26 Junho 2023
O primeiro a se precaver é o secretário geral do Sínodo dos Bispos, cardeal Mario Grech. “Não é garantido que em outubro de 2023 e 2024 teremos que encontrar todas as respostas. Mas reconhecemos que existem perguntas. E isso não é pouca coisa, considerando que pela primeira vez todas as questões mais delicadas da Igreja – da ordenação presbiteral de homens casados, ao diaconato feminino, passando pelo pleno acolhimento de homossexuais e divorciados – acabam preto no branco no documento de trabalho de um Sínodo, o encontro mais imediato para uma discussão eclesial em todos os níveis.
Para ser mais exato, fazem parte do Instrumentum laboris do encontro convocado pelo Papa Francisco em duas sessões – de 4 a 29 de outubro e doze meses depois – dedicado à sinodalidade, o modo de caminhar juntos. “Homossexuais, diaconato feminino e clero casado são o mínimo para a Igreja hoje – afirma sem dúvidas o teólogo Vito Mancuso, escola martiniana e autor do best-seller "A alma e seu destino". São reformas a serem aprovadas rapidamente por uma questão de justiça diante de Deus e da dignidade dos homens e das mulheres seja qual for a sua condição”.
A entrevista é de Giovanni Panettiere, publicada por QN, 23-05-2023. A tardução é de Luisa Rabolini.
Sem essas mudanças, a Igreja está destinada a desaparecer?
Sejamos honestos, essas mudanças não levariam mais fiéis à missa. No mundo protestante, onde tudo isso é realidade, a situação é ainda pior do que o contexto católico em termos de participação nos sacramentos.
Então, estão certos aqueles que sustentam que os dossiês mais espinhosos deveriam ser mantidos fora do Sínodo?
Claro que não, são temas a serem abordados de forma elevada e consciente. Começando do primeiro, mesmo considerando os riscos de cisma diante da hipótese do sacerdócio para mulheres, deve ser dado um passo à frente em relação ao diaconato feminino. Não se deve ter medo de aprovar, justificando-o em nível teológico, o acesso ao cardinalato para ambos os sexos: não é necessário ser diáconos, sacerdotes ou bispos para receber o título.
E quando você menciona a consciência, a que se refere?
Ao fato de hoje vivermos uma fase de declínio do cristianismo. Devemos aceitar, sem nostalgia, a ideia de que as glórias da Igreja de Pio XII já fazem parte da história.
O desafio é recuperar o essencial do cristianismo, o anúncio da massagem evangélica de salvação?
Sim, e é curioso que hoje seja a sociedade que dita os temas, dos homossexuais aos divorciados recasados, a uma Igreja que há séculos se impôs e impôs aos outros os desafios mais prementes. Isso também é um sinal dos tempos.
O Sínodo sobre a sinodalidade, definida pelo Papa Francisco como 'o caminho que Deus espera da Igreja no terceiro milênio', pode ser algo mais que um mero jogo de palavras?
Refletir sobre o método com o qual se quer organizar e compreender o Evangelho hoje é a ocasião propícia para repensar, sem omitir o exame dos dossiês mais acalorados, a estrutura eclesial e a relação de cada um de nós com Deus, a dor, a morte e o destino da alma.
Os protagonistas da Igreja hoje estão à altura de uma tarefa tão profunda?
Eu não sei e não cabe a mim dizer. Limito-me apenas a constatar que infelizmente não temos nenhuma encíclica recente sobre o sentido da oração.
A polarização entre progressistas e conservadores corre o risco de fazer naufragar o barco de Pedro no mar das reformas?
É um obstáculo, claro, mas, como sempre acontece na Igreja Católica, tudo vai depender do Papa.
Francisco deveria ser menos político e diplomático?
Até agora ele foi muito profético, mas também teve medo de quebrar a unidade da Igreja. O sucesso do Sínodo depende de sua vontade de aprovar as reformas. Ele terá que ser capaz de falar ao coração dos bispos poloneses e estadunidenses. Fazer com que entendam que dar luz verde ao diaconato feminino não significa ser progressista ou ceder à pós-modernidade, mas concretizar aquele 'gênio feminino' de que falava Karol Wojtyla. Caso contrário, certas expressões acabam sendo uma piada.
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O teólogo Mancuso: “Mulheres e homossexuais? A Igreja precisa fazer reformas. É uma questão de justiça” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU