Brasil lidera ranking de mortes de defensores da terra e do meio ambiente

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27 Julho 2018

A Global Witness revela que pelo menos 207 defensores da terra e do meio ambiente foram mortos no ano passado – líderes indígenas, ativistas comunitários e ambientalistas assassinados tentando proteger suas casas e comunidades da mineração, do agronegócio e de outras indústrias destrutivas.

A reportagem é publicada por EcoDebate, 25-07-2018.

2017 foi o ano com o maior número de mortes já registrado para defensores da terra e do meio ambiente, sendo o agronegócio o setor mais ligado a assassinatos.

  • Os números anuais da Global Witness mostram que pelo menos 207 ativistas da terra e do meio ambiente foram mortos em 2017 em cerca de 22 países, quase 4 por semana, tornando-se o pior ano já registrado.
  • O relatório mostra um enorme aumento de assassinatos ligados a produtos para o consumidor. Ataques brutais àqueles que defendem suas terras contra a agricultura destrutiva – como a apropriação de terras para a produção de óleo de palma, usado em itens domésticos como o sabão e o café – estão em alta.
  • Esta situação incita criticamente governo e empresas a tomar medidas para acabar com os ataques e apoiar os defensores, com ativistas como Yuri Herrera, Margaret Atwood, Lily Cole, George Monbiot e Ben Fogle falando contra os assassinatos.

A Global Witness revela que pelo menos 207 defensores da terra e do meio ambiente foram mortos no ano passado – líderes indígenas, ativistas comunitários e ambientalistas assassinados tentando proteger suas casas e comunidades da mineração, do agronegócio e de outras indústrias destrutivas.

Sérios limites nos dados disponíveis significam que o total global é provavelmente muito maior. O assassinato é o exemplo mais notório de uma série de táticas usadas para silenciar os defensores, incluindo ameaças de morte, prisões, intimidação, ataques cibernéticos, agressões sexuais e ações judiciais. O relatório “A que preço?” mostra que o agronegócio ultrapassou a mineração como o setor mais associado a esses ataques.

Eles incluem o assassinato de Hernán Bedoya na Colômbia, baleado 14 vezes por um grupo paramilitar por protestar contra o óleo de palma e as plantações de banana em terras roubadas de sua comunidade; um massacre pelo exército de oito aldeões nas Filipinas que se opuseram a uma plantação de café em suas terras; e ataques violentos de fazendeiros brasileiros, usando facões e rifles, deixando 22 membros do povo indígena Gamela gravemente feridos, alguns com as mãos decepadas.

O relatório conecta essa violência com os produtos em nossas prateleiras: a agricultura em larga escala, a mineração, a caça ilegal, a extração de madeira, todos produzindo componentes e ingredientes para produtos de supermercado como o óleo de palma para xampus, a soja para carne bovina e a madeira para móveis.

O relatório também revela que alguns governos e empresas são cúmplices nos assassinatos, e por isso a Global Witness pede uma ação urgente se quisermos que essa tendência seja revertida. Assim como fazem parte do problema, governos e empresas podem fazer parte da solução. Eles devem encarar as principais causas dos ataques, garantindo, por exemplo, que as comunidades possam dizer “não” a projetos como a mineração em suas terras; apoiando e protegendo os defensores em risco e garantindo que a justiça seja feita para aqueles que sofrem com a violência.

Ben Leather, ativista sênior da Global Witness, disse:

“Ativistas locais estão sendo assassinados à medida que governos e empresas valorizam o lucro rápido sobre a vida humana. Muitos dos produtos com a origem nesse derramamento de sangue estão nas prateleiras de nossos supermercados. Comunidades corajosas enfrentam funcionários corruptos, indústrias destrutivas e devastação ambiental, e estão sendo brutalmente silenciadas. Basta.

“Governos, empresas e investidores têm o dever e o poder de apoiar e proteger os defensores em risco e garantir a responsabilização onde quer que os ataques ocorram. Mas o mais importante é que, antes de mais nada, eles possam evitar que essas ameaças surjam, ouvindo as comunidades locais, respeitando seus direitos e assegurando que os negócios sejam conduzidos com responsabilidade.

“Apesar das dificuldades que enfrenta, a comunidade global de defensores da terra e do meio ambiente não está desistindo – está ficando cada vez mais forte. Convidamos os consumidores a se unirem a nós em campanhas junto aos defensores, levando essa luta aos corredores do poder e às diretorias das corporações. Vamos garantir que suas vozes sejam ouvidas. E estaremos alerta para ajudar a garantir que eles, sua terra e o meio ambiente de que todos nós dependemos sejam devidamente protegidos.”

Outras constatações importantes incluem:

  • O Brasil contabilizou o pior ano registrado em todo o mundo, com 57 assassinatos em 2017.
  • 48 defensores foram mortos nas Filipinas em 2017 — o maior número já documentado em um país asiático.
  • 60% dos assassinatos registrados ocorreram na América Latina. O México e o Peru viram um salto nos assassinatos, de três para 15 e de dois para oito, respectivamente. A Nicarágua foi o pior lugar per capita, com 4 assassinatos.
  • Pela primeira vez, o agronegócio foi a indústria mais sangrenta, com pelo menos 46 assassinatos ligados ao setor. Os assassinatos ligados à mineração aumentaram de 33 para 40, e 23 assassinatos foram relacionados à exploração madeireira.
  • Enfrentar caçadores ilegais tornou-se ainda mais perigoso, com um recorde de 23 pessoas assassinadas por se posicionarem contra o comércio ilegal de animais selvagens — quase todas guardas florestais na África.
  • A Global Witness associou 53 dos assassinatos do ano passado a forças de segurança governamentais, e 90 a atores não estatais, como gangues criminosas.
  • Houve uma grande diminuição nos assassinatos de defensores da terra e do meio ambiente em Honduras, embora a repressão à sociedade civil em geral esteja pior do que nunca.
  • Nos últimos anos houve um aumento do reconhecimento e das ações tomadas por governos e empresas, mas muito mais precisa ser feito.

A campanha ganhou apoio de vários ativistas ambientais proeminentes, incluindo Yuri Herrera, Margaret Atwood, Lily Cole, George Monbiot, Ben Fogle, Paloma Faith e Martin Freeman.

Margaret Atwood, escritora disse:

“As comunidades que cuidaram e viveram da mesma terra por gerações estão sendo alvo de corporações e governos que querem apenas lucrar ao invés de apoiar o futuro das pessoas.”

“As histórias assustadoras de mulheres ameaçadas de estupro, casas incendiadas e famílias atacadas com facões são chocantes em nível individual. Coletivamente, elas mostram uma epidemia de violência contra os defensores da terra. Esta violação dos direitos humanos exige protestos vigorosos. Neste ano foram essas pessoas; no próximo ano, todos aqueles que levantarem a mão para impedir esta depredação da natureza que visa ganhos a curto prazo.”

“O relatório Global Witness mostra que até quatro defensores ambientais são mortos por semana protegendo suas terras, sua casa, seus meios de subsistência e suas comunidades. Precisamos aplaudir a coragem enorme que eles têm e nos empenhar em unir nossas vozes ao apoio contínuo dessa luta contra os que querem destruir suas terras para obter petróleo ou gás, derrubar suas árvores para obter madeira, desmatá-las para a agricultura intensiva não orgânica e poluente ou envenená-la com lixo industrial.”

Yuri Harrere, escritor disse:

“Se você se preocupa com o futuro de nosso planeta, com a preservação de nossa herança e dos habitats naturais que abrigam plantas e espécies raras, seja solidário com os defensores do meio ambiente que diariamente enfrentam perigos para proteger suas terras.

Este relatório da Global Witness mostra o nível chocante de violência que eles enfrentam – aqui no México e em todo o mundo. É preciso fazer mais a fim de proteger seus direitos humanos e levar à justiça aqueles que os violam de maneira cruel.”

George Monbiot, escritor e ativista ambiental disse:

“Os Defensores Ambientais estão na linha de frente de uma batalha geracional contra as mudanças climáticas. Nunca levaremos a sério a construção de um planeta mais verde, mais limpo e mais sustentável se não nos manifestarmos quando os governos e as grandes empresas trabalharem em estreita colaboração para tomar à força, desmantelar, perfurar e cultivar intensivamente terras que não são apenas vitais para a captura de carbono, mas também sustentam espécies raras de plantas e animais selvagens.

“A Global Witness e seus parceiros têm sido firmes na documentação da violência e dos assassinatos dirigidos a defensores da terra e do meio ambiente. Todos nós que nos preocupamos com os direitos humanos e a mudança climática devemos nos juntar a eles, não apenas somando nossas vozes à indignação, mas exigindo ações reais de governos e empresas para a proteção dos que defendem a terra e levando à justiça os criminosos que realizam esses ataques brutais.”

Paloma Faith, música e ativista disse:

“A brutalidade e a violência enfrentadas pelos Defensores do Meio Ambiente em todo o mundo diariamente são mesmo chocantes. E, no entanto, parece não haver consequências para muitos dos que realizam esses atos terríveis, mesmo quando alguém é morto tentando proteger sua terra ou seu modo de vida.”

“Apesar do clamor internacional, ainda não vimos ninguém enfrentar a justiça pelo assassinato brutal da ativista Berta Cáceres, que foi baleada em 2016 durante uma campanha para impedir a construção da represa de Agua Zarca, no Rio Gualcarque, em Honduras. Como muitos dos que viram seus entes queridos serem assassinados na busca por um mundo mais limpo, mais justo e mais sustentável, sua família ainda luta para que aqueles que a atacaram sejam responsabilizados. Todos devemos unir nossas vozes nesta luta – e pressionar o governo hondurenho para garantir que o caso de Berta e as violações dos direitos humanos contra milhares de militantes no país sejam devidamente investigadas.”

Ben Fogle, radialista, escritor e ativista ambiental disse:

“Os defensores estão protegendo alguns dos mais importantes habitats críticos para o clima e biodiversos do mundo. Sejam as poucas florestas tropicais intactas que estão sendo atacadas por extração ilegal de madeira ou pela agricultura intensiva, sejam os rios poluídos por resíduos industriais ou a erosão causada pela mineração de terras, a corrida pela exploração de espaços ricos e naturais está tendo um péssimo impacto no meio ambiente.

“Essas comunidades que estão lutando para proteger suas terras, suas casas e seus meios de subsistência fazem parte de uma luta global para proteger nosso planeta. Eu aplaudo sua coragem e espero que mais pessoas se unam a mim em solidariedade nesta campanha.”

Lily Cole, atriz, modelo e ativista ambiental disse:

“O relatório da Global Witness mostra como nosso apetite insaciável por mais e diferentes produtos alimentícios, por combustíveis fósseis insustentáveis e por minerais está tornando a vida impossível para muitas comunidades que dependem da terra. Transformamos suas casas e bairros em mercadoria altamente valorizada para empresas e governos que colocam o lucro acima das pessoas.”

“É hora de nos manifestarmos – e dizer para aqueles que veem a apreensão forçada de terras indígenas, ou as ameaças violentas às comunidades que fazem campanha contra a destruição de florestas, rios ou vastas planícies, que eles não podem mais escapar. Estaremos atentos para garantir que os produtos que chegam às nossas prateleiras não estejam banhados no sangue dos Defensores Ambientais e que as pessoas encontradas cometendo ou sendo cúmplices nos ataques enfrentem a força total da lei.”

At What Cost?: Defenders Annual Report 2017

Martin Freeman, ator, disse:

“O relatório da Global Witness nos lembra dos perigos enfrentados em todo o mundo por ativistas ambientais que enfrentam empresas ricas e poderosas, as quais são geralmente apoiadas por seus próprios governos. Esta batalha extremamente desequilibrada é em grande parte ignorada pela mídia, pelos líderes políticos e por aqueles de nós que têm o luxo de fazer campanhas por mudança em países onde a liberdade de expressão pode ser exercida.

“Para que possamos incentivar mudanças reais, devemos lembrar: a luta deles é a nossa luta. E até que todas as pessoas tenham proteção adequada, verdadeiro direito de governar o futuro de suas terras e acesso à justiça, continuaremos a protestar.”

Para acessar ou fazer o download do relatório clique aqui.

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