29 Junho 2020
Roberto Romano Da Silva
Não tenho simpatia alguma pela Sra. Eliane Cantanhede. Mas o trecho abaixo exige pensamento de todos nós. O trecho é do artigo que postei abaixo, crônica de domingo de O Estado de São Paulo.
"A Procuradoria-Geral da República está em chamas e a força-tarefa da Lava Jato reclama do “caráter inusitado” da ação da subprocuradora geral Lindôra Araújo, braço direito de Augusto Aras e ligada à família Bolsonaro, que desembarcou em Curitiba exigindo arquivos e dados sigilosos das investigações e criando a impressão de uma devassa na Lava Jato que pode atingir até o ex-ministro e ex-juiz Sérgio Moro. Esse, porém, é apenas mais um fato “inusitado” num país com quase 60 mil mortos de covid-19."
Moysés Pinto Neto
Uma coisa que percebo causar mal-estar por aqui é a comparação entre lulismo e bolsonarismo. Sempre quando se faz, o espectro da "falsa simetria" começa a rondar os comentários.
É claro que existe uma comparação superficial, embora com razoável potencial de adesão política, que consiste na tese liberal-tecnocrata dos "dois extremos".
Qualquer pessoa minimamente racional sabe que o lulismo nunca tocou o extremo como o bolsonarismo toca: não havia passeatas pela "revolução socialista" e nem pela "ditadura do proletariado" durante a década passada. No máximo, era um tema acadêmico. Nunca houve adesão dos movimentos sociais ao discurso de ruptura, enquanto os bolsonaristas só falam de fechar Congresso, STF e decretar AI-5. Na verdade, o lulismo inclusive esfriou as ruas, enquanto o bolsonarismo permanentemente as esquenta (mesmo com baixa adesão atualmente).
Afastado o espantalho liberal, vamos ao que interessa: há, por múltiplos ângulos, certos elementos comparativos que devem sim ser ponderados.
É óbvio, pra começar, que existe um fundo sociológico inegável aqui: Bolsonaro roubou os "emergentes" do PT. Isso não é discutível em termos interpretativos, é um fato pura e simplesmente. Se não mapearmos as razões entendendo os processos que levaram de um a outro, não vamos entender o que aconteceu. Como não comparar, então?
Poderíamos especular sobre o elemento cultural do consumo para outra ponte entre um e outro: enquanto o lulismo via o consumo como uma afirmação de dignidade, uma inclusão social, o bolsonarismo o assume como uma camiseta capitalista na população, do produtor/empreendedor que quer crescer e vê o Estado como obstáculo. Por isso, mais uma vez, o papel de Guedes e suas falas de coach não tocam somente a elite.
Aliás, no Norte nem a tese dos "dois populismos" é rejeitada. As campanhas de Corbyn, na Inglaterra, e Sanders, nos EUA, foram baseadas na confrontação entre o populismo reacionário (Trump, Johnson) e o populismo progressista. Nancy Fraser e Chantal Mouffe são as principais referências para entender o tema. No Brasil, é meu amigo Victor Marques quem mais entende. (E a gente discorda muito nesse ponto).
Enfim, não vamos deixar que a chantagem memética das redes sociais iniba comparações necessárias. Ninguém está dizendo que lulismo e bolsonarismo são o mesmo. Mas o bolsonarismo foi o primeiro fenômeno de massa posterior ao lulismo. Negar, portanto, a relação é como uma denegação -- ou eventualmente censura.
E vejam: escrevi o texto e nem citei o dito de Benjamin que já virou clichezão: por trás da ascensão do fascismo sempre existe uma revolução fracassada...
(Ops, agora citei).
Moysés Pinto Neto
É impressionante como o bolsonarismo é efetivamente um populismo.
Não só o significante "aqui é bolsonaro" quer dizer muitas coisas ao mesmo tempo, criando uma cadeia de equivalências entre diferentes, como Laclau descreve, como também a luta contra as elites é redescrita quase inteiramente em termos culturais (*).
