ligado ao Ibama, Gabriel Zacharias, afirma que a devastação das propriedades pela a agricultura para renovação da pastagem e trocas de lavouras contribui para esse índice.
“Na região amazônica tem o desmatamento que é um problema famoso. O uso do fogo é para desmatar, o que acaba agravando o problema, assim como em grande área de Cerrado”, afirmou. Contudo, ele diz que a situação “já era esperada”.
Segundo Zacharias, “esse ano estamos com um agravamento do período da seca, por causa do final do El Niño e com isso há dois períodos acumulados de pouca chuva, desde o segundo semestre do ano passado. Esse aumento do período seco fez com que a vegetação ficasse mais seca, a menor disponibilidade de água, gerou o maior potencial para as queimadas”, explicou.
Em um relatório do PrevFogo produzido em 2011 há o registro do trabalho de combate nas áreas prioritárias para o Ibama. Na ocasião, uma das áreas atingidas por queimadas foi o Parque Nacional dos Campos Amazônicos, em Rondônia (RO). O fogo só foi extinto pelos 45 brigadistas depois de 18 dias de operação no local, que teve 33.800 hectares de área devastada.
O fogo que atinge essas regiões acaba por comprometer ainda a qualidade do solo, cujas camadas superiores perdem nutrientes e matéria orgânica e se tornam mais pobres e menos eficazes para plantações.
O impacto sobre a vegetação provoca consequências também sobre o clima, já que com a diminuição da área plantada há a queda na umidade do ar e redução das chuvas. “Quando chove a água não infiltra e logo escorre para os rios levando a matéria orgânica da superfície do solo, o que gera o assoreamento”, destaca o coordenador de emergências ambientais do Instituto Chico Mendes (ICMBio), Cristian Berlink. Ele lembra ainda que a degradação vegetal também põe em risco as espécies animais.
“Os incêndios têm alterado a vegetação e isso tira o habitat dos animais, reduz a oferta de alimentação e impacta na reprodução deles, porque não têm lugar para se procriar e alimentar os filhotes”. Berlink ressalta ainda que os mais vulneráveis ao fogo são os animais de pequeno porte, como mamíferos e cobras que se deslocam mais devagar. Outros, como macacos, podem acabar morrendo nas florestas devastadas pela falta de alimentos.
Em todo o ano passado, foram queimados 1,18 milhão de hectares em unidades de conservação federais de todo o País, que abrangem parques nacionais, reservas biológicas e áreas de proteção ambiental. Segundo Berlinck, essas áreas de florestas podem levar até cem anos para recuperar o ambiente que foi destruído pelas chamas. “A vegetação cresce lentamente, mas há perda de espécies que não conseguem voltar”, completa.
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Amazônia e Cerrado são os biomas mais atingidos por queimadas no inverno - Instituto Humanitas Unisinos - IHU