22 Novembro 2022
O melhor espectador no cenário mundial é o burro. Um animal pacífico e sábio, paciente e mais inteligente do que nós na forma desprendida e calma com que contempla o desenrolar-se da história. Os exércitos marcham ao seu lado e as bandeiras mudam, como os pássaros pintados nelas. E enquanto isso ele os olha com indiferença.
O comentário é do cardeal italiano Gianfranco Ravasi, ex-prefeito do Pontifício Conselho para a Cultura, publicado por Il Sole 24 Ore, 20-11-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
“Você é um burro!”; "não seja burro"; “é um burro mas pensa que é um cavalo”; “vá para o canto com as orelhas de burro”... Poderíamos continuar com essa litania de insultos envolvendo um animal manso e paciente, também denegrido pela literatura (é fácil pensar em Pinóquio). Na realidade, como testemunham as palavras do poeta palestino Mahmoud Darwish, falecido em 2008 aos 67 anos em Houston (Texas), existe - especialmente no Oriente – um resgate desse animal, precisamente a partir do Messias bíblico e do próprio Cristo.
De fato, o profeta Zacarias apresenta o rei Messias que avança “montado num jumento, jumentinho filho de uma jumenta” (9,9), a montaria real em tempos de paz, diferente do belicoso cavalo que marcha com os exércitos. Nessa mesma linha e evocando o domingo de hoje dedicado a Cristo Rei, recordamos que também Jesus fez a sua entrada triunfal em Jerusalém precisamente montado numa jumenta com um jumentinho a seu lado (Mateus 21,1-9).
A humildade inteligente e paciente desse animal, também celebrada por um poeta francês, Francis Jammes, que sonhava em entrar no paraíso acompanhado pelos burros espancados ou mordidos por insetos, torna-se uma lição para os humanos. Manter-se calmos e distantes, discreto e sábios, enquanto os outros desfilam vociferantes e muitas vezes cheios de prepotência.
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#o burro. Artigo de Gianfranco Ravasi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU