19 Dezembro 2019
A Pontifícia Comissão Bíblica realizou um estudo antropológico de 300 páginas sobre o texto cristão: “A relação homoerótica não deve ser condenada”.
A reportagem é de La Repubblica, 17-12-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A Congregação para a Doutrina da Fé pede mais “atenção pastoral” às uniões homossexuais. Em um articulado estudo encomendado pelo papa, a Pontifícia Comissão Bíblica (ramo do ex-Santo Ofício) deu origem a uma leitura antropológica – nunca tentada antes – da Bíblia à luz da pessoa de hoje. Em quatro capítulos de mais de 300 páginas (“Cosa è l’uomo” [O que é o homem], Ed. LEV), também se aborda o tema da homossexualidade.
No documento, a Doutrina da Fé reitera que “a instituição matrimonial, constituída pela relação estável entre marido e mulher, é constantemente apresentada como evidente e normativa em toda a tradição bíblica” e que não existem “exemplos de união legalmente reconhecida entre pessoas do mesmo sexo”.
No entanto, a Pontifícia Comissão Bíblica também registra as vozes que discordam e que reivindicam acolhida – assim como para as uniões hetero – para a “homossexualidade e as uniões homossexuais como expressão legítima e digna do ser humano”.
“Há algum tempo – afirma o documento do ex-Santo Ofício –, em particular na cultura ocidental, manifestaram-se vozes de dissidência com relação à abordagem antropológica da Escritura, do modo como ela é compreendida e transmitida pela Igreja nos seus aspectos normativos. Tudo isso é julgado como o simples reflexo de uma mentalidade arcaica e historicamente condicionada. Sabemos que diversas afirmações bíblicas, em âmbito cosmológico, biológico e sociológico, foram gradualmente consideradas ultrapassadas pela progressiva afirmação das ciências naturais e humanas; analogamente – deduzem alguns– uma compreensão nova e mais adequada da pessoa humana impõe uma radical reserva em relação à exclusiva valorização da união heterossexual em favor de uma análoga acolhida da homossexualidade e das uniões homossexuais”.
“Além disso – anota ainda o documento da Doutrina da Fé – às vezes se argumenta que a Bíblia diz pouco ou nada sobre esse tipo de relação erótica, que, por isso, não deve ser condenada, até porque, muitas vezes, é indevidamente confundida com outros comportamentos sexuais aberrantes.” A alusão é à pedofilia.
Concluindo, afirma-se: “O exame exegético realizado sobre os textos do Antigo e do Novo Testamentos fez aparecerem elementos que devem ser considerados para uma avaliação da homossexualidade, nas suas implicações éticas. Certas formulações dos autores bíblicos, como as diretrizes disciplinares do Levítico, requerem uma interpretação inteligente que salvaguarde os valores que o texto sagrado pretende promover, evitando, portanto, repetir literalmente aquilo que também traz consigo traços culturais daquele tempo. Será necessária uma atenção pastoral, particularmente em relação às pessoas individuais, para realizar aquele serviço de bondade que a Igreja deve assumir na sua missão pelos seres humanos”.
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Igreja pede “atenção pastoral” às uniões homossexuais - Instituto Humanitas Unisinos - IHU