Tráfico de migrantes: 38 presos em toda a Itália

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06 Julho 2016

Fala o traficante eritreu arrependido e preso em 2015: aqueles que não tinham o dinheiro suficiente para a viagem eram assassinados para a coleta e a venda de órgãos.

A reportagem é de Francesco Viviano e Alessandra Ziniti, publicada no jornal La Repubblica, 04-07-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Aos homens do Grupo Móvel de Palermo e do Serviço Central Operativo, o arrependido Noureddin Atta entregou fotos e vídeos. Aterrorizante. Que testemunham como, entre os outros florescentes negócios da máfia da imigração que operam do outro lado do Canal da Sicília, há também o tráfico de órgãos.

Órgãos das centenas de migrantes que não aguentam e são mortos ainda antes de começar a travessia de barco, que não têm dinheiro para pagar o resgate exigido pelas famílias aos traficantes, mas também órgãos de crianças.

É o capítulo mais dramático da terceira seção da investigação com a qual a Procuradoria de Palermo ordenou a prisão de outras 38 pessoas suspeitas de pertencer à organização dos traficantes de pessoas dirigida por Medhanie Mered, o criminoso líbio preso em maio no Sudão e que, nessa segunda-feira, compareceu perante o juiz da audiência preliminar de Palermo para o pedido de indiciamento. Uma audiência em que está prevista uma batalha, já que a defesa insiste em dizer que há um equívoco de pessoa, e que o jovem preso não é o traficante de pessoas.

"Às vezes, os migrantes não têm dinheiro para pagar a viagem que fizeram por terra, nem a quem se dirigir para pagar a viagem no mar. Então, foi-me dito que essas pessoas que não podem pagar são entregues a egípcios por uma soma de cerca de 15 mil dólares. Em particular, esses egípcios estão equipados para extrair os órgãos e transportá-los em bolsas térmicas", contou o arrependido Nouredin Atta, traficante de pessoas eritreu, que decidiu colaborar com a justiça e em cujas declarações se baseia boa parte da investigação.

A rede criminosa

Formação de quadrilha voltada ao favorecimento da imigração clandestina, ao exercício abusivo da atividade de intermediação financeira e ao tráfico internacional de drogas são os crimes imputados aos 38 membros da rede criminosa.

Pela primeira vez, a Direção Distrital Antimáfia de Palermo identificou enormes fluxos de dinheiro, encontrando, em uma loja de Roma, o centro das operações de transação efetuadas com o chamado método "hawala", que se baseia na palavra e na confiança de uma rede de mediadores.

Em uma loja de perfume da Via Volturno, em Roma, os agentes apreenderam 526 mil euros e 25 mil dólares em dinheiro, além de um livro-caixa com centenas de nomes estrangeiros. As investigações permitiram averiguar que, a quem pagava mais, a organização era capaz de garantir a chegada à Itália não por mar, mas mediante reintegração familiar.
 
Casamentos falsos para chegar à Europa

De 10 a 15 mil euros a mais. Quem pode, paga. E, com um certificado de casamento falso, consegue chegar à Europa por terra ou, dependendo das zonas de origem, até mesmo de avião, sem arriscar a vida nos botes e barcos quebrados.

O dinheiro, via Dubai, chegava em uma rua loja da Via Montebello, em Roma, em frente ao Ministério da Infraestrutura. O método das falsas reintegrações familiares, que os traficantes humanos líbios reservavam às famílias mais abastadas, revela-se como outro método com o qual a rede criminosa – que é investigada pela Procuradoria de Palermo há anos – teria feito chegar à Europa centenas de pessoas, que teriam fingido que deveriam se reintegrar a maridos ou esposas já residentes na Europa.

Quem pagava as somas, de acordo com rastros no livro-caixa recuperado pelos investigadores do Serviço Central Operativo em uma perfumaria da Via Volturno em Roma, eram os familiares dos migrantes já expatriados, que pagavam em dinheiro ou no método hawalano, ou seja, fingindo uma transação comercial.

Traficantes italianos

Entre os 38 detidos nessa segunda-feira, há também um italiano, Marco Pannelli, de Macerata, 46 anos. Quem denunciou o seu nome foi o arrependido da organização. "Também haveria italianos envolvidos na organização", conta o arrependido Atta. "Um se chama Valentino e foi preso na Alemanha. O outro se chama Marco e se encontra em Perugia. Tanto Valentino quanto Marco trabalham com um furgão, com o qual transportam cerca de 14 pessoas por semana, em nome da organização."

Negócios com ouro e droga

Cerca de 300 mil euros por semana é o volume dos negócios adicionais, que o gestor eritreu da perfumaria nos arredores da estação Termini, em Roma, entregava todos os sábados a outro emissário eritreu, que, por sua vez, desviava o dinheiro para a Líbia.

Na loja romana e em um bar no Vicolo Santa Rosalia, em Palermo, no verão de 2015 (quando a organização teria feito chegar à Itália ao menos quatro mil pessoas), migrantes recém-chegados receberiam telefonemas dos seus familiares e mais transferências de dinheiro para continuar a viagem até o seu destino final. As metas preferidas eram a Holanda e a Suécia.

As transferências de dinheiro foram documentadas por microespiões e câmeras plantadas pela polícia nas duas lojas que, na Itália, eram os pontos de referência da organização. Tráfico de seres humanos, de órgãos, mas também de drogas. Nos botes, junto com as milhares de pessoas enviadas a partir da Líbia, os traficantes também faziam chegar drogas, uma substância estupefaciente chamada khat, proveniente da Etiópia.

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