09 Mai 2023
A 348ª edição dos Cadernos IHU ideias apresenta três artigos que desafiam a lógica predominante, que separa natureza-técnica-cultura e que fundamenta nossa sociedade.
O primeiro, de Cosimo Accoto, intitulado “A potência da latência: inteligência artificial generativa – textos, imagens, agentes”, aborda a emergência de uma nova forma de interação entre humano e data que não pode ser interpretado como comumente se faz através da velha lógica dialética homem/técnica, natural/artificial. “Existe uma maneira filosoficamente superficial e politicamente ingênua de olhar para a inteligência artificial. É a maneira instrumental (trata-se apenas de tecnologia), dicotômica (nós humanos versus as máquinas), antropocêntrica (mantendo o humano no circuito e no controle), alinhadora (respeito aos valores humanos) e dominante (o humano é responsável por as decisões) de um certo humanismo. Muitas vezes é acompanhada por uma inclinação anestésica da ética fácil e consoladora. E há, no entanto, uma outra maneira mais filosoficamente treinada e globalmente consciente que interpreta a passagem de época que estamos vivenciando de forma complexa e sofisticada. É um humanismo capaz de apreender o estatuto de provocação cultural e intelectual da IA na longa duração das civilizações humanas” (Accoto).
O segundo, de Massimo Di Felice, intitulado “Depois do natural e do artificial. As hiperinteligências, os LLMs e as qualidades conectivas da episteme do terceiro milênio”, problematiza a episteme dualista, separatista e antropomórfica e traz a discussão sobre a cibernética de primeira e segunda ordem. Nesse sentido, a partir das LLMs e das diferentes arquiteturas digitais que compõem a rede de redes, apresenta a formação de um novo tipo de complexidade, não sistêmica, mas conectiva. Esse novo tipo de complexidade conectiva caracteriza-se como uma forma neutra (Perniola), nem externa e nem interna, nem humana e nem artificial, e tem moldado parte significativa das experiências do mundo contemporâneo. Dessa forma, o texto apresenta as etapas do processo que propicia a construção do conceito de hiperinteligências, proposto como alternativa ao conceito de inteligência artificial.
O terceiro, de Eliane Schlemmer, intitulado “O protagonismo ecológico-conectivo e a emergência das hiperinteligências no Paradigma da Educação OnLIFE”, ao contextualizar as transformações na sociedade faz referência um protagonismo não mais exclusivamente humano, mas ecológico-conectivo, de onde emergem em hibridismos as hiperinteligências. A partir dessa compreensão, problematiza a ideia de conhecimento e de como ele é produzido, o que tem origem numa visão antropocêntrica e dualista do mundo, que separa a natureza da técnica, a inteligência humana da inteligência artificial, aproximando a construção realizada por Accoto e Di Felice, do campo da educação.
Nesse contexto, refere a urgência de uma virada epistêmica, capaz de superar uma ideia de formação de sujeitos, em favor da formação de ecologias-conectadas, de onde surgem em hibridismos inventivos as hiperinteligências. Como contribuição, apresenta os primeiros movimentos que configuram o que denomina Teoria da Aprendizagem Inventiva em Ato Conectivo Transorgânico, que emerge no Paradigma da Educação OnLIFE, vinculada a uma política cognitiva ecológica-conectiva em educação. Por fim, afirma a necessidade de uma nova pedagogia que se ocupe de competências e habilidades que permitam ao professor conhecer e compreender quais ecologias serão conectadas e que tipo de ambientação poderá ser cocriada. Assim, o professor será capaz de desenhar arquiteturas e ambientes híbridos, que favoreçam novas ambiências formativas, na perspectiva das hiperinteligências, desenvolvendo o que Schlemmer denomina Docência OnLIFE.
Desejamos uma excelente leitura, na expectativa de que os textos provoquem reflexões diversas, novas compreensões sobre o mundo, a sociedade e a educação e o desejo de habitar conosco as ecologias conectivas. Allons-y!
Esta edição dos Cadernos IHU ideias pode ser acessada aqui.
Ciclo de Estudos Inteligência Artificial, fronteiras tecnológicas e devires humanos
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Depois da Inteligência Artificial. Especialistas debatem o tema na publicação ‘Cadernos IHU ideias’ - Instituto Humanitas Unisinos - IHU