19 Outubro 2022
Não falo as coisas que falo já as sabendo, mas as questiono junto com você.
O comentário é do cardeal italiano Gianfranco Ravasi, prefeito do Pontifício Conselho para a Cultura, publicado por Il Sole 24 Ore, 16-10-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
É o grande Platão que fala assim ao seu interlocutor Cálicles no diálogo do Górgias. Aliás, sempre é citado um trecho de outro de seus textos, a Apologia de Sócrates, em que seu mestre adverte que uma vida não questionada não merece ser vivida. Este é um dos ensinamentos capitais a serem dedicados sobretudo à nossa época em que trunfam, através das redes sociais, a arrogância, a aproximação, o lugar-comum e até a pura e simples falsidade como conhecimento. O verdadeiro sábio sabe que não sabe e, portanto, se direciona com humildade e paciência no caminho do questionamento.
A pergunta é fundamental no progresso da ciência, assim como na própria religiosidade genuína que é caminho "de luz em luz" segundo a Bíblia, e não entrincheiramento em uma fortaleza dogmática. Não é por acaso que em muitas religiões a verdade é identificada com Deus e, portanto, é infinita. O desejo de conhecimento é a mola que faz progredir, como já sugeria Leonardo da Vinci: "Assim como comer sem vontade é prejudicial à saúde, estudar sem desejo estraga a memória e não guarda nada que a estimule".
Mas, no final, deixamos novamente a palavra a Platão em outro de seus escritos, Cármides, no qual ele questiona Crítias da seguinte forma: “Você se dirige a mim como se eu declarasse conhecer as coisas sobre as quais eu me questiono. Não é assim: com a sua ajuda estou à procura da solução, porque a ignoro”.
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#Questionamento. Artigo de Gianfranco Ravasi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU