China: um futuro como superpotência científica

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07 Junho 2018

Recebi a cópia de uma carta de Lucia Votano, que já foi diretora dos Laboratórios Nacionais do Gran Sasso e agora colabora em um grande projeto de pesquisa sobre neutrinos na China, que foi enviada a ela e a outros físicos ocidentais por um colega, o professor Wei Wang.

A informação é de Pietro Greco, publicada por Settimana News , 06-06-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.

Tentarei resumir os conteúdos.

1. Queridos amigos, estou escrevendo porque em nossas universidades, aqui na China "temos um número praticamente "infinito" de vagas em físicas a serem preenchidas, que cobrem toda a gama de formação, do pós-doutorado a professor titular."

2. Nos próximos 3-5 anos, temos, por exemplo, 70 novos cargos a serem preenchidos na Escola de Física da Universidade de Guangzhou.

3. Nos próximos 3-5 anos, temos outros 70 cargos a serem preenchidos na Escola de Física em Zhuhai, que cobrem todas as áreas da física: de física das altas energias àquela da matéria.

4. Caros amigos, ajudem-me a encontrar bons candidatos para esses cargos. Aos quais todos podem se candidatar, de qualquer país de origem. Não importa que não falem chinês. Para aqueles que quiserem se candidatar à Escola de Física de Zhuhai, também garantimos a cobertura das despesas de viagem.

5. Divulgue o meu pedido (e nós, em nosso âmbito, queremos atender o convite do Professor Wang).

6. A título de comparação, a maior universidade da Europa – a Universidade Sapienza de Roma - em seu Departamento de Física tem 28 docentes titulares e 50 associados, por um total de 78 cargos. Portanto, é como se cada uma das duas escolas, aquela de Guangzhou e a de Zhuhai estivesse prestes a adicionou a seu próprio centro de pesquisa de física um departamento tão grande como o de Roma.

7. Incentivem os jovens pós-doc e pesquisadores para participar, porque é possível que possam satisfazer toda a demanda. Em outras palavras: é desejável, mas não necessário, que se candidatem associados ou titulares. Queremos (também e principalmente) jovens.

Deixamos a Wei Wang o comentário, porque dificilmente poderíamos encontrar palavras mais significativas:

«Yes, we are expanding at an amazing speed (I would not mind if you use another adjective for this)». Sim, estamos expandindo a uma velocidade incrível. Uso o adjetivo incrível para descrever nossa taxa de crescimento. Mas eu não me importaria se fosse encontrado outro melhor.

Claro, os números na China são grandes. Claro, não faltam problemas no país do Dragão. Mas é igualmente verdade que naqueles lados existem ideias claras e uma forte determinação para alcançá-las. Eles decidiram fundar seu futuro, até mesmo o econômico, na ciência. E com extraordinária lucidez eles se comportam de acordo. Há pelo menos duas décadas, Pequim aumentou seus investimentos com velocidade, de fato, incrível. E agora está abrindo as universidades chinesas para as cabeças estrangeiras. Estendendo tapetes vermelhos para conquistá-las.

O exato oposto do que acontece na Itália, onde os investimentos em pesquisa científica foram cortados na última década e que se colocam obstáculos muitas vezes intransponíveis, a pesquisadores estrangeiros que mostram interesse de vir ao país.

A velocidade incrível mencionada por Wei Wang não diz respeito apenas às escolas de Guangzhou e Zhuhai. No campo da física, na verdade, a Academia Chinesa de Ciências lançou uma série de programas que abrangem a pesquisa de base e que têm duas diretrizes: entrar de alguma forma nos grandes projetos e nas principais estruturas internacionais e propor projetos e criar estruturas nacionais. Uma das quais é justamente aquela onde trabalha Lucia Votano (e muitos outros italianos e europeus): o detector de matéria escura Pandex localizado no laboratório subterrâneo mais profundo do mundo. O site já tem um detector de neutrinos, mas se prepara para sediar um novo observatório de neutrinos (o projeto ao qual está dando a sua contribuição Lucia Votano) que estará pronto até 2020. Além de dispor de uma variedade de instalações que produzem luz de sincrotron. Das profundezas da terra ao céu: por exemplo, a criação de um radiotelescópio com uma abertura esférica de 500 metros.

Mas o desenvolvimento impetuoso da pesquisa básica não é apenas em física. Abrange toda a ciência no país do Dragão. Na biologia, por exemplo: os chineses agora detêm 30% da capacidade mundial de sequenciamento do DNA.

Mas, para ter uma visão geral, é melhor deixar a palavra para os analistas americanos que elaboraram o 2018 Global R & D Funding Forecast, o relatório publicado recentemente pela R&D Magazine:

"A China é agora considerada uma superpotência da pesquisa, com inúmeros projetos de Big Science já concluídos, com um impacto crescente do trabalho de seus cientistas, com mais pesquisadores e engenheiros de qualquer outro país do mundo, com um programa espacial dinâmico e agressivo, com uma crescente produção de artigos científicos em comparação com o total global”.

E, de fato, hoje a China forma engenheiros mais jovens do que aqueles que residem nos Estados Unidos. E enquanto nos mesmos Estados Unidos e na Europa todas as instalações de pesquisa devem se confrontar com restrições, mais ou menos amplas, dos orçamentos, na China o dinheiro a disposição é muito e continua a aumentar. Um ritmo, de fato, incrível. Também porque - continuam os analistas da R& D Magazine - a classe dirigente de Pequim realmente acredita que o principal atalho para a liderança mundial da China está na liderança científica e tecnológica.

Nem mais nem menos, poderíamos acrescentar, do que alegava Vannevar Bush no início do verão de 1945 sobre os Estados Unidos da América em seu famoso relatório, Science, the Endless Frontier.

O que chama a atenção na política de pesquisa chinesa não é apenas a velocidade sem precedentes, mas também a constância e a determinação com que é realizada. São pelo menos 20 anos que a taxa de crescimento dos investimentos em P&D (pesquisa e desenvolvimento) na China é três vezes maior do que no resto do mundo. Tanto é assim que, a partir de uma condição quase marginal no início dos anos 1990, agora o país ultrapassou em valor absoluto os investimentos (444,8 bilhões de dólares em 2017, com o mesmo poder de compra da moeda) da União Européia (incluindo o Reino Unido) e agora ameaça de perto os Estados Unidos (que investiram US $ 537,6 bilhões em 2017). A superação do país norte-americano acontecerá, o mais tardar, em 2026. E, então, afirmam ainda os analistas da R& D Magazine, a China vai ser “a” superpotência científica do planeta.

Reproduzimos a informação do site Scienza in Rete do relato de Pietro Greco (publicado 13 de maio de 2018) sobre a política agressiva do governo chinês em matéria de pesquisa e desenvolvimento científico.

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China: um futuro como superpotência científica - Instituto Humanitas Unisinos - IHU