08 Abril 2024
O Dicastério para a Evangelização, apresentou na Sala de Imprensa da Santa Sé a programação que terá início já a partir das próximas semanas. Vittorio De Sica entre os diretores selecionados, homenagem também aos artistas Dali e Chagall. Todas as iniciativas serão gratuitas. Pe. Geretti afirma: "Em tempos de superabundância de imagens para um consumo rápido e superficial, queremos recuperar a interiorização e e oferecer eventos de graça".
A reportagem é de Antonella Palermo, publicada por Vatican News, 05-04-2024.
Enquanto dia após dia registram-se novas inscrições para peregrinações diocesanas e nacionais em vista do Jubileu, os preparativos para os eventos culturais que serão disponibilizados gratuitamente durante todo o ano extraordinário de 2025 estão em pleno andamento e, em alguns casos, até mesmo para 2024. Na manhã de quinta-feira (04), na Sala de Imprensa da Santa Sé, foi apresentada a programação "Jubileu é Cultura". Estavam presentes Dom Rino Fisichella, Padre Alessio Geretti e Monsenhor Dario Viganò.
Com a esperança de que as iniciativas culturais para o Jubileu possam cumprir o desejo expresso pelo Papa Francisco de ser "um sinal de um renascimento renovado para o qual todos nós sentimos a urgência", Dom Rino Fisichella, pró-prefeito do Dicastério para a Evangelização, ilustrou os eventos nos quais a máquina do Jubileu está trabalhando e cujos detalhes serão divulgados em maio. “Todos eles serão sempre gratuitos", destacou o prelado, porque "a cultura não tem preço". É justo, afirma, que nesses anos, não seja cobrado por parte do Vaticano, nenhum custo para os usuários. Em seguida anunciou os três concertos que marcarão os próximos meses.
O primeiro será no dia 28 de abril, na igreja de Santo Inácio de Loyola, onde será apresentada, por inteiro, a famosa obra Messias de G. F. Handel. "É uma obra muito conhecida, mas nem sempre executada em sua totalidade. Handel a compôs em 1741 e uma de suas peças mais famosas, o Hallelujah, coincidirá com este tempo de Páscoa, permitindo realizar toda a jornada da vida de Jesus Cristo, desde seu nascimento até sua ressurreição". Uma obra prima única que será executada pelo Ensemble florentino dos "Musici del Gran Principe”, dirigida pelo jovem maestro Samuele Lastrucci.
O segundo evento será dia 3 de novembro, no Auditório da Via della Conciliazione, com a participação da Academia Nacional de Santa Cecilia. A orquestra regida pelo maestro Jader Bignamini, atualmente diretor musical da Orquestra Sinfônica de Detroit, executará a Quinta Sinfonia de Dimitri Shostakovich, composta em 1937, "pouco conhecida do público em geral, mas marcante pela sua dramaticidade".
Perto dos dias da abertura da Porta Santa, em 22 de dezembro, novamente na igreja romana de Santo Inácio, o coral da Capela Sistina apresentará várias composições polifônicas de Palestrina, Perosi e Bartolucci. "Com seus 1.500 anos de história", lembra Fisichella, "o coral da Capela Sistina, sob a direção do maestro Marcos Pavan, permitirá viver os dias que antecedem a abertura do Jubileu à luz de uma genuína contemplação do mistério da fé, cantada por um coro conhecido no mundo inteiro e que se apresentará excepcionalmente na cidade de Roma".
A exposição de ícones foi ilustrada pelo padre Alessio Geretti, colaborador externo do Dicastério para a Evangelização. A mostra será realizada no final de 2024 na Igreja de Sant'Agnese in Agone, no centro de Roma, na sacristia, "um lugar de grande acessibilidade para todos". Serão expostas cerca de vinte obras, das tradições russa, ucraniana e síria, com a colaboração especial do Dicastério para a Evangelização e dos Museus do Vaticano: os ícones no contexto da arte bizantina serão particularmente adequados para entrar no Ano Santo. Padre Geretti destaca seu valor precioso: "são imagens cheias de paz em um mundo cheio de guerra". E acrescenta: "Estamos em tempos de superabundância de imagens para um consumo rápido e superficial sem interiorização”. Portanto, os ícones devem ser considerados elementos que, de alguma forma, refreiam essa ‘violência’ e voracidade de fruição, porque eles "nos convidam a entrar em um simbolismo, e não apenas em uma motivação estética e emocional".
