05 Abril 2023
O presidente da Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores mostra-se “surpreso” após denúncia do jesuíta sobre “falta de transparência” no órgão que luta contra a pedofilia eclesiástica.
A reportagem é de Ruben Cruz, publicada por Vida Nueva Digital, 30-03-2023.
"Estou surpreso, desapontado e discordo veementemente de suas declarações públicas questionando a eficácia da Comissão". Assim se manifestou o cardeal Seán O'Malley, presidente da Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores, depois que ontem à tarde o jesuíta alemão Hans Zollner alegou "falta de transparência" no órgão que luta contra a pedofilia eclesiástica como um dos motivos de sua renúncia como membro da comissão lançada há nove anos por ordem do Papa Francisco.
Em uma atualização do comunicado divulgado ontem pela manhã pelo cardeal, no qual agradeceu ao diretor do Instituto de Antropologia da Pontifícia Universidade Gregoriana pelos serviços prestados, ele também observou que "ambos compartilhamos a opinião de que a proteção das crianças e pessoas e pessoas vulneráveis continua a estar no centro da missão da Igreja e que a Comissão continuará a expressar essa convicção".
Ao mesmo tempo, ele disse que "a Comissão tem uma reunião plenária agendada nas próximas semanas durante a qual poderemos abordar essas e outras questões com mais profundidade como um grupo".
Cruzamento de comunicações
O religioso, um dos maiores especialistas na luta contra os abusos na Igreja, compartilhou ontem um comunicado no qual, após confirmar que sua renúncia foi aceita em 14 de março, apontou a "falta de clareza sobre o processo de seleção de membros e pessoal, em seus respectivos papéis e responsabilidades”. Assim, afirmou que “outra área de preocupação é a responsabilidade financeira e prestação de contas, que considero inadequada”. "É fundamental que a Comissão mostre claramente o uso de recursos em seu trabalho", afirmou.
Segundo o jesuíta, “deve haver transparência sobre como as decisões são tomadas dentro da Comissão”. Além disso, expressa sua preocupação por não conhecer “nenhuma norma que regule a relação entre a Comissão e o Dicastério para a Doutrina da Fé, desde que a Comissão ingressou em junho passado neste departamento vaticano”. “Devido a esses problemas estruturais e práticos, decidi me desassociar da Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores”, disse ele, agradecendo a todos os membros por seu trabalho para “construir uma Igreja segura”.
O padre tomou esta decisão depois de refletir sobre sua recente nomeação como consultor do Departamento para a Tutela dos Menores e Pessoas Vulneráveis da Diocese de Roma – anunciada em 4 de março como um passo necessário após a recente constituição apostólica In Ecclesiarum Communione – e, em vista desta e de suas outras responsabilidades, ele pediu para ser dispensado de seu cargo na Comissão”, disse O'Malley.
No mesmo comunicado, afirma-se que o papa “aceitou o seu pedido, agradecendo-lhe profundamente os seus muitos anos de serviço”. E é que, junto com o cardeal O'Malley, dom Charles Scicluna e o padre espanhol Jordi Bertomeu – ambos do Dicastério para a Doutrina da Fé –, Zollner foi um dos colaboradores mais próximos de Francisco para acabar com este flagelo.
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Cardeal O’Malley “desapontado e em desacordo” com Zollner depois de questionar a eficácia da comissão de abuso do Vaticano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU