Francisco desloca a Igreja para o Sul e o Oriente

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12 Outubro 2016

"O modo pelo qual o Papa Francisco lê os acontecimentos é o do discernimento espiritual derivado do Evangelho. O primado é do Evangelho, da Palavra de Deus. Por isso, na sua visão da Igreja, ele supera a dimensão do espaço interno eclesial e se abre à companhia dos homens, quem quer que eles sejam. A concepção do magisterium na Igreja do Papa Francisco é a de quem ensina e de quem ouve. Mas sobretudo de quem acompanha."

A opinião é de Gianfranco Brunelli, diretor da revista italiana Il Regno, do Centro Editorial Dehoniano de Bolonha. O artigo foi publicado no jornal Il Sole 24 Ore, 11-10-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

O centro de gravidade do pontificado se desloca para o Sul e para o Oriente. "Tenho a alegria de anunciar que, no sábado, 19 de novembro, às vésperas do encerramento do Jubileu, vou realizar um consistório para a nomeação de 13 novos cardeais, de 11 nações." Assim o Papa Francisco, no domingo, no Ângelus, comunicou o seu terceiro consistório para a criação de novos cardeais.

Com essas novas nomeações, Francisco renova em um terço os cardeais atualmente votantes (com menos de 80 anos) em um eventual conclave. De fato, são 44 de 120 os cardeais que o Papa Francisco nomeou até hoje.

No voo de volta de Baku, o papa tinha explicado aos jornalistas que a lista das nomeações cardinalícias a ser feita era longa, e os lugares eram só 13. Acrescentando: "É preciso pensar em fazer um equilíbrio. Eu gosto de ver no Colégio Cardinalício a universalidade da Igreja: não só o centro – por assim dizer – europeu; mas todas as partes".

A lista inclui três europeus, três latino-americanos, três estadunidenses, dois africanos, um asiático e um da Oceania. Os novos cardeais provêm da Itália, República Centro-Africana, Espanha, Brasil, EUA, Bangladesh, Venezuela, Bélgica, Ilhas Maurício, México, Papua Nova Guiné.

Somam-se a eles – disse o papa – também quatro cardeais com mais de 80 anos: um arcebispo, dois bispos eméritos e um presbítero. "Eles representam tantos bispos e sacerdotes que, em toda a Igreja, edificam o povo de Deus, anunciando o amor misericordioso de Deus no cuidado cotidiano do rebanho do Senhor e na confissão da fé". Trata-se de Anthony Soter Fernandez, arcebispo emérito de Kuala Lumpur; Renato Corti, bispo emérito de Novara; Sebastian Koto Khoarai, bispo emérito de Mohale’s Hoek, no Lesoto; e Ernest Simoni, presbítero da arquidiocese de Scutari-Pult, na Albânia.

Em relação ao conclave que elegeu Francisco, a Europa passa de 60 para 54 (os italianos, de 28 para 25). A África, de 11 para 14. A Ásia e a Oceania, de 11 para 18. A América do Norte continua com 17. A América Latina, de 16 para 17.

É difícil ler esses nomes no continuum "progressistas-conservadores". Somando os consistórios, certamente há um reequilíbrio global no que diz respeito às nomeações predominantemente conservadoras (às vezes intransigentes) dos pontificados anteriores. Blase J. Cupich, arcebispo de Chicago, representa uma inversão de tendência em relação ao episcopado dos Estados Unidos, onde, até recentemente, alguns bispos fizeram um endosso público do candidato Donald Trump.

Carlos Osoro Sierra, arcebispo de Madri, é uma concepção diferente do papel da Igreja espanhola, tanto nas relações com a sociedade e a política na Espanha, quanto como projeção de uma política eclesiástica puramente conservadora em todo o continente latino-americano, assim como tinha sido durante o longo episcopado de Rouco Varela e a sua presidência na Conferência Episcopal Espanhola.

Jozef De Kesel, arcebispo de Malines-Bruxelas, marca o retorno a uma visão teológica mais conciliar, certamente mais próxima da linha do arcebispo Danneels do que da do bispo intermediário, Dom Léonard.

Trata-se, principalmente, de nomeações que confirmam a visão georreligiosa e eclesial do Papa Francisco. A África, a Ásia, especialmente, e em parte a América Latina são os lugares para os quais a Igreja Católica se move. Trata-se de regiões do mundo de crescente influência em nível internacional, mas também de áreas onde o catolicismo está em expansão. Enquanto a Europa declina.

No plano eclesiológico, Francisco confirma a sua linha: privilegia bispos pastores, espiritualmente formados, dispostos a sinais e a gestos também radicais de testemunho. Vão nessa linha tanto a nomeação do núncio italiano Zenari, atualmente na Síria, e que – disse o papa – permanece lá, quanto o gesto simbólico em relação a Dom Corti, bispo emérito de Novara, homem de profunda espiritualidade, a quem Francisco havia pedido as meditações para a Via Sacra de 2015; ou em relação a um simples sacerdote que gastou a sua vida ao lado dos pobres, como o albanês Ernest Simoni.

O modo pelo qual o Papa Francisco lê os acontecimentos é o do discernimento espiritual derivado do Evangelho. O primado é do Evangelho, da Palavra de Deus. Por isso, na sua visão da Igreja, ele supera a dimensão do espaço interno eclesial e se abre à companhia dos homens, quem quer que eles sejam. A concepção do magisterium na Igreja do Papa Francisco é a de quem ensina e de quem ouve. Mas sobretudo de quem acompanha.

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