No início de 2025 (entre novembro de 2024 e janeiro de 2025) e nos próximos meses de 2024, serão realizados dois eventos sobre duas "figuras surpreendentes" em alguns aspectos: Salvador Dali e Marc Chagall. Chagall, que veio de uma tradição judaica e desenvolveu um misticismo do cotidiano, baseou-se fortemente nas Sagradas Escrituras, que foi uma sua grande fonte de inspiração. "Talvez ele tenha sido um dos poucos no mundo judaico que reconheceu explicitamente o fascínio de Cristo, que pôde sintetizar sua fé em seus olhos e que nos oferece uma chave importante para interpretá-la também nos dias de hoje", explica o padre Geretti. Recorrer a ele é uma maneira de encontrar aqueles que vêm a Roma de outras tradições religiosas ou aqueles que não têm o dom da fé, mas que, no entanto, estão ligados a uma dimensão transcendente: pessoas com as quais a Igreja precisa mostrar que é capaz de dialogar. Salvador Dali, "não exatamente um católico regular", pintou muitos temas cristãos. Portanto, ele é um artista importante também pelo seu percurso pessoal que o aproxima da fé. Padre Geretti aponta que a Guerra Civil Espanhola, a contemplação do Cristo Morto de Velásquez, o encontro com um carmelita que era um grande estudioso de São João da Cruz, despertaram algo em Dalí, que decidiu ir para Ávila, onde respirou a clima do Surrealismo primitivo, descobrindo assim a raiz transcendente dessa corrente que ele quis expurgar das ideologias céticas e niilistas. "Salvador Dali também achou religiosamente interessante a raiz da fé na ciência quântica: a matéria, argumentou ele, é o antecedente do Espírito. Em Dali, descobrimos que a beleza da forma desperta a tensão na direção da vida no Espírito". Portanto, serão criadas as condições para abrir solenemente a Porta Santa usando esse artista, que "encarna bem o tormento e o êxtase, que não deixa de derramar em cada seu gesto o anseio por Deus".
Monsenhor Dario Edoardo Viganò, vice-chanceler da Pontifícia Academia de Ciências e Ciências Sociais, apresentou a mostra de cinema "Faces e contrafaces da esperança", que será aberta em 14 de abril no Cinema delle Province, em Roma, com o filme La porta del cielo (Vittorio De Sica e Cesare Zavattini, 1945), em uma cópia recentemente restaurada. La porta del cielo narra uma peregrinação de pessoas doentes ao santuário de Loreto. Filmado entre março e junho de 1944, durante a ocupação nazi-fascista da capital, as filmagens ocorreram em Roma, na Basílica de São Paulo Fora dos Muros. Giovanni Battista Montini, o futuro Papa Paulo VI, então substituto na Secretaria de Estado, também participou da produção do filme e visitou várias vezes o set das filmagens. "Um sinal de cuidado especial por parte da Santa Sé", especifica Viganò, acrescentando uma curiosidade da época: em seu diário, Zavattini observa: "Eles gostariam que [eu fizesse] um filme só meu, deixando-me totalmente livre, eu digo totalmente, desde que o filme seja baseado na moral cristã, mas quem não é cristão? Cristo está às portas”.
Convidando os 500 Salas de Cinema comunitários da Itália a replicar a iniciativa da diocese de Roma, Viganò menciona os outros filmes selecionados pela Fundação Entidade do Espetáculo: On life (2023), de James Hawes, com o vencedor do Oscar Anthony Hopkins no papel do filantropo inglês Nicholas Winton, La chimera (2023), de Alice Rohrwacher, com Josh O'Connor e Isabella Rossellini, Perfect Days (2023), de Wim Wenders, Leaves in the wind (2023), de Aki Kaurismäki. Em seguida cita outros títulos lançados há alguns anos: L'intrepido (2013), de Gianni Amelio; Silence (2016), de Martin Scorsese; Chiara (2002), de Susanna Nicchiarelli; Il concerto (2009), de Radu Mihăileanu. Susanna Nicchiarelli e Radu Mihăileanu estarão presentes para dialogar com o público. O festival se encerra com o filme Cristo proibito (1951), de Curzio Malaparte.
Em suma, a máquina do Jubileu não para; afinal, a Proclamação oficial é iminente e ocorrerá em 9 de maio, a Festa da Ascensão, com a publicação da Bula. As solicitações de órgãos institucionais para colaborar em eventos culturais são contínuas, afirma Dom Fisichella que, segundo ele, ontem mesmo, por exemplo, recebeu um articulado dossiê da Embaixada da França. Até o momento, o projeto "In Cammino", uma peregrinação moderna entre as 14 maiores abadias da Europa, idealizado e promovido por Livia Pomodoro, presidente da associação cultural "No'hma - In cammino", recorda ainda o pró-prefeito, está obtendo uma resposta muito positiva, redescobrindo o respeito pelo meio ambiente e sob a bandeira da esperança. “De nossa parte", acrescenta, "sempre pensamos no grande valor evangelizador que possuem os praeambula fidei, sinais e experiências que precedem a proposta de fé e que, por sua própria natureza, são capazes de estabelecer um diálogo sincero com aqueles que estão em busca de dar sentido às suas vidas". E conclui, respondendo a uma pergunta de um correspondente russo, sobre o que está sendo feito em vista do 1700º aniversário do Concílio de Nicéia: “Temos uma Comissão específica trabalhando", explica Fisichella, "estamos tentando criar duas situações, uma em Roma e outra em Niceia. Em Roma, há muitos remanescentes do Concílio, principalmente em São Silvestre e Martino ai Monti. A esse respeito, estamos em contato constante com a Conferência Episcopal Turca".
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Jubileu é cultura: música, filmes, exposições rumo ao Ano Santo 2025 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU