Papa Francisco denuncia resistência à reforma do Vaticano no discurso de Natal à Cúria

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06 Janeiro 2017

O Papa Francisco atacou prelados católicos de alto nível que se opuseram a seus esforços para reformar a burocracia central do Vaticano, nessa quinta-feira, em um encontro anual antes do Natal, dizendo que enquanto alguns cardeais e arcebispos questionam em um espírito de boa vontade, outros têm uma "resistência perversa".

A reportagem é de Joshua J. McElwee, publicada por National Catholic Reporter, 22-12-2016. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.

Essa sombria oposição, disse o pontífice, "brota de mentes distorcidas e apresenta-se quando o diabo inspira más intenções, refugiando-se na tradição, na aparência, na formalidade, no conhecido, ou no desejo de tornar tudo pessoal sem distinção entre ato, ator e ação."

Francisco falou na quinta-feira, em uma reunião anual que, em papados anteriores, haviam sido simplesmente um encontro educado para trocar saudações antes das férias.

Mas em 2014 Francisco chocou a burocracia do Vaticano, conhecida como a Cúria Romana, aproveitando a ocasião para listar 15 "doenças espirituais" que ele disse ter testemunhado entre eles. Em 2015, apresentou o que ele chamou de um "catálogo de virtudes" para ajudá-los a superar tais doenças.

Este ano, o Papa delineou 12 diretrizes utilizadas por ele para a reforma da Cúria. Mas primeiro ele novamente criticou os religiosos, voltando àqueles que têm resistido a suas mudanças.

Além dos que se opõem perversamente, o pontífice identificou casos de resistência "aberta" e "oculta", segundo ele.

Francisco disse que a resistência aberta muitas vezes "advém de boa vontade e do diálogo sincero", mas que a resistência oculta "nasce de corações temerosos ou endurecidos, satisfeitos com a retórica vazia de uma reforma espiritual complacente, por parte daqueles que se dizem prontos para a mudança, mas querem que tudo continue como está".

O Papa declarou que, em relação às reformas do Vaticano, as pessoas devem observar que o comando central da Igreja "não é um aparato burocrático imóvel".

Usando a frase em latim Ecclesia semper reformanda est ("A Igreja está sempre em transformação"), Francisco disse que as pessoas devem ver, nas mudanças do Vaticano, "acima de tudo, um sinal de vida, uma Igreja que avança em seu caminho de peregrina, uma Igreja que vive e por isso está sempre em transformação; precisando de mudanças por estar viva".

"É necessário reiterar com convicção que a reforma não é um fim em si mesma, mas é um processo de crescimento e, acima de tudo, de conversão", disse o Papa.

"A reforma, então, não tem um objetivo estético para deixar a Cúria mais bonita", continuou ele, acrescentando que não era como fazer uma maquiagem como um "truque para embelezar o corpo curial antigo", ou como uma cirurgia plástica para remover rugas.

"Queridos irmãos, não são rugas que a Igreja deve temer, mas sim sinais!" exortou o pontífice aos cardeais e bispos.

"A reforma só será eficaz se for realizada por homens "renovados", e não simplesmente "novos homens", disse o Papa Francisco. "Não podemos nos contentar com a mudança de pessoal, mas temos de trazer os membros da cúria para uma renovação espiritual, humana e profissional."

"Nós precisamos... de uma conversão e uma purificação permanentes", prosseguiu o Papa. "Sem uma mudança de mentalidade, o esforço operacional seria inútil."

Francisco, em seguida, apresentou aos prelados suas 12 diretrizes para a reforma: o individualismo, o interesse pastoral, o zelo missionário, a organização clara, a funcionalidade, a modernização, a sobriedade, a subsidiariedade, a sinodalidade, a catolicidade, o profissionalismo e o gradualismo.

A respeito da organização clara, o Papa disse que precisava reorganizar os diferentes escritórios da burocracia do Vaticano "com base no princípio de que todos os Dicastérios são juridicamente iguais".

"Cada dicastério tem suas próprias áreas de competência", disse ele. "Essas áreas de competência devem ser respeitadas, mas também devem ser distribuídas de uma forma razoável, eficiente e produtiva."

O Papa abordou o tema da modernização usando o termo italiano aggiornamento, que significa uma "atualização" e ficou famosa durante o Concílio Vaticano II. Ele disse que tal atualização "envolve uma capacidade de interpretar e atender aos 'sinais dos tempos'".

Em termos de sinodalidade, Francisco disse que um sentido de abordagem sinodal para a gestão "deve ser evidente" no trabalho de cada escritório do Vaticano. Os diferentes escritórios, disse ele, "devem evitar a fragmentação causada por fatores como a multiplicação de setores especializados, que tendem a tornar-se autorreferenciais".

Para mencionar a catolicidade, o pontífice disse que cada um dos escritórios do Vaticano deve ser composto por membros que representem a diversidade da Igreja em diferentes partes do mundo.

O Papa disse que prevê "um maior número de leigos, especialmente nos dicastérios onde eles podem ser mais competentes do que clérigos ou pessoas consagradas", e, segundo ele, "valorizar o papel das mulheres também é de grande importância".

Francisco terminou a sua fala de quase 45 minutos com uma lista de 18 passos seus no processo de reforma até agora, começando com a sua criação do Conselho Consultivo dos Cardeais, em abril de 2013, e culminando com a sua aprovação dos novos estatutos para a Pontifícia Academia para a Vida em outubro de 2016.

Entre os ​​movimentos de reforma mais notáveis está a criação de três novos escritórios globais do Vaticano: da Secretaria da Economia, que centraliza a maioria dos escritórios financeiros da cidade-estado; do Dicastério para os Leigos, Família e Vida, que fundiu esforços do Vaticano acerca dessas questões; e do Dicastério para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral, que entrará em vigor em 1º de janeiro.

Ao final da reunião, o Papa cumprimentou os cardeais e bispos um por um e deu a cada um deles uma cópia do livro Procedimentos para curar as enfermidades da alma, do padre jesuíta Claudio Acquaviva, um italiano do século XVI que foi o quinto superior-geral de sua ordem.

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