08 Novembro 2019
Joice se declarou vítima do "mais sujo machismo", e Manuela pediu para que ela não se silencie.
A reportagem é de Ana Beatriz Rosa, publicada por HuffPost, 07-11-2019.
Manuela D'Ávila e Joice Hasselmann. (Foto: Montagem/Divulgação)
À primeira vista, Manuela D’Ávila e Joice Hasselmann não parecem ter muita coisa em comum. A primeira é filiada a um partido de esquerda, o PCdoB. A segunda, até meados de outubro, era a líder do governo no Congresso e foi a deputada federal eleita com o maior número de votos pela sigla do presidente Jair Bolsonaro, o PSL.
Manuela defende abertamente o aborto. Joice diz que as feministas têm “comportamento vexaminoso”. No entanto, o fato de as duas serem mulheres e ocuparem espaço na política as tornaram alvo comum do machismo.
Em uma carta publicada nas redes sociais na última quarta-feira (6), Manuela D’Ávila escreve para sua opositora ideológica se solidarizando pelos ataques e ameaças que Joice Hasselmann e sua família têm sofrido nas redes sociais desde que a deputada passou a criticar o governo Bolsonaro.
“Não é mesmo nada fácil ser mulher e cair nas mãos da milícia virtual que governa o Brasil. Não é fácil ver como eles envolvem aos nossos filhos para buscar nos destruir emocionalmente. Eles buscam nos liquidar, Joice, nos levar as lágrimas. Como te levaram na tribuna ontem, como me levam quase todos os dias há longos quatro anos”, escreveu D’Ávila.
De acordo com Manuela, essas ameaças são parte de uma estratégia de “milícias virtuais” para que depois as mulheres possam ser chamadas de “fracas”.
No texto, ela também descreve como foi alvo de mentiras em 2015, quando disseram que ela havia usado dinheiro público para fazer uma viagem pessoal.
“Por isso, Joice, sei bem como é horrível ver o filho de onze anos receber mentiras pela internet a respeito da mãe. E digo mais: sei como é quando ele recebe mentiras sobre si próprio”, diz o texto.
Em outro parágrafo, D’Ávila descreve como sua filha Laura, com apenas 45 dias de idade, foi alvo de violência em um evento público. No fim da carta, ela pede que Joice Hasselmann não silencie as agressões que tem sido alvo.
“Precisamos que você faça isso para que nenhuma outra pessoa passe pelo estamos passando, para que mais nenhuma filha ou filho seja sofra em meio a esse jogo sujo.”
Na terça-feira (5), Joice Hasselmann fez um discurso emocionado na Câmara dos deputados relatando que passou a ser xingada de “porca” e outros termos ofensivos na internet.
De acordo com ela, o País hoje é comandado pela “república do Twitter” e pela “república da filhocracia”.
A divergência entre Hasselmann e o governo Bolsonaro atingiu seu ápice quando a deputada apoiou a manutenção do deputado Delegado Waldir (PSL-GO) na liderança do PSL na Câmara. Em retaliação à sua decisão, Hasselmann foi desvinculada da liderança do governo pelo presidente Jair Bolsonaro. Ele defendia que seu filho, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), ocupasse o cargo de Waldir.
Em seu discurso, a deputada do PSL afirmou que foi a primeira vez que se sentiu vítima do “mais sujo machismo” e chorou quando disse que as ofensas também atingiam os seus filhos.
“Não quero uma direita estúpida que odeie as pessoas”, declarou.
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Manuela, Joice e a expressão do machismo na política - Instituto Humanitas Unisinos - IHU