A aceleração do degelo global

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17 Janeiro 2018

"A crise dos refugiados da guerra da Síria ou do Iêmen vai parecer um acontecimento trivial perto da crise gerada pela invasão das águas salgadas nas costas litorâneas de todo o mundo. Parece que o futuro será menos doce e mais salgado", escreve EcoDebate, José Eustáquio Diniz Alves, doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE, em artigo publicado por EcoDebate, 15-01-2018.

Eis o artigo.

Os anos de 2016 e 2017 bateram todos os recordes de degelo global. Com o aquecimento da temperatura, a tendência de perda do gelo nos polos e nos glaciares é bastante clara. A curva apresentada no gráfico acima tem uma distribuição bimodal, pois o hemisfério Sul tem pico de gelo em junho e julho e um pico de degelo em fevereiro e março. O máximo do gelo global acontece entre os meses de outubro e novembro. Seguindo as curvas anuais (todas com este mesmo tipo bimodal de distribuição), nota-se que elas mostram uma tendência de queda em relação à média de 1981-2010, sendo que a redução do gelo foi especialmente acentuada nos dois últimos anos.

Porém, chama a atenção que o padrão de queda na extensão de gelo, desde setembro de 2016, não tem paralelo nos últimos 40 anos, quando se começou as medidas por satélite. A curva de 2016 sofreu uma queda abruta no último trimestre do ano (outubro a dezembro) e continuou batendo recordes de baixa nos quatro primeiros meses de 2017.

O filme “Before the Flood” retrata como a civilização está gerando problemas crescentes no Planeta e é um poderoso instrumento de conscientização dos problemas climáticos e da grave crise ambiental por que passa a humanidade. A probabilidade de colapso ambiental tende a aumentar enquanto o governo Donald Trump corta os gastos para a proteção do meio ambiente e aumenta os gastos militares e os incentivos para a indústria fóssil. Incentivar o consumo conspícuo e retirar os EUA do Acordo de Paris é reforçar a perspectiva de desastre.

Enquanto a governança global está sobre ameaça devido ao crescimento do nacionalismo e do militarismo, o Acordo de Paris está sob ameaça e vai ficando difícil interromper o processo de degelo nos polos, que bateram todos os recordes em 2016 e 2017, como mostra os gráficos abaixo da National Snow & Ice Data Center (NSIDC).

Assim o aquecimento global continua sendo a maior ameaça civilizacional e o declínio do volume global de gelo (incluindo Groenlândia e os glaciares) é uma realidade inquestionável e extremamente grave, como mostra o gráfico abaixo.

O fato inescapável é que o aumento das emissões de gases de efeito estufa (a queima de combustíveis fósseis, liberação de gás metano na pecuária e o degelo do permafrost, etc.) eleva a temperatura da atmosfera e dos oceanos e aumenta o degelo global, acelerando a elevação do nível dos oceanos. A Groenlândia tem o potencial de elevar os oceanos em, pelo menos, 6 metros e a Antártica em mais de 60 metros. O degelo total pode provocar a subida em mais de 70 metros. Mas apenas 3% de degelo global já seria suficiente para elevar as águas marinhas em mais de 2 metros, nível capaz de provocar grandes danos. A cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, é uma das mais vulneráveis do Brasil e é a maior aglomeração urbana a ser atingida pela elevação dos oceanos.

Há dois bilhões de pessoas que vivem a menos de dois metros do nível do mar no mundo. O naufrágio das áreas costeiras vai, dentre outros efeitos, agravar o problema dos deslocados e refugiados do clima. Muitas áreas agricultáveis nos deltas dos rios ficarão imprestáveis para a geração de comida, podendo gerar grande insegurança alimentar. A crise dos refugiados da guerra da Síria ou do Iêmen vai parecer um acontecimento trivial perto da crise gerada pela invasão das águas salgadas nas costas litorâneas de todo o mundo. Parece que o futuro será menos doce e mais salgado.

Referências:

Leonardo DiCaprio. Before the Flood (Legendado em português), National Geography, 31 de out de 2016

NSIDC – National Snow & Ice Data Center.

ArctischePinguin.

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