15 Fevereiro 2019
Jesus desceu da montanha com os doze apóstolos, e parou num lugar plano. Estava aí numerosa multidão de seus discípulos com muita gente do povo de toda a Judéia, de Jerusalém, e do litoral de Tiro e Sidônia.
Levantando os olhos para os discípulos, Jesus disse:
«Felizes de vocês, os pobres, porque o Reino de Deus lhes pertence. Felizes de vocês que agora têm fome, porque serão saciados. Felizes de vocês que agora choram, porque hão de rir. Felizes de vocês se os homens os odeiam, se os expulsam, os insultam e amaldiçoam o nome de vocês, por causa do Filho do Homem. Alegrem-se nesse dia, pulem de alegria, pois será grande a recompensa de vocês no céu, porque era assim que os antepassados deles tratavam os profetas. Mas, ai de vocês, os ricos, porque já têm a sua consolação! Ai de vocês, que agora têm fartura, porque vão passar fome! Ai de vocês, que agora riem, porque vão ficar aflitos e irão chorar! Ai de vocês, se todos os elogiam, porque era assim que os antepassados deles tratavam os falsos profetas».
Leitura do Evangelho de Lucas 6, 17; 20-26. (Correspondente ao 6° Domingo Comum, do ciclo C do Ano Litúrgico).
O comentário é de Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.
A cena situa-se numa esplanada aonde Jesus chega com “os doze apóstolos”. Uma numerosa multidão de pessoas o aguarda. Pensemos nessa multidão que “estava aí”. São pessoas vindas de diferentes partes: “da Judeia, de Jerusalém, do litoral de Tiro e Sidônia”. Jesus não se dirige a um público seleto ou previamente designado senão pelo contrário, ele fala para todos e todas que desejam escutá-lo. Sua mensagem não tem limite nem fronteiras, qualquer pessoa pode estar perto dele!
Quais seriam as expectativas e as motivações de cada uma dessas pessoas? São mulheres, homens, crianças, procedentes de diferentes lugares; que percorreram amplas extensões apesar das dificuldades da caminhada. Neste momento estão junto ao Senhor, desejando vivamente suas palavras e sua presença. Por que o procuram? Possivelmente desejavam escutar sua mensagem, receber seu consolo, manifestar suas necessidades.
“Levantando os olhos para os discípulos” , Jesus está no meio do seu povo, e assume a posição do mestre, daquele que vai dar uma mensagem. Os destinatários de sua mensagem são os pobres, os que têm fome, os que choram, os que são perseguidos.
No Evangelho de Lucas o sermão das Bem-aventuranças leva-se adiante numa planície, após Jesus e seus discípulos terem descido da montanha. Deus vai ao encontro de toda pessoa humana na sua realidade levando a proposta de uma vida nova.
Como escreve o cardeal Gianfranco Ravasi : “Assim como no monte Sinai tinha descido a palavra de Deus que se tornaria a Torá, a Lei por excelência de Israel, assim também desse pico paralelo desce a palavra de Cristo e a sua releitura da Torá. O cristão "bem-aventurado", portanto, é aquele que eleva o olhar para o alto, para o eterno e o infinito, e escuta uma mensagem contra a corrente, desconcertante e até provocatória. (Texto completo: "As Bem-aventuranças, caminhos de montanha ou de planície que levam ao céus. Artigo de Gianfranco Ravasi)
Jesus se dirige aos pobres e os chama felizes! Mas que revelação nos quer fazer nestas palavras? Como é possível que sejam felizes, bem-aventurados, os que são considerados pobres e depreciáveis na sociedade? A lógica do mundo proclama felizes os que têm dinheiro - sem importar como esse dinheiro foi obtido; os que têm poder, apesar de que seja usado arbitrariamente e para a exploração dos mais vulneráveis, dos desamparados; os que têm prestígio ou influência.
Mas a lógica do Reino de Deus é totalmente contrária: exalta os pobres, os desfavorecidos, os desvalidos, aqueles que não são considerados “pessoas importantes” dentro das regras estabelecidas pela sociedade. A este grupo de pessoas dirige-se Jesus com sua mensagem. Nas suas palavras há uma proposta libertadora na qual são exaltados os pobres, os desfavorecidos, os desvalidos. Ser bem aventurado e feliz pelo evangelho não é ter ou não ter muitos bens ou riquezas. Ser bem-aventurado é ser discípulo do Senhor, é viver o Espírito de Reino que é justiça, paz, igualdade e fraternidade.
