Multidão exige renúncia de Cartes e anulação do caso Curuguaty

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18 Agosto 2016

Uma multidão tomou as ruas de Assunção na última segunda-feira (15), no aniversário da capital paraguaia, para defender “a imediata anulação do julgamento dos camponeses de Curuguaty e a renúncia do presidente Horacio Cartes”.

A reportagem é de Leonardo Wexell Severo, publicada por Brasil de Fato, 17-08-2016.

Portando bandeiras paraguaias, faixas e cartazes, trabalhadores do campo e da cidade, estudantes, mulheres e indígenas se concentraram em frente ao Tribunal de Justiça, onde há um mês foi erguida a “Barraca da Resistência”, para exigir a libertação dos sem-terra condenados a até 35 anos de prisão.

A marcha denunciava que os camponeses foram vítimas de uma farsa jurídica para justificar a destituição do presidente Fernando Lugo e lembrava a criminalização da luta pela reforma agrária. Os manifestantes, que tomaram o centro da capital, exigiram também um “basta na política neoliberal de arrocho salarial, privatizações e concessões ao capital estrangeiro”.

“Cartes que renuncie, Cartes que se vá, com seu gabinete, por ser vende-pátria”, “Reforma agrária, urgente e necessária” e “Não queremos e não permitiremos que um narco-presidente oprima nossa gente” foram as palavras de ordem mais entoadas. Para denunciar o promotor do caso Curuguaty, Jalil Rachid, posteriormente indicado pela presidência para ser vice-ministro da Segurança, os manifestantes reiteraram: “Jalil, covarde, tuas mãos têm sangue”.

“A injustiça que fizeram contra os camponeses de Curuguaty nos sensibiliza e nos trouxe até aqui para manifestar nossa solidariedade, porque eles estavam e estão lutando para defender os direitos de todos. Além de tudo, esta perseguição abre um perigoso precedente”, afirmou Daniel González, secretário-geral do Sindicato dos Trabalhadores da Cerâmica Paraguai. O sindicalista denunciou que “faz dois anos que os salários não sobem, enquanto as empresas exigem cada vez mais”.

Terra e soberania

“A causa de Curuguaty está servindo de ponta de lança para levantar o nosso povo na luta pela terra e pela soberania nacional. As pessoas estão tomando consciência de que se temos companheiros presos e mais de 120 trabalhadores rurais foram assassinados no último período, é porque temos um governo títere, submisso aos interesses do grande capital, principalmente estrangeiro”, declarou Ariel Vera Novara, da juventude do Congresso Democrático do Povo.

Dirigente da Federação Nacional Camponesa, Marcial Gomez assinalou que a manifestação foi expressiva. “porque foi convocada para exigir a renúncia de Cartes e a anulação da injusta sentença de Curuguaty”. Afinal, disse, “lá se vão três anos de um governo que representa a oligarquia latifundiária e agroexportadora, os especuladores financeiros, a ‘narco-ganaderia’ e a narco-política”.

Cartes significa perseguição, repressão, violência e militarização. Um dos exemplos é a condenação dos camponeses de Marina Kue, que apenas lutam por um pedaço de terra”, comenta Gomez. “Neste período, aumentou imensamente a dívida pública, privilegiando os especuladores, enquanto não se investe no desenvolvimento, nem em infraestrutura, com o setor rural completamente abandonado, pois não há nem crédito, nem assistência técnica nem mercado para os produtos dos pequenos agricultores. Ao mesmo tempo, a saúde e a educação vão caindo aos pedaços. Somente na última semana caíram três escolas”, ressaltou o dirigente.

Nádia Villagra, militante da Organização de Mulheres Camponesas e Indígenas (Conamuri), disse ter acampado com dezenas de ativistas para “mostrar que os companheiros de Curuguaty não estão sós”. “Não podemos permitir que, por lutar por um pedaço de terra, Rubén Villalba tenha sido condenado a 35 anos de prisão, Luis Olmedo a 20 anos e Arnaldo Quintana e Nestor Castro a 18 anos. Também é inaceitável ver que as mulheres que estavam no acampamento tenham recebido penas de seis anos de prisão domiciliar e sejam obrigadas a ficar em casa, sem poder sair para trabalhar e sustentar os filhos”, condenou.

Dirigente da Conamuri no departamento de San Pedro, Josefina Ruiz Diaz alertou que “no Paraguai de Cartes se mata e se manda matar, se sequestra e se desaparece, da mesma forma como na época da ditadura de Alfredo Stroessner (1954-1989)”. “A estratégia de criminalização e intimidação é clara: queimam tratores e grãos, se impõe Estado de Sítio - como está em vigor em algumas regiões - tudo para que vença a lógica da devastação. No campo, é para remover os pequenos agricultores e fazer proliferar a soja e o milho transgênico para exportação, matando a fauna e a flora nativas com o uso criminoso e indiscriminado de pesticidas”, acrescentou.

Conforme Belén Romero Sanchez, militante camponesa do Alto Paraná, “o 15 de agosto foi uma data histórica de repúdio à narco-política, ao governo antinacional, antipopular e privatista de Cartes, que joga na miséria a nossa população”. “Este é um governo da ultradireita, da oligarquia mafiosa que militarizou o país para pisotear direitos e fazer valer a lógica da tremenda acumulação de riqueza”, frisou Belén, denunciando o envolvimento do “antro corrupto dos três poderes”. “Executivo, Legislativo e Judiciário estão sintonizados contra os interesses maiores do povo paraguaio e isso não vamos permitir”, enfatizou.

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