Uma estratégia vencedora. Para se tornar a terceira mulher na história a entrar na Downing Street, n. 10, Liz Truss apresentou-se como a mais radical dentro do Partido Conservador. Desde o início da campanha pela sucessão de Boris Johnson, ela anuncia que, se vencesse, reduziria os impostos “num prazo de sete dias” após a posse e que acabaria com as “contribuições verdes” incluídas em cada conta de luz, tornando possível, especialmente, o financiamento de projetos de energias renováveis e o isolamento térmico das habitações.

A reportagem é publicada por La Croix, 05-09-2022. A tradução é do Cepat.

Mas isso não é tudo: embora endosse a atual política de enviar os requerentes de asilo para a Ruanda que chegaram ilegalmente ao Reino Unido, ela acrescenta que procurará assinar acordos desse tipo com outros países. Argumentos de peso que, no final, convenceram a maioria dos 160 mil membros do Partido Conservador que decidiram a seu favor.

Liz Truss pegou “o melhor de (Margaret) Thatcher e (Ronald) Reagan”, os dois líderes britânico e estadunidense que revolucionaram a política econômica ocidental durante a década de 1980, acredita o ex-ministro conservador Sajid Javid.

Oriunda de uma família de esquerda

Nascida no dia 26 de julho de 1975 em Oxford no seio de uma família de esquerda, Mary Elizabeth Truss, apelidada de Liz, lembra-se de ter interpretado Margaret Thatcher em uma peça de teatro da escola. Um papel que essa libertária de coração guarda na memória: "Minha filosofia pessoal é dar às pessoas a oportunidade de tomar suas próprias decisões", confidenciou um dia ao jornal de esquerda The Guardian. Quando ela confessou aos pais ser claramente de direita, Liz Truss chocou a família.

Formada pela prestigiosa Universidade de Oxford (em política e economia), ela presidiu neste recinto de estudos o grupo dos eurófilos liberais-democratas. Primeiramente diretora comercial no setor privado, ela ingressou na política em 2010, tornando-se deputada conservadora pelo distrito eleitoral de South West Norfolk (leste da Inglaterra).

Liz Truss entrou no governo em 2012. Primeiro, como secretária de Estado da Educação, depois como ministra do Meio Ambiente em 2014, e a primeira mulher ministra da Justiça no governo de Theresa May em 2016. Após uma passagem pelo Tesouro, Comércio Internacional e pelo Ministério para as Mulheres e Igualdades, ela assume a chefia do Ministério das Relações Exteriores em setembro de 2021.

Opiniões fortes

Alguns analistas veem nessa nomeação uma forma de Boris Johnson canalizar suas ambições. Liz Truss está na mesma linha do primeiro-ministro: defensora do Remain (“ficar”), é, no entanto, ela quem lidera as negociações para um Brexit duro, destacando as oportunidades assim criadas para o Reino Unido se aproximar dos Estados Unidos e da Austrália. Mas Liz Truss não consegue concluir o acordo comercial com Washington há muito esperado por Londres. Quanto à questão da Irlanda do Norte, ela se mostra intransigente em relação à União Europeia. Suas opiniões fortes sobre política internacional atraíram o partido conservador e rapidamente a colocaram como uma potencial rival de Boris Johnson.

Na crise ucraniana, Liz Truss encarna o apoio do Reino Unido a Kiev, com a implementação de sanções econômicas de escala sem precedentes contra a Rússia. Seu homólogo russo, Sergei Lavrov, a ridiculariza, pressionando-a a afirmar que ela não reconhece... a soberania de Moscou sobre as duas cidades russas próximas à fronteira com a Ucrânia: Rostov e Voronezh.

Enquanto o Reino Unido enfrenta uma crise econômica sem precedentes, com a inflação subindo em junho para 9,4% em um ano, Liz Truss prometeu, como muitos de seus concorrentes, uma significativa redução de impostos, sem especificar como financiaria essa medida.

Para assumir a liderança do Partido Conservador e tornar-se primeira-ministra, ela destacou acima de tudo seu histórico, ao mesmo tempo em que se desvinculou da imagem embaraçosa de seu antecessor Boris Johnson. Uma estratégia que funcionou.

Leia mais

• Temperaturas de 40°C no Reino Unido seriam improváveis sem a mudança climática causada pelo homem
• Inglaterra. ‘Vergonhoso’. Bispos católicos e anglicanos condenam a volta forçada de refugiados para Ruanda
• O primaz anglicano Welby: a Igreja da Inglaterra continua profundamente racista
• Reino Unido “empurra” ao Brasil uso de agrotóxicos que vetou em seu território, diz relatório
• Ajudar os afegãos a fugirem, pede o Serviço Jesuíta aos Refugiados ao governo do Reino Unido