As Bem-aventuranças são os caminhos elevados que nos levam ao Reino dos céus. Percursos ideais e concretos, paradoxais para o senso comum, baseados não em pedidos, mas em promessas, viáveis para todos os pés, até mesmo para os passos do homem e da mulher que vivem no vale e não apenas aos dos escaladores.
Jesus não propõe atalhos para alcançar a felicidade passageira e fugaz que o mundo proclama. Sua mensagem encarna-se na realidade mesma de toda pessoa humana que sabe da pobreza, da dor, do sofrimento.
Jesus, neste discurso das Bem-Aventuranças, aponta-nos o caminho de acolhida da alegria, generosidade, liberdade, capacidade interior que ele nos oferece para fazer parte do seu povo e viver assim a Lei do Amor. Como disse o papa Francisco: “As bem-aventuranças são a carteira de identidade do cristão, que o identifica como seguidor de Jesus”. “Somos chamados a ser bem-aventurados, seguidores de Jesus, enfrentando os sofrimentos e angústias do nosso tempo com o espírito e o amor de Jesus”. Jesus anuncia um reino de irmãos e irmãs, onde sejam desterrados definitivamente a exploração, a desigualdade, a prepotência, o egoísmo!
A lógica de Deus exalta os pobres, os desfavorecidos, os débeis: é a esses que Deus Se dirige com uma proposta libertadora e a quem convida a fazer parte da sua família. O anúncio libertador que Jesus traz é, portanto, uma Boa Nova que enche de alegria os corações amargurados, os marginalizados, os oprimidos. Com o “Reino” que Jesus propõe aos homens, anuncia-se um mundo novo, um mundo de irmãos, de onde a prepotência, o egoísmo, a exploração e a miséria sejam definitivamente erradicados e onde os pobres e marginalizados tenham o espaço que lhes pertence como filhos iguais e amados de Deus.
Jesus nos convida a participar desta multidão, entrar no Reino de Deus e abraçar a proposta do Evangelho como um caminho que nos leva a viver nesta terra com um espírito diferente. Responder assim aos apelos do Reino de Deus e fazer parte da construção do povo de Deus.
Depois de recordar que "toda a multidão procurava tocá-lo, porque dele saía uma força que curava a todos", são lembrados"os pobres", "vocês que agora têm fome", "vocês que agora choram", "vocês, quando os homens os odiarem e quando os banirem e insultarem e amaldiçoarem, por causa do Filho do Homem". Depois disso, as bem-aventuranças dão lugar – a partir do versículo 24 do capítulo 6 – às admoestações, que começam com estas palavras: "Mas ai de vocês, os ricos, porque já têm a sua consolação". O versículo 27 amplia ainda mais o discurso, encerrando também as lembradas advertências: "Mas eu digo a vocês que me escutam: amem os seus inimigos, e façam o bem aos que odeiam vocês". Texto completo: Bem-aventuranças: tempo dos últimos, herança futura.
Depois de ter escutado as palavras do Senhor pensemos na nossa vida pessoal, nossa família, nossa comunidade. Quais são as pessoas que eu considero felizes? Quando olhamos ou pensamos numa pessoa, quais são os valores que se priorizam e se favorecem?
Deixo que as palavras do Jesus transformem minha vida, meus critérios, meus valores? Meditemos neste domingo as bem-aventuranças. Jesus quer encontrar-nos na planície de nossas vidas, no hoje de cada dia, deixo-me encontrar no meu quotidiano, na simplicidade das situações diárias?
Posso olhar como preferidos de Deus os que vivem na simplicidade, na debilidade apesar de que para os critérios do mundo sejam considerados despreciáveis, marginalizados, incapazes de fazer ouvir sua voz!
Um pobre assim, um Deus assim
Pobre
daquele que descobriu
a dor do mundo
como dor de Deus,
a injustiça dos povos
como rejeição de Deus,
a exclusão dos fracos
como batalha contra Deus!
Já tem a cruz assegurada!
Feliz
o que descobriu
no protesto do pobre
a ruptura do sepulcro,
na comunidade marginal
o por-vir de Jesus,
nos últimos que nos acolhem
o regaço materno de Deus!
Já começou a ressuscitar!
Pobre
do que se encontrou
com um pobre assim,
com um Deus assim!
Feliz dele!
Benjamin González Buelta SJ
Salmos para sentir e saborear as coisas internamente
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“Felizes de vocês, os pobres, porque o Reino de Deus lhes pertence” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU