13 Setembro 2018
Sentença destaca que o Ibama deve reavaliar licenças já concedidas e incluir estudo dos impactos a indígenas.
A reportagem foi publicada por MPF, 11-09-2018.
A Justiça Federal determinou que o licenciamento ambiental do projeto de mineração de ouro Volta Grande, da empresa Belo Sun no rio Xingu, no sudeste do Pará, deve ser feito pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), e não pelo governo do Estado.
Além de atingir Terras Indígenas, os impactos socioambientais do projeto da mineradora canadense no município de Senador José Porfírio estão associados e potencializados pelos impactos – até hoje não reduzidos ou sequer dimensionados – da construção da hidrelétrica de Belo Monte, projeto licenciado pelo Ibama, conforme argumentou o Ministério Público Federal (MPF), autor da ação.
Assinada pelo juiz federal Paulo Mitsuru Shiokawa Neto no último dia 3, a sentença define a competência para licenciar e determina que, para prosseguir o licenciamento, o Ibama deve reavaliar as licenças já concedidas, de modo a garantir a regularidade do processo. Para isso, o Ibama pode solicitar novos documentos, estudos ou esclarecimentos.
O juiz federal registrou na decisão que o Ibama também deve cobrar a apresentação dos estudos de impactos aos indígenas, o chamado componente indígena. Essa obrigação foi estabelecida em outra sentença da Justiça Federal de Altamira, publicada em 2014 e confirmada em acórdão do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), de Brasília (DF), em 2017, que também determinou a realização de consulta prévia, livre e informada aos indígenas.
Riscos evidentes
O juiz federal Paulo Mitsuru Shiokawa Neto considerou que o impacto nas Terras Indígenas é “indubitável”, e que esse fato é suficiente para atrair a competência do Ibama. “(…) dos pontos traçados pelo MPF, a questão indígena restou mais que evidenciada que haverá impactos diretos em suas terras, cultura e meios de vida, fato este que o próprio Tribunal Regional Federal da 1ª Região já reconheceu em sede de apelação (…)”, observou o juiz federal.
Sobre os riscos de impactos ao rio Xingu, o juiz federal considera que esse é um fato “incontroverso” pela análise dos estudos e relatórios de impactos ambientais apresentados. “(…) revela-se patente que a atividade de exploração minerária do empreendedor terá fortes impactos sobre o rio Xingu”, registra trecho da sentença. “E aqui cabe observar que o real dimensionamento da extensão de tais impactos somente poderá ser devidamente compreendido a partir da análise em conjunto com os impactos levados a efeito pelo empreendimento UHE Belo Monte”, frisa o juiz.
Em relação aos impactos sinérgicos entre o projeto Belo Monte e o projeto de mineração da Belo Sun – chamado projeto Volta Grande –, a sentença aponta que, apesar de a empresa, o Estado do Pará e o Ibama alegarem que essa superposição de impactos não ocorrerá, “(…) os fatos revelam o contrário, ou seja, o empreendimento será em local que já houve alteração ambiental pelo empreendimento UHE Belo Monte e um novo empreendimento na mesma circunvizinhança certamente repercutirá no trecho denominado trecho de vazão reduzida [trecho do Xingu que terá 80% da água desviada para movimentar as turbinas da usina]”.
“É importante observar, ainda, que, em se tratando de Direito Ambiental, a tutela não se dirige apenas a casos de ocorrência efetiva de dano. Pelo contrário, busca-se justamente proteger o meio ambiente da iminência ou probabilidade de dano, evitando-se que ele venha a ocorrer, pois o dano ambiental é, como regra, irreversível”, destaca o juiz federal.
Processo nº 0001813-37.2014.4.01.3903
Leia mais
- Indígenas lançam relatório e contrapõem dados “oficiais” sobre impactos de Belo Monte
- Xingu, o rio que pulsa em nós: Juruna denunciam impactos de Belo Monte
- Belo Monte coloca biodiversidade do Xingu em risco
- PF vê indícios de corrupção e lavagem de dinheiro de Edison Lobão e Jader Barbalho na obra de Belo Monte; senadores negam
- ‘Vi crianças indígenas em Belo Monte brincando de chutar frango Sadia’
- A Veneza de Belo Monte
- Tribunal mantém anulação de acordo da Eletrobras com empreiteiras para estudos de Belo Monte
- Belo Monte, Pará. Empresa canadense desembarca da mineradora Belo Sun
- Usina de Belo Monte põe em risco peixes raros do Rio Xingu
- Ribeirinhos atingidos por Belo Monte exigem retomar seu território
- Estudo estima que, em apenas seis meses, cerca de 100 milhões de árvores foram desmatadas na Bacia do Rio Xingu
- Em seis meses, 100 milhões de árvores foram derrubadas no Xingu
- Laudo que investiga contaminação no rio Xingu em Altamira deve sair na próxima semana
- Desmatamento na bacia do Xingu dobra entre março e abril; área desmatada chega a 12 mil hectares no mês
- Parque Indígena do Xingu comemora 57 anos
FECHAR
Comunicar erro.
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Justiça determina federalização do licenciamento de projeto da mineradora Belo Sun no rio Xingu, no Pará - Instituto Humanitas Unisinos - IHU