12 Janeiro 2024
A reportagem é de Salvatore Cernuzio, publicada por Vatican News e reproduzida por Religión Digital, 10-01-2024.
Os pobres, os desempregados, os sem-teto, os imigrantes, os explorados e todos os que foram mortos pelas ditaduras do passado e que a cultura do descarte atual transforma em lixo: é pela forma como são tratados que se mede o nível de civilização de uma sociedade, disse o Papa.
O Santo Padre Francisco reiterou mais uma vez a centralidade dos vulneráveis, bem como a urgência de combater a tripla "chaga" da corrupção, do abuso de poder e da anarquia - tanto na política quanto na sociedade - em seu discurso desta manhã aos representantes do projeto de diálogo transversal DIALOP.
Trata-se de um projeto de diálogo entre socialistas/marxistas, comunistas e cristãos destinado a formular uma ética social comum que possa ser proposta como uma nova narrativa para uma Europa em busca de identidade, com uma ecologia integral entre a Doutrina Social da Igreja e a crítica social marxista no seu centro.
A iniciativa nasceu em 2014 após um encontro entre o próprio Papa Francisco, Alexis Tsipras, então presidente do partido Syriza e posteriormente primeiro-ministro grego a partir de 2015, Walter Baier, presidente do Partido da Esquerda Europeia, e Franz Kronreif, do Movimento dos Focolares (ambos presentes hoje na audiência).
O Papa com os responsáveis da associação DIALOP. (Foto: Vatican Media)
Francisco recebeu esta manhã, na Sala Paulo VI, antes da audiência geral, 15 membros - 7 da esquerda e 8 da parte católica de diferentes países europeus - desta associação, com os quais compartilhou, por um lado, sua tristeza por um mundo que hoje parece "dividido por guerras e polarizações", e por outro, seu encorajamento para olhar para o futuro e tentar imaginar um mundo melhor.
"É na imaginação, de fato, onde a inteligência, a intuição, a experiência e a memória histórica se encontram para criar, aventurar e arriscar", enfatizou o Papa, lembrando quantas vezes ao longo dos séculos "os grandes sonhos de liberdade e igualdade, de dignidade e fraternidade, reflexo do sonho de Deus, têm produzido avanços e progresso".
Nesse sentido, o Papa indicou três atitudes para o compromisso da DIALOP: a coragem de quebrar paradigmas, a atenção aos mais fracos e a promoção da legalidade.
Ter a coragem de romper com os esquemas significa "abrir-se, no diálogo, a novos caminhos".
"Contra abordagens rígidas que separam, cultivemos o confronto e a escuta com o coração aberto, sem excluir ninguém, nos níveis político, social e religioso, para que a contribuição de cada um possa, em sua peculiaridade concreta, ser acolhida positivamente nos processos de mudança aos quais nosso futuro está destinado", exortou Francisco.
Em seguida, o Papa pediu que se preste sempre atenção aos mais fracos, porque "a medida de uma civilização se vê pela forma como trata os mais vulneráveis: os pobres, os desempregados, os sem-teto, os imigrantes, os explorados e todos aqueles que a cultura do descarte transforma em lixo". Falando espontaneamente, ele lembrou a história do passado recente: "Não esqueçamos que as grandes ditaduras, pensemos no nazismo, descartavam os vulneráveis, os matavam". E dirigiu-se aos responsáveis políticos com as seguintes palavras:
"A solidariedade, além de ser uma virtude moral, é uma exigência de justiça, que requer corrigir as distorções e purificar as intenções dos sistemas injustos, também por meio de mudanças radicais de perspectiva no compartilhamento dos desafios e dos recursos entre os homens e entre os povos", disse o Papa. E definiu como poeta social aquele que se dedica a esse campo, porque "a poesia é criatividade", e aqui se trata de "colocar a criatividade a serviço da sociedade, para que ela seja mais humana e fraterna".
Por último, a legalidade. "Combater a praga da corrupção, os abusos de poder e a ilegalidade" foram as indicações do Pontífice, porque "apenas na honestidade, nos fatos, podem-se estabelecer relacionamentos saudáveis e cooperar com confiança e eficácia na construção de um futuro melhor".
Daí o agradecimento pelo valor de trabalhar "por um mundo mais justo e pacífico" e a recomendação de que "o Evangelho de Jesus Cristo inspire e ilumine sempre suas pesquisas e ações".
Durante a audiência de hoje, o grupo DIALOP apresentou ao Pontífice os resultados do trabalho dos últimos dez anos, realizado também com o apoio do Dicastério para a Cultura e a Educação Católica. "Além dos limites religiosos e ideológicos, cristãos e marxistas, assim como pessoas de boa vontade", explicou a associação em uma nota, "reconhecem-se hoje unidos no compromisso pelo fim dos conflitos armados no mundo e pela segurança dos direitos humanos mais elementares, para garantir o equilíbrio social e a paz à humanidade".
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Papa alerta para a tríplice “chaga” da corrupção, abuso de poder e anarquia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU