Garimpeiros da Amazônia invadem aldeia indígena depois de cacique ser morto

Mais Lidos

  • “Os israelenses nunca terão verdadeira segurança, enquanto os palestinos não a tiverem”. Entrevista com Antony Loewenstein

    LER MAIS
  • Golpe de 1964 completa 60 anos insepulto. Entrevista com Dênis de Moraes

    LER MAIS
  • “Guerra nuclear preventiva” é a doutrina oficial dos Estados Unidos: uma visão histórica de seu belicismo. Artigo de Michel Chossudovsky

    LER MAIS

Revista ihu on-line

Zooliteratura. A virada animal e vegetal contra o antropocentrismo

Edição: 552

Leia mais

Modernismos. A fratura entre a modernidade artística e social no Brasil

Edição: 551

Leia mais

Metaverso. A experiência humana sob outros horizontes

Edição: 550

Leia mais

29 Julho 2019

A polícia brasileira foi instada a investigar uma “situação muito tensa” no Estado do Amapá.

A reportagem é de Dom Phillips, publicada em The Guardian, 28-07-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Dezenas de garimpeiros invadiram uma remota reserva indígena na Amazônia brasileira, onde um líder local foi esfaqueado até a morte, e assumiram o controle de uma aldeia depois que a comunidade fugiu com medo, disseram políticos locais e líderes indígenas. As autoridades disseram que a polícia estava a caminho para investigar o caso.

A mineração ilegal de ouro está em proporções epidêmicas na Amazônia, e as atividades altamente poluidoras dos garimpeiros – como os mineiros de ouro são chamados – devastam florestas e envenenam rios com mercúrio. Segundo relatos, cerca de 50 garimpeiros invadiram nesse sábado a reserva indígena Waiãpi, de 600 mil hectares, no Estado do Amapá.

Os homens foram vistos dias após o assassinato de Emyra Waiãpi, um líder comunitário cujo corpo foi encontrado perto da aldeia de Mariry na manhã de quarta-feira.

Os indígenas evacuaram Mariry e fugiram para a aldeia maior de Aramirã – onde tiros foram disparados no sábado. Líderes indígenas e políticos locais pediram ajuda policial urgente, temendo um banho de sangue.

“Os garimpeiros invadiram a aldeia indígena e estão lá até hoje. Eles estão fortemente armados, têm metralhadoras. Por isso pedimos a ajuda da Polícia Federal”, disse Kureni Waiãpi, 26 anos, membro da tribo que mora na cidade vizinha de Pedra Branca do Amapari, a duas horas de distância e a 189 km da capital do Estado do Amapá, Macapá. “Se nada for feito, eles começarão a lutar.”

“Temos uma situação muito tensa”, disse Beth Pelaes, prefeita de Pedra Branca do Amapari, que disse que a tribo é muito tradicional e permite apenas visitantes autorizados.

A crise foi revelada no sábado por Randolfe Rodrigues, senador pelo Estado do Amapá, que recebeu mensagens de áudio desesperadas pedindo ajuda da polícia e do Exército, enviadas por Jawaruwa Waiãpi, um vereador e líder local. O cantor brasileiro Caetano Veloso foi um dos que compartilharam o apelo da tribo pedindo ajuda no sábado.

“Eu peço às autoridades brasileiras, em nome da dignidade do Brasil no mundo: ouçam esse grito”, disse Veloso em um vídeo gravado na Cidade do México, onde ele está em turnê.

Kureni Waiãpi disse que o presidente de extrema-direita do Brasil, Jair Bolsonaro, encorajou invasões como essa. “É porque ele, o presidente, está ameaçando os povos indígenas do Brasil”, afirmou.

O senador Rodrigues culpou as repetidas promessas de Bolsonaro de permitir a mineração em reservas indígenas protegidas, onde ela é atualmente proibida, pela primeira invasão da terra Waiãpi em décadas. Nos anos 1970, a tribo foi quase exterminada devido a doenças, depois que suas terras foram invadidas por garimpeiros. Em 2017, o então presidente Michel Temer manifestou a intenção de abrir à mineração a vasta reserva de Renca, na qual se encontram as terras da tribo, mas recuou após a reação internacional.

“O governo de Jair Bolsonaro está encorajando esse conflito, encorajando os garimpeiros a entrar. Suas mãos estão sujas”, disse o senador Rodrigues.

Recentemente, Bolsonaro comparou os povos indígenas que vivem vidas tradicionais em suas reservas a “homens pré-históricos”. No sábado, ele voltou a falar sobre as riquezas minerais nas reservas Raposa Serra do Sol e Yanomami – atualmente inundadas por milhares de garimpeiros.

“Estou procurando o ‘primeiro mundo’ para explorar essas áreas em parceria e agregando valor. Por isso, a minha aproximação com os Estados Unidos. Por isso, eu quero uma pessoa de confiança minha na embaixada dos EUA”, disse Bolsonaro no sábado, segundo o jornal O Globo. Seus planos de nomear seu filho deputado Eduardo como embaixador dos EUA no Brasil provocaram protestos no Brasil.

Kureni Waiãpi disse que o corpo de Emyra Waiãpa foi encontrado com facadas na manhã de quarta-feira em um rio perto de sua aldeia de Mariry. Na sexta-feira, Arawyra Waiãpa e sua esposa avistaram um grupo de homens que acreditavam ser garimpeiros em suas plantações perto da aldeia. A comunidade fugiu para a aldeia maior de Aramirã. Tiros foram disparados perto de Aramirã por volta das 18h, mas ninguém ficou ferido. “Acho que os garimpeiros estão atirando para assustar os Waiãpi”, disse Kureni Waiãpi.

Policiais federais e do Amapá foram até a área, segundo uma porta-voz da agência indígena brasileira Funai. “Por enquanto, não há registros de conflito, embora uma morte tenha sido confirmada, mas não temos nenhum detalhe das circunstâncias. O lugar é de difícil acesso”, disse ela.

O governo do Estado do Amapá disse que estava “empenhando todos os esforços para apoiar a Polícia Federal na investigação” e enviou uma tropa de policiais de elite para acompanhar as autoridades enviadas até a área.

Leia também 

Comunicar erro

close

FECHAR

Comunicar erro.

Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

Garimpeiros da Amazônia invadem aldeia indígena depois de cacique ser morto - Instituto Humanitas Unisinos - IHU