07 Dezembro 2022
A reportagem é de José Manuel Vidal, publicada por Religión Digital, 07-12-2022.
Audiência de quarta-feira na Sala Paulo VI. O Papa Francisco continua com o ciclo catequético sobre o discernimento, abordando desta vez “a fase que se segue imediatamente à decisão tomada”. E a propósito desta fase, Bergoglio assegura que “um dos sinais distintivos do bom espírito é o facto de comunicar uma paz que perdura no tempo”. Outro sinal é a gratidão e o terceiro “o fato de se sentir livre diante de uma decisão tomada, ou seja, estar aberto a mudar ou renunciar a ela sem apego”. Em suma, o Papa nos convida a seguir em frente “sempre tentando tomar decisões na oração e ouvindo o coração”.
Segundo o Papa, “ser possessivo é inimigo do bem e mata o afeto”. Por isso, ela denuncia que muitos casos de violência de gênero “nascem quase sempre da pretensão de possuir o afeto do outro, da busca por uma segurança absoluta que mata a liberdade e sufoca a vida, tornando-a um inferno”.
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
No processo de discernimento, é importante estar atento também à fase que se segue imediatamente à decisão tomada, para colher os sinais que a confirmam ou os que a negam. Com efeito, vimos como o tempo é um critério fundamental para reconhecer a voz de Deus no meio de muitas outras vozes. Só Ele é o Senhor do tempo: isso é garantia de sua originalidade, o que o diferencia das imitações que falam em seu nome sem alcançá-lo. Um dos sinais distintivos do bom espírito é o fato de comunicar uma paz que perdura no tempo. Uma paz que traz harmonia, unidade, fervor, zelo. Você sai do processo melhor do que entrou.
Por exemplo, se tomo a decisão de dedicar meia hora a mais à oração, e então percebo que vivo melhor os outros momentos do dia, fico mais sereno, menos ansioso, realizo meu trabalho com mais cuidado e prazer, assim como as minhas relações com algumas pessoas difíceis tornam-se mais fáceis…: todos estes são sinais importantes que vão a favor da bondade da decisão tomada. A vida espiritual é circular: a bondade de uma escolha é benéfica para todas as áreas da nossa vida. Porque é participação na criatividade de Deus.
Podemos reconhecer alguns aspectos importantes que ajudam a ler o tempo que se segue à decisão como uma possível confirmação da sua bondade. De alguma forma, já os encontramos ao longo destas catequeses, mas agora encontramos sua aplicação posterior.
Um primeiro aspecto é se a decisão é considerada um possível sinal de resposta ao amor e à generosidade que o Senhor tem para comigo. Não nasce do medo, da chantagem afetiva ou da obrigação, mas da gratidão pelo bem recebido, que move o coração a viver liberalmente a relação com o Senhor.
Outro elemento importante é a consciência de se sentir em seu próprio lugar na vida e parte de um projeto maior, para o qual se deseja oferecer sua própria contribuição. Na Praça de São Pedro há dois pontos precisos – os focos da elipse – de onde se veem as colunas de Bernini perfeitamente alinhadas. Da mesma forma, um homem pode reconhecer que encontrou o que procura quando seu dia se torna mais organizado, percebe uma crescente integração entre seus múltiplos interesses, estabelece uma correta hierarquia de importância e consegue viver tudo com tranquilidade, encarando-o com energia e força renovadas, encorajamento nas dificuldades que surgem.
Outro bom sinal de confirmação é o fato de permanecer livre em relação ao que foi decidido, disposto a questioná-lo novamente, também a renunciar diante de possíveis negações, procurando encontrar nelas um possível ensinamento do Senhor. Não porque Ele queira nos privar daquilo que mais amamos, mas para vivê-lo livremente, sem apegos. Só Deus sabe o que é verdadeiramente bom para nós. Ser possessivo é inimigo do bem e mata o afeto: os muitos casos de violência no âmbito doméstico, dos quais infelizmente temos notícias frequentes, nascem quase sempre da pretensão de possuir o afeto do outro, da busca por segurança absoluta que mata a liberdade e sufoca a vida, tornando-a um inferno.
Só podemos amar em liberdade, por isso o Senhor nos criou livres, livres também para dizer não. Oferecer-lhe o que mais queremos é do nosso interesse, permite-nos vivê-lo da melhor forma e na verdade, como um dom que Ele nos deu, como sinal da sua bondade gratuita, sabendo que a nossa vida, como bem como toda a história, está em suas mãos benevolentes. É o que a Bíblia chama de temor de Deus, ou seja, respeito a Deus, condição indispensável para acolher o dom da Sabedoria (cf. Sir 1,1-18). É o medo que expulsa todos os outros medos, porque está orientado para Aquele que é o Senhor de todas as coisas. Diante Dele nada pode nos perturbar. É a admirável experiência de São Paulo: "Sei andar pouco e muito. Estou acostumado a tudo e a tudo: saciedade e fome: abundância e privação. Tudo posso naquele que me consola" (Fl 4,12-13). Este é o homem livre.
Reconhecer isso é essencial para uma boa decisão e nos tranquiliza sobre o que não podemos controlar ou prever: saúde, futuro, entes queridos, nossos projetos. O que conta é que nossa confiança esteja depositada no Senhor do universo, que nos ama imensamente e sabe que com Ele podemos construir algo maravilhoso, eterno. A vida dos santos nos mostra isso da maneira mais bela. Sigamos em frente, sempre tentando tomar decisões assim: em oração e ouvindo o coração.
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O Papa denuncia que a violência doméstica “nasce da pretensão de possuir o afeto do outro” e transforma a vida em “inferno” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU