17 Abril 2024
O Vaticano não concedeu permissão ao teólogo Martin Lintner para dirigir o Studio teológico acadêmico de Bressanone por causa de um texto sobre o sexo. Agora o Vaticano se retratou.
A reportagem é de Marco Grieco, publicada por Domani, 12-04-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
No décimo primeiro ano do Papa Francisco, a Santa Sé inaugurou uma nova abordagem na gestão das crises que irrompem e aumentam nos dicastérios do Vaticano. Vimos isso com a Fiducia supplicans, a declaração apostólica sobre a bênção aos casais irregulares, esvaziada parcialmente no seu funcionamento após a resistência dos bispos da África e do Madagáscar e com a intervenção direta do Cardeal Fridolin Ambongo. Uma reviravolta similar aconteceu há dois dias com Martin Lintner, teólogo da ordem dos Servitas, a quem em 2023 a Santa Sé não tinha concedido a autorização para a nomeação para a presidência do Studio teológico acadêmico de Bressanone.
Exceto por se retratar um ano depois: no dia 1º de setembro, de fato, Lintner assumirá o papel de reitor da instituição teológica integrada na rede da Faculdade Teológica do Trivêneto e ao mesmo tempo tem colaborações com a faculdade de teologia da Universidade de Innsbruck, bem como com a Universidade Livre de Bolzano. Lintner, que continua com o ensino e a pesquisa em teologia, se considera satisfeito: “É o sinal de um novo clima na relação entre o magistério e a teologia. Vejo a concessão dessa autorização como expressão de um estilo novo e orientado para as soluções do Dicastério para a Cultura e a Educação. É positivo que o prefeito e o secretário do Dicastério estejam abertos ao diálogo com o meu bispo e que ambas as partes tenham tentado chegar a um acordo objetivo”.
O medo do sexo
Entender por que o Dicastério para a Cultura e Educação Católica em 2023 não tenha concedido ao teólogo a autorização é como procurar uma agulha num palheiro. Presidente da Sociedade Europeia de Teologia Católica de 2013 a 2015, da Rede Internacional de Associações de Teologia Católica de 2014 a 2017 e da Associação Internacional de Teologia Moral de 2017 a 2019, Lintner tem reputação de pesquisador respeitado: “Os motivos não me foram comunicados abertamente, mas parece que têm a ver com a publicação do meu livro A redescoberta do Eros, que em 2011 foi denunciado ao Vaticano por pelo menos por duas pessoas que preferiram ficar anônimas" havia confessado.
O ensaio (publicado na Itália pela EDB, 2015) desata o sexo dos nós do pecado e do sentido da culpa mostrando, em vez disso, também seu valor espiritual. Após uma sinalização ao Vaticano, em 2012 o teólogo foi questionado pela Congregação para a Doutrina da Fé, que não encontrou contradições com o magistério da Igreja, mesmo pedido para esclarecer alguns pontos, como aquele sobre a homossexualidade e as pessoas divorciadas e recasadas. Por que os departamentos do Vaticano primeiro negaram, depois concederam a nomeação como reitor de um instituto católico permanece, portanto, um mistério.
Francisco, a vítima
Para o ex-prior do santuário de Pietralba, Lino Pacchin, teólogo dos Servitas, a mesma ordem religiosa de Lintner, o niet de 2023 teria sido “um ataque ao Papa Francisco”. Colocar a decisão sobre uma nomeação tão importante na esteira de supostos atritos entre o papa e a franja curial é certamente funcional à prosopopeia da vítima alimentada pelo próprio pontífice nos seus últimos relatos biográficos, mas evita apontar os refletores para a única pessoa envolvida, ou seja, o próprio Lintner, que esclarece: “Não fui ativamente envolvido no processo desse esclarecimento”.
Hoje explica: “O caso todo certamente não foi agradável, mas não me incomodou a ponto de tirar o meu sono. Continuei a me concentrar no meu trabalho teológico. Para mim, o fator decisivo e ao mesmo tempo suficiente é que as reservas contra mim tenham sido superadas, também em relação às minhas publicações”. Precisamente por isso o bispo de Bolzano-Bressanone Monsenhor. Ivo Muser, havia desistido do recurso da primeira decisão, buscando, em vez disso, a diálogo com as autoridades do Vaticano no espírito da Veritatis Gaudium, a Constituição Apostólica promulgada pelo Papa Francisco sobre a educação acadêmica: “Torna-se hoje cada vez mais evidente que há necessidade de uma verdadeira hermenêutica evangélica para entender melhor a vida, o mundo, os homens [...].
O teólogo que se compraz de seu pensamento completo e concluído é um medíocre. O bom teólogo e filósofo têm um pensamento aberto, ou seja, incompleto, sempre aberto ao maius de Deus e da verdade, sempre em desenvolvimento”.
Teologia nova
Lintner explica: “Como teólogo não ensino apenas as minhas opiniões pessoais, mas reflito sobre a fé cristã e a Doutrina da Igreja. A teologia deve abordar as questões críticas que uma sociedade secular apresenta à Igreja e à fé em geral e deve refletir criticamente sobre a doutrina da Igreja, pois a sua tarefa não é apenas a exposição catequética da fé.
Isso significa que, apesar da sua fidelidade ao Magistério, também deve pensar mais longe e avançar”. A sua presidência terá essa missão. Além disso, o Studio Teológico Acadêmico de Bressanone é a única instituição teológico-acadêmica italiana que realiza concursos públicos regulares para a nomeação de seus docentes.
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Livro sobre o eros: reviravolta do Vaticano no caso Lintner - Instituto Humanitas Unisinos - IHU