Ensino à Distância é fraco e fácil? Entrevista especial com Marta Campos Maia

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14 Fevereiro 2010

O mito de que a educação à distância é fraca ou fácil é desvendado pela professora Marta Campos Maia. Segundo ela, o ensino à distância “tende a aumentar a possibilidade do aluno aprender, uma vez que somos seres humanos diferentes e temos capacidades e inteligências diferentes. E mais: ele permite, pela flexibilidade, que você estude em qualquer local e que veja e reveja aquela disciplina quantas vezes quiser”. Na Europa, inclusive, os alunos dos cursos realizados à distância são mais valorizados no mercado, “eles conseguem fazer um autoestudo, sabem estudar de forma autônoma, organizar-se melhor, resolvem problemas inesperados. Eles estão muitos mais preparados para este mundo moderno e para a demanda do mercado atual”, afirmou em entrevista concedida por telefone à IHU On-Line.

Doutora em Administração de empresas pela Fundação Getulio Vargas de São Paulo, onde atualmente é professora, Marta Campos Maia também dá aulas na Associação Educacional Toledo, na Fundação de Ensino Eurípedes Soares da Rocha e na Fundação Armando Álvares Penteado. Desenvolve a pesquisa O Papel da Educação à Distância como Recurso de Nivelamento em Cursos de Pós-graduação.

Confira a entrevista.

IHU On-Line – Qual a velocidade com que a educação à distância vem crescendo no país?

Marta Campos Maia – Vem crescendo muito rápido. Em 2004, quando o primeiro censo da educação à distância foi feito, havia 166 instituições credenciadas pelo Ministério da Educação e 309 mil alunos inscritos. No último levantamento, pulamos para 376 instituições, um crescimento de 127%. O número de alunos subiu para um milhão e 75 mil. É um crescimento gigantesco, visto que esse tipo de ensino é muito recente. O crescimento é entre 90% e 100% anualmente.

IHU On-Line – Quais são os aspectos positivos do EAD e os pontos negativos em sua opinião?

Marta Campos Maia – Eu li um artigo recente que ajuda a responder essa questão. O autor explica muito bem as razões do não funcionamento da escola atual. Ele diz que nós oferecemos uma educação em todas as escolas, em todos os níveis, no padrão médio. Estabelecemos um padrão médio de aluno e atendemos aquele padrão muitíssimo bem. Mas não atendemos quem está acima do padrão e nem quem tem dificuldade. Ele também afirma que o ensino mediado pela tecnologia tende a aumentar a possibilidade do aluno aprender, uma vez que somos seres humanos diferentes e temos capacidades e inteligências diferentes. E mais: ele permite, pela flexibilidade, que você estude em qualquer local e que veja e reveja aquela disciplina quantas vezes quiser.

Além disso: a questão geográfica é algo importantíssimo no Brasil. Segundo o ministro da educação, em 2006, 70% do território nacional não era atendido pelo Ensino Superior. Se oferecemos educação à distância, chegamos a pontos do país onde antes era inimaginável para uma pessoa estudar. Estamos aumentando a oferta de ensino para essas pessoas que antes teriam que mudar de cidade, fazer viagens longas etc.


O aluno que faz um curso à distância no Brasil é discriminado. Essa é uma desvantagem. Isso porque há desconhecimento sobre a área e, principalmente, que o processo funciona e que o aluno de fato aprende. Na Europa, os alunos desse tipo de curso são muito mais disputados porque eles conseguem fazer um autoestudo, sabem estudar de forma autônoma, organizar-se melhor, resolvem problemas inesperados. Eles estão muito mais preparados para este mundo moderno e para a demanda do mercado atual.

Hoje em dia, o aluno que faz graduação, à distância ou não, vai fazer o Enade de qualquer forma. É nesse momento que vai ocorrer a comparação de quem foi o melhor. Um estudo sobre isso já foi feito, em 2006, onde foi verificado que dos 13 cursos que existiam à distância na época, em sete deles, os alunos EAD foram melhores do que os de cursos presenciais.

Tem outras desvantagens, como, por exemplo, as turmas tendem a ser maiores no EAD. Como o ensino é medido por um tutor e não por um professor, isso pode ser um problema. O fato de o tutor ser ou não qualificado e receber ou conforme o seu trabalho são fatores que influenciam no aprendizado. São itens que os alunos precisam conferir quando vão se matricular num curso à distância.

IHU On-Line – Muitos afirmam que há um abuso no uso do EAD, que se tornou fonte fácil de recursos no mercado. Qual é a sua avaliação?

Marta Campos Maia – Se o curso é bem organizado, com projeto pedagógico adequado, com conteúdo bem estruturado, ele tende a se tornar um curso bastante exigente. É um mito dizer que o diploma obtido na educação à distância é mais fácil.

IHU On-Line – Cada vez mais os profissionais são exigidos a interagir com os novos recursos tecnológicos para além do uso da sala da aula. Quais são os impactos na vida do profissional da área da educação?

Marta Campos Maia – Não é um problema exclusivo dos professores. Você também deve ficar plugado o dia inteiro. Se seu chefe quiser encontrar você, inclusive durante as férias, ele te acha. Esse é um impacto na sociedade em geral. O uso, a facilidade, a mobilidade que a tecnologia nos permite estar online. Com isso, o aluno quer se sentir mais próximo do professor. E ele realmente pode entrar em contato com o professor via e-mail e outras ferramentas da web 2.0. Por um lado há o excesso de trabalho do professor, por outro, o aluno tem mais acesso ao professor. Antes, ele só podia ter dúvida de estatística, por exemplo, das 8h às 12h das quartas-feiras. Isso aumentou muito o trabalho do professor, sem dúvida.

IHU On-Line – As crianças e adolescentes de hoje exigem interatividade na educação?

Marta Campos Maia – Com certeza. Eles são os nativos digitais e a tecnologia não é encarada como uma ferramenta de trabalho. Para eles, o computador é uma forma de comunicação e entretenimento. Esse nativo digital é multitarefa, multiperfis, e ele é multimídia. Quanto mais você associar mídia ao seu conteúdo curricular, mais você tende a conseguir ligar o seu aluno à disciplina fora da sala de aula, ou seja, a se aplicar mais. É uma forma de estímulo ao aprendizado do aluno, o que está fortemente relacionado ao sucesso da instituição de ensino.

IHU On-Line – Como podem ser definidas as escolas que não investirem em interatividade? Qual o futuro dessas instituições de ensino?

Marta Campos Maia – Muitas instituições estão focadas 100% no presencial e sequer utilizam uma plataforma virtual para disponibilizar seus conteúdos. Tem aí um caminho grande e uma ótima possibilidade para todos os professores, porque vamos ter uma ruptura no modelo de ensino. A educação antiga não está mais adequada para esse novo jovem. O professor tem que passar por uma reformulação para atender os diferentes processos cognitivos desses novos alunos e atender suas demandas de uso das tecnologias que, para eles, está associada ao lúdico. Além de nos importarmos com o que vamos ensinar, precisamos descobrir como ajudar o aluno a aprender melhor.

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