17 Novembro 2022
“Claramente, a maioria na conferência episcopal ainda prefere uma mentalidade de guerra cultural, apesar da falta de eficácia de tal estratégia na Igreja e na sociedade. Enquanto isso, a frequência à missa nas paróquias diminui e um grande número de jovens segue abandonando a Igreja. Apesar das tentativas do Papa Francisco de fazer uma Igreja mais acolhedora, os bispos dos EUA parecem estar presos à mesma velha maneira de fazer as coisas”, manifesta em editorial o jornal estadunidense National Catholic Reporter, 17-11-2022. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
No primeiro dia da assembleia plenária da Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos, cada orador pedia por unidade, espírito de escuta e sinodalidade e um testemunho eficaz não limitado por debates obsoletos e divisões prejudiciais.
“Não podemos falar com credibilidade em uma sociedade polarizada enquanto nossa própria casa estiver dividida”, disse dom William Lori, arcebispo de Baltimore, em seu relatório como chefe do Comitê de Atividades Pró-Vida dos bispos. “Quanto mais unidos estivermos, mais eficaz será o nosso testemunho.”
Poucos minutos antes do discurso de Lori, no entanto, ele havia perdido um voto para a presidência da conferência dos bispos para dom Timothy Broglio, que chefia o ordinariado militar.
Lori não é liberal, mas era visto como um moderado entre os bispos profundamente divididos. Mas, em vez de um candidato da unidade, os bispos escolheram um guerreiro cultural, conhecido por se opor às prioridades do Papa Francisco.
Broglio culpou a homossexualidade pela crise de abuso do clero, buscou isenções religiosas para as vacinas contra o coronavírus e tem uma história que inclui trabalhar como secretário particular do falecido cardeal Angelo Sodano, ex-secretário de Estado do Vaticano que era defensor de abusadores sexuais em série, como o então padre Marcial Maciel Degollado, dos Legionários de Cristo.
Em entrevista coletiva após sua eleição, Broglio ignorou uma pergunta sobre Sodano, dizendo: “a visão retrospectiva é sempre 20/20”. E ele insistiu na homossexualidade sobre o abuso sexual, dizendo: “é certamente um aspecto da crise sexual que não pode ser negado”. Estudos acadêmicos não encontraram tal relação.
Após os últimos três anos turbulentos, a credibilidade da conferência episcopal dificilmente poderia ser menor. Sob seu presidente anterior, dom José Gomez, arcebispo de Los Angeles, a conferência optou por insistir que o aborto é a questão “preeminente” no ensino católico; passou um ano debatendo se deveria proibir a comunhão a políticos a favor do direito ao aborto antes de decidir por uma declaração morna; e, em geral, deixava a ala conservadora da Igreja definir sua agenda.
Agora, como o Papa Francisco identificou a sinodalidade e a abertura ao diálogo como o caminho a seguido pela Igreja, os bispos dos EUA parecem fora de sintonia. Eles falam sobre a unidade, mas permaneceram divididos, com a votação presidencial final de 138 a 99 para Broglio.
Depois de perder a votação presidencial, Lori foi eleito vice-presidente da conferência, então havia alguma esperança de que ele pudesse ser uma influência moderadora no comitê executivo. Mas na manhã do segundo dia da reunião, as eleições para outros cargos indicavam que os candidatos conservadores varreriam as vagas. Dom Paul Coakley, arcebispo de Oklahoma City, derrotou o cardeal Joseph R. Tobin, arcebispo de Newark, para secretário-geral. Os novos presidentes de comitê incluíram o dom Thomas Paprocki, bispo de Springfield, Illinois; e dom Michael Burbidge, bispo de Arlington, Virginia.
Claramente, a maioria na conferência episcopal ainda prefere uma mentalidade de guerra cultural, apesar da falta de eficácia de tal estratégia na Igreja e na sociedade.
O discurso de Lori como presidente pró-vida foi intitulado “Apresentação sobre questões e oportunidades de vida após a sentença do caso Dobbs” – poucos dias após as eleições de meio de mandato nos EUA nas quais todas as iniciativas contra o aborto falharam, tanto nos estados Democratas quanto nos Republicanos, apesar dos gastos maciços em parte das dioceses desses estados.
Enquanto isso, a frequência à missa nas paróquias diminui e um grande número de jovens segue abandonando a Igreja. Apesar das tentativas do Papa Francisco de fazer uma Igreja mais acolhedora, os bispos dos EUA parecem estar presos à mesma velha maneira de fazer as coisas.
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A escolha de um guerreiro cultural dos bispos é um erro. Editorial do National Catholic Reporter - Instituto Humanitas Unisinos - IHU