Sob certo sentido, Bolsonaro se apropriou de uma parte do sonho de Lula que era se comunicar com o "povão" a partir do discurso do auto-interesse. Lula sempre quis juntar o potencial crítico da classe média de esquerda, com seus intelectuais e lideranças sociais, ao interesse direto, imediato, do povo. Por isso, nunca fez discurso a la left/influencer de Youtube, tipo "vamos construir o socialismo a partir da luta de classes no Brasil" etc. Seu discurso era: "quero um povo que coma três refeições por dia".
Bolsonaro também conseguiu se conectar profundamente ao imaginário social, mas sob um viés hipercapitalista e violento.
De um lado, o cidadão de bem que trabalha, paga seus impostos e quer empreender e ganhar dinheiro, mais ou menos como Lula descreve o sujeito que "quer comer seu churrasco e tomar sua cerveja aos domingos" em uma versão mais ambiciosa. Só que, no caso do PT, o discurso estrutural atrapalhava, tornava isso demasiado abstrato e por vezes caía em censuras morais -- por exemplo, a de questionar se comer carne é legal ou se o comportamento do tiozão é adequado. Com Bolsonaro, a cola é automática.
De outro lado, Bolsonaro cola o discurso de que existe uma máquina gigante estatal brasileira que parasita os empreendedores (ele jamais se dirige aos seus como "trabalhadores") e sustenta os vagabundos, impedindo que o nosso self-made man se realize. Assim, é preciso descer a porrada em todo mundo que vai contra a ordem e deixar que os mais fortes prevaleçam. Só que a ordem se torna um conceito confuso, porque ela não tem a ver com a lei (a lei também está a serviço dos vagabundos), mas com um tipo de "lei natural" que coloca a vontade individual, inclusive com o uso da força, como elemento estruturador de uma utopia do cada-um-por-si e sobreviva-o-mais-forte.
Mas falta um elemento aqui, que é definir como 'vagabundo' não apenas os criminosos e esquerdistas -- o que daria um público pequeno para alçar voo. É preciso definir como vagabunda toda elite cultural, todos aqueles que têm discurso articulado minimamente coerente e desafiam o rebolation argumentativo do bolsonarismo (e olavismo).
Acontece que no mesmo ato em que, populisticamente, o bolsonarismo define como inimiga a elite cultural, ele perde quase todo quadro possível para governar.
O deserto do ministério é um exemplo disso.
Bolsonaro não encontrou um mísero nome disposto a colaborar com seu projeto educacional, por exemplo. Os dois últimos dias mostraram o novo Ministro da Educação dizendo ter pós-doutorado (nem existe isso) sem ter completado doutorado (gente: doutorado sem tese é como você ir às aulas de uma disciplina e não fazer a prova. Pior até) -- e, cavocando um pouco mais, aparecem até plágios no Mestrado.
Não há um ministro que possa ser tido como referência intelectual em nada (**).
Já sabemos que Paulo Guedes, o último símbolo "técnico" do governo, é um zé ninguém no mundo da economia: ele é um coach do mercado financeiro, tido como "gênio" pelos administradores de fundos simplesmente porque é mais um igual a eles. Comparado a um Pérsio Arida, Bresser-Pereira ou Marcos Lisboa, é ninguém.
O governo é uma completa nulidade em termos de competência: os caras não encontraram um mísero nome disposto a defender o governo e hoje já foram completamente abandonados por praticamente todos os nomes que circulam na esfera pública, seguindo agarrados apenas a um guru (Olavo), seus discípulos na web e três ou quatro jornalistas que não têm bala na agulha para alçar voo mais alto (Constantino, Garcia, Fiúza e Augusto Nunes).
Em princípio, isso não seria problema ao bolsonarismo, pois ele se define justamente como o governo do "homem comum", do sujeito simples que está junto ao povo contra todos os intelectuais. Juntam-se a ele pessoas simples com baixa informação e ressentidos que fracassaram no circuito escolar (como Weintraub). O fundo do populismo ("a elite são os sofisticados, não os ricos") segue a todo vapor.
Mas será que em condições como as nossas eles conseguirão superar a suprema fragilidade do populismo, que é exatamente se conectar mais aos afetos e com isso produzir frustração quando a realidade começa a pedir a conta?
Não conseguir colocar qualquer nome decente em Ministérios-chave como Saúde e Educação, deixar a cargo de charlatões Economia ou Ciência e Tecnologia e colocar inimigos das próprias pastas em Meio Ambiente, Direitos Humanos e Relações Internacionais pode cobrar o preço no "Real", quando efetivamente um sistema e uma coordenação são necessários. Os militares estão quebrando o galho, mas já estão mostrando, como no caso da Saúde, que não seguram a barra sozinhos.
Até quando a bolha bolsonarista seguirá inflada nos seus 30% diante do despedaçamento da realidade -- com a inflação de mortos pela pandemia ou a quebra da economia -- e totalmente concentrada na simulação de realidade fabricada com memes e mentiras no WhatsApp?
A ver. O Brasil hoje é um exercício de delírio situado.
Idelber Avelar
O bolsonarismo odeia a universidade, mas parece desejar muito seu reconhecimento. Se não, não falsificariam tanto diploma.
Fernando Altemeyer Junior
Ontem e hoje, Pedro e Paulo apóstolos da Igreja. Ontem Paulo de Tarso e Pedro de Betsaida. Hoje, Paulo de Forquilhinha e Pedro de São Félix (antes Catalunha). Sístole e diástole. Centro e periferia unidos. Movimento missionário e unidade plural. Centrífuga e centripeta. Profecia e sabedoria. Poesia e prosa. Cidade e campo. Pastores e ovelhas. Luta e Evangelho. Ambos em movimentos sinoidais. Paradoxo dos paradoxos. Sem missão não há unidade. Sem unidade não há missão. Igreja em saída.
Idelber Avelar
Pastores e fanáticos usando os trechos com a palavra “sopro” para dizer que a Bíblia condena máscaras. PQP, eu morro e não vejo tudo.
Maurício Caleiro
O jornal (Folha de S. Paulo) trata como positivo o fato, apurado em pesquisa, de 75% apoiarem a democracia - e de 78% acharem que o regime de 1964 foi uma ditadura.
Já eu fico abismado - e preocupadíssimo - ao constatar que um quarto dos entrevistados não apoia a democracia e considera que o regime de 1964 teria sido outra coisa que não uma ditadura.
Eu tendia a achar que que uns poucos insanos aproveitarem a democracia para marcharem a favor da ditadura e de "um novo AI-5" era uma aberração de gente ignorante e teleguiada. Um quarto desaprovar a democracia mostra que a crise de valores - e a ignorância - é bem mais profunda do que eu pensava.
Julio Renato Lancellotti
Leoni Alves Garcia
Publicado no grupo 15º INTERECLESIAL DAS CEBs www.cebsdobrasil.com.br
Mãe do Perpétuo Socorro.
Na dramática situação atual, carregada de sofrimentos e angústias que oprimem o mundo inteiro, recorremos a Vós, Mãe de Deus e nossa Mãe, refugiando-nos sob a vossa proteção.
Ó Virgem Maria, volvei para nós os vossos olhos misericordiosos nesta pandemia do coronavírus e confortai a quantos se sentem perdidos e choram pelos seus familiares mortos e, por vezes, sepultados duma maneira que fere a alma. Sustentai aqueles que estão angustiados por pessoas enfermas de quem não se podem aproximar, para impedir o contágio. Infundi confiança em quem vive ansioso com o futuro incerto e as consequências sobre a economia e o trabalho.
Mãe de Deus e nossa Mãe, alcançai-nos de Deus, Pai de misericórdia, que esta dura prova termine e volte um horizonte de esperança e paz. Como em Caná, intervinde junto do vosso Divino Filho, pedindo-Lhe que conforte as famílias dos doentes e das vítimas e abra o seu coração à confiança.
Protegei os médicos, os enfermeiros, os agentes de saúde, os voluntários que, neste período de emergência, estão na vanguarda arriscando a própria vida para salvar outras vidas. Acompanhai a sua fadiga heroica e dai-lhes força, bondade e saúde.
Papa Francisco
FECHAR
Comunicar erro.
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Breves do Facebook - Instituto Humanitas Unisinos - IHU