Os quatro mandamentos do Papa Francisco sobre o meio ambiente

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23 Março 2018

21 de março, Dia Internacional das Florestas. 22 de março, Dia Mundial da Água... Não é coincidência que ambas as datas sejam celebradas tão perto uma da outra. No entanto, são duas ocasiões de reflexão que passam despercebidas, lembradas apenas de passagem ou são temas de intervenções de cientistas, ambientalistas ou biólogos.

A reportagem é de Francesco Gagliano, publicada por Religión Digital, 22-03-2018. A tradução é de André Langer.

Às vezes, muito frequentemente, pode parecer que o cuidado do planeta Terra, ou como disse o Papa Francisco a nossa casa comum, é considerado um assunto para especialistas e os outros, mas não uma preocupação de todos.

A corrida insensata do homem atrás do progresso a todo custo foi feita à custa do meio ambiente e da biosfera, uma realidade paradoxal, porque a vida, e em particular a humana, depende precisamente desse ambiente e dessa biosfera, depende do equilíbrio maravilhoso e frágil do planeta.

Os apelos e iniciativas com vistas a conscientizar para a necessidade de reverter a marcha da poluição incontrolável, do desmatamento e das mudanças climáticas, ganham grande consenso no imediato, mas depois, infelizmente, com o passar do tempo, enfraquecem ou simplesmente são esquecidos, especialmente quando os refletores da imprensa são desligados; com outras palavras, quando o assunto já não está mais na ordem do dia.

Com relação às florestas, basta citar alguns dados para compreender a gravidade da situação: 96% do desmatamento afeta duas das áreas mais florestadas do planeta: a Indonésia e a Amazônia. O Greenpeace confirma que na origem desses fenômenos está sempre a mão humana, e quase sempre vinculada a sistemas ilegais, como o cultivo intensivo de óleo de palma, a extração ilegal de madeira ou a mineração, que provocam grave poluição do ar, do solo e das fontes hídricas.

A FAO recorda que perder as árvores (na Itália, estima-se que existam 11 bilhões, ou seja, 200 árvores por habitante) significa renunciar ao futuro e à vida. As árvores são reguladoras essenciais do clima e permitem economizar entre 20% e 50% da energia usada para o aquecimento. Se estas árvores fossem plantadas em grandes cidades com critérios científicos estratégicos, seria possível diminuir as temperaturas neutralizando em 30% a necessidade de ar condicionado ou dos climatizadores. As árvores capturam as chamadas poeiras sutis e absorvem grandes quantidades de CO2 e, por isso, são o melhor e mais eficaz instrumento que o homem tem para combater a mudança climática.

Essa realidade fez crescer muito a consciência sobre a importância da proteção de áreas verdes e a luta contra o desmatamento. Um compromisso que traz vantagens econômicas, como mostram estudos da State University de New York, em colaboração com a Università de Nápoles (Itália), que confirmam que um quilômetro quadrado de área de floresta em uma cidade é avaliado em um milhão de euros.

Por outro lado, há a questão da água. Há muitos que citam o Papa Francisco e os parágrafos da encíclica Laudato Si’, onde, em quatro pontos, Jorge Mario Bergoglio desenvolve e expõe as principais ideias sobre o problema. Estas são as quatro principais ideias (cf. n. 28-31):

1) A água potável e limpa constitui uma questão de primordial importância, porque é indispensável para a vida humana e para sustentar os ecossistemas terrestres e aquáticos

As fontes de água doce abastecem os setores sanitários, agropecuários e industriais. A disponibilidade de água manteve-se relativamente constante durante muito tempo, mas agora, em muitos lugares, a procura excede a oferta sustentável, com graves consequências a curto e longo prazo. Grandes cidades que dependem de um nível significativo de armazenamento de água sofrem períodos de declínio do recurso, que nos momentos críticos nem sempre é administrado com gestão adequada e imparcialidade. A pobreza da água pública acontece especialmente na África, onde grandes setores da população não têm acesso a água potável segura, ou sofrem secas que impedem a produção de alimentos. Em alguns países há regiões com água abundante e ao mesmo tempo outras que sofrem grave escassez.

2) Um problema particularmente sério é o da qualidade da água disponível para os pobres, que diariamente ceifa muitas vidas

Entre os pobres, são frequentes as doenças relacionadas com a água, incluindo aquelas causadas por microorganismos e por substâncias químicas. A diarreia e o cólera, relacionados a serviços higiênicos e abastecimento de água inadequados, são um fator significativo de sofrimento e de mortandade infantil. Em muitos lugares, os lençóis freáticos estão ameaçados pela poluição causada por algumas atividades extrativas, agrícolas e industriais, especialmente em países onde não há regulamentações e vigilâncias suficientes. Não devemos pensar apenas nas descargas provenientes das fábricas. Os detergentes e produtos químicos utilizados pela população em muitos lugares do mundo continuam a ser derramados em rios, lagos e mares.

3) Tendência a privatizar este recurso escasso, tornando-se uma mercadoria sujeita às leis do mercado

Enquanto a qualidade da água disponível piora constantemente, em alguns lugares cresce a tendência para se privatizar esse recurso escasso, tornando-se uma mercadoria sujeita às leis do mercado. Na realidade, o acesso à água potável é um direito humano básico, universal e fundamental, porque determina a sobrevivência das pessoas e, portanto, é condição para o exercício dos outros direitos humanos. Este mundo tem uma grave dívida social com os pobres que não têm acesso à água potável, porque isso é negar-lhes o direito à vida com base em sua dignidade inalienável. Essa dívida é parcialmente saldada com maiores contribuições econômicas para prover de água potável e saneamento as populações mais pobres. Entretanto, há um desperdício de água não apenas nos países desenvolvidos, mas também nos países menos desenvolvidos que possuem grandes reservas. Isso mostra que o problema da água é, em parte, uma questão educativa e cultural, porque não há consciência da gravidade desses comportamentos em um contexto de grande desigualdade.

4) Água, alimentos e conflitos

Uma maior escassez de água provocará o aumento do custo dos alimentos e de vários produtos que dependem do seu uso. Alguns estudos alertaram para o risco de sofrer uma aguda escassez de água dentro de poucas décadas, caso não forem tomadas medidas urgentes. Os impactos ambientais poderiam afetar bilhões de pessoas, sendo previsível que o controle da água por grandes empresas globais se transforme numa das principais fontes de conflitos deste século.

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