10 Julho 2013
Ajoelhado ao lado de um altar que é um barco, para pedir perdão a Deus por ter ignorado 20 anos de genocídio no mar. "De agora em diante, ninguém poderá fingir que não sabe", explicam na comitiva papal. Um "mea culpa" de tons muito claros pelas responsabilidades do mundo e da Igreja na tragédia sem fim dos boat people.
A reportagem é de Giacomo Galeazzi, publicada no jornal La Stampa, 08-07-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A primeira viagem de Francisco visa a sacudir o Ocidente da indiferença diante do holocausto no mar. Francisco celebrou o funeral das 25 mil vítimas das "viagens da esperança", abalando todo protocolo para encontrar os sobreviventes e prestar homenagem ao cemitério em que as mãos misericordiosas do pároco e dos pescadores sepultaram os corpos devolvidos pelo mar.
De uma lancha, Bergoglio joga uma coroa à "Porta da Europa", depois o abraço aos refugiados, a celebração no campo de esportes e a pausa na igreja de São Geraldo. Ao presidente da Conferência Episcopal Italiana, Bagnasco, foi negado o ingresso no centro, mas para Francisco não há nenhum programa que o contenha. Cada gesto é uma advertência contra a mundanidade, incluindo a escolha de rezar missa com um cálice de madeira.
Na homilia do Advento de 1493, Savonarola trovejou contra o luxo e a corrupção na hierarquia eclesiástica. Ele estigmatizou que, nas origens da Igreja, os cálices eram de madeira, e os prelados, de ouro, enquanto, no seu tempo, os cálices eram de ouro, e os prelados, de madeira. Savonarola foi primeiro excomungado, depois queimado como herege e cismático.
Agora, cinco séculos depois, é o papa que volta ao cálice de madeira e que condena a Cúria carreirista e sedenta de poder ("não se difunde o Evangelho com o dinheiro").
Para a primeira viagem do pontificado, o papa fez sua rota rumo aos mortos sem nome. Ainda incrédulos com a notícia, os fiéis o esperam em oração, em vigília na paróquia. Há dias, toda a população está em agitação por causa da chegada de Bergoglio, filho de imigrantes italianos na Argentina.
O papa que sonha com uma "Igreja pobre e para os pobres" escolheu os imigrantes e a população que carrega o peso da acolhida. Gestos e mensagens que falam também à Igreja italiana, indicando o estilo e as prioridades que o bispo de Roma pretende dar à missão.
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Savonarola e o cálice de madeira para recordar 25 mil mortos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU