25 Outubro 2022
A Santa Sé e a China renovaram por mais dois anos o acordo provisório sobre a nomeação de bispos assinado em setembro de 2018 e já confirmado uma primeira vez em 22 de outubro de 2020. A notícia foi divulgada pelo Vaticano ao mesmo tempo que se encerrava o XX Congresso do Partido Comunista Chinês em Pequim, com um fortalecimento sem precedentes dos poderes do secretário-geral Xi Jinping. Sua doutrina política - enquanto ainda está no cargo - foi incluída na carta fundamental do partido, o que até agora só havia acontecido para Mao Zedong.
A reportagem é de Francesco Peloso, publicada por Domani, 24-10-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Assim, é com esse poder chinês, imperial e pragmático ao mesmo tempo, que o Vaticano celebrou um acordo - cujo conteúdo, conhecido apenas em seus aspectos gerais, porém permaneceu secreto – para proteger a presença da Igreja Católica na China.
O acordo, que tem o consentimento de Xi, marcou uma virada nas relações sino-vaticanas, e já havia sido perseguido com determinação, entre desacelerações e avanços, já por João Paulo II e Bento XVI.
De fato, a Igreja há muito abandonou o papel de braço ideológico para a penetração dos interesses ocidentais e coloniais na China, ao mesmo tempo em que buscou o diálogo direto com as autoridades chinesas para superar a desconfiança. E Pequim aceitou o desafio.
Parte dos aparatos e burocracias do partido não compartilham a abertura à Igreja de Roma, inclusive por isso não cessaram os episódios de violação da liberdade religiosa. Entre outras coisas, nos próximos dias, o cardeal Joseph Zen Ze-Kiun, 90, bispo emérito de Hong Kong, será julgado, acusado juntamente com cinco conhecidos expoentes da frente democrática de não ter registrado corretamente um fundo humanitário do qual eram administradores fiduciários. Até ao seu encerramento em outubro de 2021, o Fundo 612 – lembra a agência missionária Asianews – deu assistência a milhares de manifestantes pró-democráticos envolvidos nas manifestações de 2019. Nem é preciso dizer que o Cardeal Zen não é a favor do acordo alcançado entre Pequim e Santa Sé.
Ao retornar do Cazaquistão, em meados de setembro, o Papa Francisco havia descrito a questão chinesa do ponto de vista do Vaticano da seguinte forma: “Para entender a China é preciso um século, e nós não vivemos um século. Para entender, escolhemos o caminho do diálogo, abertos ao diálogo. Há uma comissão bilateral Vaticano-China que está indo bem, devagar, porque o ritmo chinês é lento, eles têm uma eternidade para ir em frente: são um povo de paciência infinita”.
“Não me agrada qualificar a China como antidemocrática – havia afirmado o pontífice em seguida - porque é um país tão complexo, com ritmos próprios. Sim, é verdade que há coisas que nos parecem não democráticas, isso é verdade”. Mais que expressar juízos, observava então Francisco: “Procuro apoiar o caminho do diálogo”. A prudência do papa explica bem qual a importância atribuída ao dossiê chinês.
De qualquer forma, sobre o significado do acordo, o cardeal filipino Luis Antônio Tagle, chefe da Congregação para a Evangelização dos Povos, em entrevista à agência Fides do Vaticano, explicou que não é o momento "para ingênuos triunfalismos”. “A Santa Sé - disse - nunca falou do acordo como a solução de todos os problemas. Sempre se percebeu e afirmou que o caminho é longo, pode ser complicado e que o próprio acordo podia causar incompreensões e desorientações. A Santa Sé não ignora e nem minimiza as diferenças de reações entre os católicos chineses diante do acordo, onde a alegria de muitos se confunde com as perplexidades de outros. Faz parte do processo”. No entanto, acrescentou, "sempre é preciso sujar as mãos com a realidade das coisas como elas são".
O objetivo do acordo era, de fato, desde o início, superar o dualismo entre a igreja patriótica fiel ao regime e a igreja clandestina fiel a Roma. "Desde setembro de 2018 - explicou o Secretário de Estado do Vaticano, Card. Pietro Parolin ao L'Osservatore romano - todos os bispos da China estão em plena comunhão com o sucessor de Pedro e não houve mais ordenações episcopais ilegítimas”.
Isso implica, entre outras coisas, que em qualquer missa celebrada por um sacerdote chinês na oração eucarística, o papa seja explicitamente mencionado, "o que era impensável anos atrás". Outro passo significativo para o cardeal "são as seis primeiras ordenações episcopais que ocorreram no espírito do Acordo e em conformidade com o procedimento estabelecido que deixa a última e decisiva palavra ao papa".
Por fim, observa Parolin, "neste tempo também os primeiros seis bispos clandestinos conseguiram ser registrados e, portanto, formalizar sua posição, sendo reconhecidos como bispos pelas instituições públicas". Afinal, o entendimento, que tem um importante perfil diplomático, era necessário também para a Santa Sé do ponto de vista teológico e pastoral.
Além disso, ao longo da história certamente não faltaram acordos da igreja com soberanos e governantes para a nomeação de bispos. Foi o próprio Cardeal Tagle quem o recordou: “A intervenção das autoridades civis nas escolhas dos bispos manifestou-se várias vezes e de várias formas ao longo da história.
São Francisco Xavier e os jesuítas também realizaram a sua missão na Índia sob o patrocínio da coroa portuguesa”. "Em tais situações - disse - o importante é que o procedimento utilizado para as nomeações episcopais garanta e proteja o que a doutrina e a disciplina da Igreja reconhecem como essencial para viver a comunhão hierárquica entre o sucessor de Pedro e os demais bispos, sucessores dos apóstolos. E isso também acontece nos procedimentos atualmente utilizados na China”.
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O papa prefere manter boas relações com a China - Instituto Humanitas Unisinos - IHU