09 Abril 2024
"O alimento terapêutico, o plumpynut, é receitado a partir dos 6 meses de vida, mas o menino tem 4 e pesa 3 quilos e meio. 3 quilos e meio! Quando as crianças abaixo de 6 meses são desnutridas, é a mãe que precisa ser cuidada", escreve Roberto Scaini, responsável médico dos projetos da Médicos Sem Fronteiras em Gaza, em artigo publicado por La Stampa, 08-04-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Estou com os Médicos Sem Fronteiras no sul de Gaza onde, após várias dificuldades, conseguimos iniciar um programa nutricional. Alguns dias atrás, fora da clínica e enquanto conversava com o meu colega palestino Sohaib, a minha atenção foi atraída por um menino no colo da mãe. A reação foi imediata. “Sohaib, aquela criança precisa ser examinada, está desnutrida e não está muito bem”.
Acompanhei a mãe até a sala de consulta. O alimento terapêutico, o plumpynut, é receitado a partir dos 6 meses de vida, mas o menino tem 4 e pesa 3 quilos e meio. 3 quilos e meio! Quando as crianças abaixo de 6 meses são desnutridas, é a mãe que precisa ser cuidada. Deitei o bebê, lavei as mãos, e dei a ele meu dedo mínimo para ver se ele chupava. E ele chupava, com força! Gritava como uma pequena águia porque estava com fome! Expliquei à mãe que ela tinha que amamentar e, passando-a para a obstetrícia, voltei depois de 20 minutos. O bebê estava calmo, examinei ele e estava bem. Mas precisa ser amamentado com mais frequência. A mãe o vestiu, colocando a fralda bem suja porque é a única que tem. Expliquei para ela que o bebê precisa ser amamentado mais, ela me disse que o fará, mas durante o dia tem que ir procurar comida para os outros filhos. Uma empreitada em Gaza, onde falta tudo e a situação é humanamente insuportável.
Fiquei um pouco com eles, para fazer a mãe entender que vamos ajudá-la, enquanto com um dedo acariciava a testa do bebê, bem entre seus olhinhos. Mohammed mal os fechava, desfrutando a barriguinha cheia e um pouco de mimos.
A fralda suja que é trocada uma vez por semana. A mãe que busca comida para seus filhos. Mohammed que grita porque está com fome, mas que agora fecha um pouco os olhos. Lá fora começou o bombardeio e se pode ouvir as metralhadoras muito perto. Essa é a guerra. Isso faz com que me sinta constantemente à beira de um ataque de choro. Mas agora é apenas tempo de fazer, fazer bem e rapidamente.
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Eu, médico na Faixa, entre as crianças famintas. Artigo de Roberto Scaini - Instituto Humanitas Unisinos - IHU