17 Abril 2024
"A primeira lei ecológica mundial foi baixada pelo rei da Suécia 400 anos atrás proibindo durante 20 anos o desmatamento para a produção de carvão. Isso há 400 anos. Em 2022, a Suécia encerrou a atividade da última usina a carvão do país. O Pará as multiplica", escreve Lúcio Flávio Pinto, em artigo publicado por Amazônia Real, 11-04-2024.
Lúcio Flávio Pinto é jornalista desde 1966. Sociólogo formado pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo, em 1973. Editor do Jornal Pessoal, publicação alternativa que circula em Belém (PA) desde 1987. Autor de mais de 20 livros sobre a Amazônia, entre eles, Guerra Amazônica, Jornalismo na linha de tiro e Contra o Poder. Por seu trabalho em defesa da verdade e contra as injustiças sociais, recebeu em Roma, em 1997, o prêmio Colombe d’oro per La Pace. Em 2005 recebeu o prêmio anual do Comittee for Jornalists Protection (CPJ), em Nova York, pela defesa da Amazônia e dos direitos humanos. Lúcio Flávio é o único jornalista brasileiro eleito entre os 100 heróis da liberdade de imprensa, pela organização internacional Repórteres Sem Fronteiras em 2014. Acesse o novo site do jornalista aqui.
Eis o artigo.
O governador do Pará, Helder Barbalho, do MDB, de 46 anos, conseguiu faturar notas no noticiário e em colunas da grande imprensa nacional, que especulam sobre a possibilidade de ele vir a ser companheiro de chapa de Luiz Inácio Lula da Silva em 2026.
Se essa quase inacreditável façanha se concretizar, não será pelo peso político do Pará, que não chega nem a 5% do colégio eleitoral. Nem mesmo por sua grandeza econômica, constrangida por sua especialização em minérios de baixo valor agregado e, por serem destinados à exportação (que representa 85% do valor do comércio exterior estadual), com receita tributária reduzida.
Sem os componentes que poderiam lhe dar uma presença mais substancial no quadro eleitoral de um Estado que nunca conseguiu um lugar no comando da república, o governador tem projetado seu nome graças a um bem articulado discurso de defesa da natureza na Amazônia. O eco dessa retórica chegou a auditórios internacionais, receptivos a essa linguagem e dispostos a toma-la a sério.
Com esse cartão de apresentação, o filho do senador Jader Barbalho tem viajado para o exterior tanto quanto Lula. Bom na absorção e retenção dos dados e análises que sua assessoria lhe fornece, não escorregou no terreno perigoso da verborragia do petista. Até já falou na famosa Universidade de Cambridge, nos Estados Unidos. E foi aplaudido.
Incansável em viagens pelas praças internacionais e pelo extenso território do Pará, o segundo maior Estado brasileiro (do tamanho do Peru, o quarto país mais extenso do continente), Helder modula e formula sua mensagem conforme a plateia. Em um qualificado auditório, como os que tem frequentado nos Estados Unidos e na Europa, o que diz cabe na boca de qualquer dos defensores da floresta amazônica e dos temas ambientais em geral.
No sertão, onde o desmatamento mais intenso da região eliminou da paisagem a hileia, seu propósito é não chocar nem contraditar o discurso dominante, com poderes para o fortalecer. O governador cita uma série de providências que tomou para garantir que a progressão dessas atividades (garimpo, extração de madeira, mineração, soja, dentre as principais) não continue a devastar os recursos naturais do Pará.
De fato, a máquina administrativa pública foi engordada por legislação ambiental e conselhos consultivos, de eficácia ou correção questionáveis, mas presentes nas citações de Barbalho em cenáculos acadêmicos. Ele impressionou por sua juventude, sua energia, seu vocabulário e capacidade de convencimento.
Essas qualidades o fizeram chegar mais longe do que o projeto acreano da “Florestania” dos irmãos Viana (governador e senador), com base na repercussão mundial de Chico Mendes, e dos primeiros prospectos ecológicos de Eduardo Braga, no Amazonas.
O político paraense contou com um fator raro e forte: a escolha de Belém para sediar a COP 30, no próximo ano. Com acesso a Lula, Helder tem combatido uma ameaça que se prolonga pelos bastidores de Brasília: dividir a programação da conferência mundial com outra cidade, provavelmente o Rio de Janeiro.
Enquanto a ameaça não se concretiza, o governador está não só se desligando do prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues, do PSOL, o mais rejeitado em todas as capitais do país, como torpedeando a sua tentativa de concorrer à reeleição pela segunda vez.
Daí ter surgido recentemente uma campanha de críticas ao prefeito, mas que podem também engrossar o coro dos que contestam a garantia de que Belém possui condições de receber e agradar uns 50 mil visitantes, com seu lixo nas ruas, ruas esburacadas, condições higiênicas e sanitárias ruins, além de ser a capital com a menor cobertura vegetal.
Manter a aliança entre o MDB e o PT, que, em tese, apoia Edmilson, é tão arriscada que os Barbalho acharam melhor escolher um neófito em administração pública, o deputado estadual Igor Normando, que é primo do governador.
Se tudo ocorrer conforme os planos, em 2026 os Barbalho conseguirão a proeza de ser a família com maior poder político do que qualquer outra em toda história republicana. Contariam com vice-presidente, um ministro, um governador, um senador e uma deputada estadual.
A não ser que alguém mais disposto a checar as aparências puxar o fio do novelo ecológico a aprovação, no governo Barbalho, de tantas usinas de carvão vegetal no Pará. Usado na siderurgia, esse carvão provoca poluição, desmatamento e péssimas condições de trabalho.
A primeira lei ecológica mundial foi baixada pelo rei da Suécia 400 anos atrás proibindo durante 20 anos o desmatamento para a produção de carvão. Isso há 400 anos. Em 2022, a Suécia encerrou a atividade da última usina a carvão do país. O Pará as multiplica.
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O líder ecológico da Amazônia. Artigo de Lúcio Flávio Pinto - Instituto Humanitas Unisinos - IHU