28 Abril 2022
O patriarca russo na mira por seu apoio à invasão da Ucrânia por Putin. Seria necessário um concílio de todas as Igrejas ou uma decisão do sínodo de Moscou para destituí-lo. Kirill cada vez mais questionado no mundo ortodoxo e cristão do Ocidente.
A reportagem é de Vladimir Rozanskij, publicada por AsiaNews, 27-04-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
O patriarca da Igreja Ortodoxa Russa Kirill (Gundjaev) celebrou uma função depois da Páscoa na histórica Catedral da Assunção dentro dos muros do Kremlin, convidando a população a se reunir em torno da "cidade de Moscou, o centro de todas as Rússias” para se defender dos “centros de poder no exterior”. O povo russo precisa redescobrir sua união interior, disse o patriarca, "porque somente na unidade está nossa força, e se mantivermos a fé dos nossos pais nos corações, então a Rússia será invencível".
Como explicou Kirill, "nem sempre a vitória é a das armas, mas também a vitória do espírito, e muitos hoje gostariam que esse espírito desaparecesse". Ele enumerou as táticas do inimigo, que "dissemina confusão, cria novos ídolos, chama a atenção para novos pseudovalores, para inverter as dimensões da consciência do homem, daquela vertical que une a Deus àquela horizontal, sobre a qual se implantam todas as exigências de carne humana”.
Nestes dias também se discute a possível reunião do Conselho dos Patriarcas Apostólicos das Antigas Igrejas Orientais, os quatro membros da antiga Pentarquia, da qual Roma está excluída: Constantinopla, Alexandria, Jerusalém e Antioquia. O encontro estava planejado há meses, para avaliar a escolha de Kirill de instituir um exarcado russo na África, no território canônico de Alexandria, e agora surge a questão levantada por mais de 400 sacerdotes da Igreja Ortodoxa na Ucrânia, o juízo sobre o apoio de Kirill à política de Putin.
A questão foi formalmente colocada pelo protoierej Andrei Pinchuk da eparquia de Dnepropetrovsk, parte da Igreja Ucraniana do patriarcado de Moscou, pedindo para "privar Kirill da sede patriarcal", e foi então assinada por 430 sacerdotes da mesma Igreja. Os mesmos signatários também recorreram ao Metropolita Onufryj (Berezovskij) de Kiev, para que ele proclamasse autocefalia de forma autônoma, mas até agora o chefe dos ortodoxos ucranianos não respondeu. Sabe-se que diversos sacerdotes e bispos russos estão aconselhando Kirill a proclamar de Moscou a autocefalia da parte ucraniana, que aliás já é independente no plano administrativo.
A reunião dos patriarcas continua pendente, também porque dois dos quatro, Teófilo III de Jerusalém e Ioannis X de Antioquia são defensores de Kirill, ou pelo menos não dispostos a romper relações com ele, e não por acaso o braço direito de Kirll, o metropolita Ilarion (Alfeev), visitou os dois entre o final de fevereiro e o início de março.
De acordo com o canonista da Universidade de Tartu, na Estônia, Andrej Shiškov, "o próprio patriarca ecumênico Bartolomeu, especialista em direito canônico, percebe que este ‘tribunal supremo’ não tem uma eficácia real no mundo ortodoxo, seria necessário um concílio de todas as Igrejas para destituir um patriarca, e este nunca se conseguiu reunir”.
O conselho dos quatro patriarcas tinha sentido no período do Império Otomano, mas nunca atuou em nível de Ortodoxia universal. O grande concílio de Moscou em 1666 destituiu o patriarca Nikon na presença dos patriarcas de Antioquia e Jerusalém, mas ali foi o czar Alexei quem tomou as decisões.
O patriarca Kirill só poderia ser julgado pelo Sínodo do próprio patriarcado de Moscou, que não consegue se reunir há meses, e recentemente sua assembleia foi adiada para o final de 2022 devido à "situação internacional". O problema seria a participação do metropolita Onufryj e dos bispos ucranianos, que têm o direito de participar do Sínodo de Moscou, mas atualmente estão em conflito direto com o patriarca.
Kirill também está sendo questionado no mundo ortodoxo e cristão do Ocidente, e a questão de sua exclusão do Conselho Mundial de Igrejas, o principal órgão ecumênico internacional, também foi levantada. De fato, o que é visto como a "ONU das Igrejas" por sua vez parece ser bastante impotente, e os russos não teriam nenhum problema em se desvincular permanentemente dele, acusando-o de ser subserviente aos "centros de poder no exterior".
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Kirill convida a defender Moscou, as Antigas Igrejas do Oriente preparam concílio sobre ele - Instituto Humanitas Unisinos - IHU