08 Agosto 2022
Nas regiões metropolitanas brasileiras, mais de 19 milhões de pessoas estão em condição de pobreza, e mais de 5 milhões estão abaixo da linha de extrema pobreza. É o que aponta a nona edição do “Boletim Desigualdade nas Metrópoles”, produzido em parceria pelo Observatório das Metrópoles, a PUCRS e RedODSAL. Nesta edição são analisados os dados da divulgação anual das PNADs Contínuas - IBGE, cobrindo o período de 2012 até 2021.
A reportagem é publicada por Observatório das Metrópoles, 08-08-2022.
“De fato, o que a gente vê é um aumento muito grande da pobreza e da extrema pobreza, que já vinha ocorrendo há alguns anos, mas houve um salto entre 2019 e 2021, passando por 2020, que é um período interessante porque está no meio da crise e ainda assim tem uma melhora de alguns indicadores, em função daquele Auxílio Emergencial de R$ 600 para mais de 65 milhões de famílias durante a pandemia de Covid-19”, explica um dos coordenadores do estudo e professor da PUCRS, Andre Salata.
Apesar do retorno dos mais pobres ao mercado de trabalho no final de 2020, situação que continuou em 2021, estimulado pelo avanço do processo de vacinação, a retomada ainda não foi suficiente para recuperar o nível de renda do período anterior à pandemia. E a situação piora muito do final de 2020 para 2021. “Dada essa decisão do governo, bastante equivocada, de interromper o auxílio, percebemos esse salto muito grande na taxa de pobreza e extrema pobreza. Claramente, está muito relacionado com a interrupção e redução do Auxílio Emergencial”, resume Salata.
No ano de 2014, os 40% mais pobres que viviam nas regiões metropolitanas tinham renda média de R$ 515. Cinco anos depois, em 2019, essa cifra havia caído para R$ 470. Dois anos depois, já no contexto da pandemia, em 2021, aquela média havia chegado a R$ 396.
“São os 40% mais pobres, na base da pirâmide, que mais perdem. Em torno de 10% ao longo desse período”, afirma Marcelo Ribeiro (UFRJ). Em termos de renda média, o recorde negativo foi batido mais uma vez. “É a junção de uma renda média caindo e uma desigualdade aumentando, esse é o pior cenário que se pode ter”.
Entre 2014 e 2021 a taxa de pobreza subiu de 16% para 23,7%, o que em termos absolutos se traduziu em uma elevação de 12.5 milhões para 19.8 milhões de pessoas. Ou seja, em apenas sete anos 7.2 milhões de pessoas entraram em situação de pobreza nas metrópoles brasileiras. Em relação à extrema pobreza, o aumento foi de 2.1 para 5.2 milhões de pessoas. Quando verificados os dados em números absolutos das pessoas em extrema pobreza, a metrópole de São Paulo apresenta algo assustador: existem mais de um milhão de pessoas em extrema pobreza, dentro desta metrópole, em 2021.
Nas regiões metropolitanas do Norte e Nordeste, com exceção de Fortaleza e Natal, o percentual de pessoas em situação de pobreza superou um terço da população e chegou a ultrapassar 40% nas regiões metropolitanas de Grande São Luís e de Manaus.
Segundo Marcelo Ribeiro, pelos resultados do estudo, é possível ver uma queda da taxa de desemprego e, como essa taxa atingiu principalmente as pessoas de mais baixa renda, a redução significa uma retomada ainda maior desse grupo social ao mercado de trabalho. Por outro lado, apesar de se perceber em alguns meses uma redução da taxa de inflação, ela ainda se mantém em um patamar elevado, bastante persistente, que faz corroer o poder de compra da população em geral e atinge os mais pobres.
Para Andre Salata, existe um outro fator importante: o papel da política de transferência de renda. “Isso é difícil a gente prever porque tem tido muitas mudanças, mas esse auxílio que vai voltar de R$ 600 para todas as famílias que estão cadastradas no Auxílio Brasil, sem dúvida nenhuma vai ter efeito na renda dos mais pobres”, justifica.
Confira na íntegra o "Boletim Desigualdade nas Metrópoles nº 09".
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Desigualdade nas Metrópoles: pobreza e extrema pobreza atingem patamar recorde da série histórica - Instituto Humanitas Unisinos - IHU