A crise mais prolongada e profunda do emprego formal no Brasil

Carteira de trabalho. | Foto: Senado Federal, Flickr.

Mais Lidos

  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS
  • Dilexi Te: a crise da autorreferencialidade da Igreja e a opção pelos pobres. Artigo de Jung Mo Sung

    LER MAIS
  • Às leitoras e aos leitores

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

24 Julho 2018

"Este desperdício do potencial de trabalho humano acontece no instante em que o Brasil vive o seu melhor momento demográfico da história, quando a razão de dependência demográfica (que mede o percentual de pessoas em idade ativa em relação as pessoas dependentes) está em seu menor valor", escreve José Eustáquio Diniz Alves, doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE, em artigo publicado por EcoDebate, 23-07-2018.

Eis o artigo.

“Todo ser humano tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego” Artigo 23 da Declaração Universal dos Direitos Humanos (10/12/1948)

O Brasil continua decepcionando na geração de emprego, especialmente no mercado formal. O desemprego e o subemprego continuam afetando milhões de brasileiros que desejam trabalhar mas não encontram vagas no mercado. O resultado do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) ficou negativo em 661 vagas no mês passado, de acordo com dados divulgados pelo Ministério do Trabalho na última sexta-feira. O mês de Junho apresentou o primeiro corte de vagas formais do ano. No total de 2018, o saldo é positivo em pouco menos de 400 mil vagas. Mas considerando os últimos 3 anos e meio o dados são desastrosos e desanimadores.

Considerando os números desde as últimas eleições presidenciais, o desempenho do mercado formal de trabalho, do Caged, no conjunto, está no vermelho há 43 meses, pois as demissões superaram as contratações em mais de 3 milhões de postos entre dezembro de 2014 e junho de 2018. Os números são assustadores, pois, na média, a perda é de cerca de 75 mil vagas por mês ou 2,5 mil vagas por dia.

A crise econômica brasileira fechou um grande número de postos de trabalho com carteira assinada em dezembro de 2014 (ainda no primeiro mandato de Dilma-Temer) e em 2015 e 2016, os piores momentos da recessão. Em 2017, houve saldo positivo na geração de emprego durante 8 meses, mas no conjunto do ano o saldo foi negativo. No primeiro semestre de 2018, o saldo na geração de emprego é positivo, mas está longe de recuperar o que foi perdido desde dezembro de 2014. O nível do emprego formal em junho de 2018 estava, aproximadamente, no mesmo nível do emprego do final de 2010. O Brasil teve um octênio perdido no mercado de trabalho formal.

Segundo dados da PNAD Continua do IBGE, o desemprego aberto está em torno de 13% (representando cerca de 13 milhões de pessoas) e a taxa de subutilização da força de trabalho chegou à impressionante taxa de 25%, no 1º trimestre de 2018, o que representa cerca de 27 milhões de trabalhadores “jogados na rua da amargura do desemprego”.

Este desperdício do potencial de trabalho humano acontece no instante em que o Brasil vive o seu melhor momento demográfico da história, quando a razão de dependência demográfica (que mede o percentual de pessoas em idade ativa em relação as pessoas dependentes) está em seu menor valor. No passado, a razão de dependência era alta por conta de uma estrutura etária jovem e, no futuro, a razão de dependência voltará a subir por conta do envelhecimento populacional.

O desperdício do bônus demográfico equivale a jogar fora uma oportunidade única para dar um salto na qualidade de vida da população. Todo país com alto IDH passou pelo bônus demográfico e soube aproveitar esta chance singular. Mas a crise brasileira (com queda do PIB e do emprego) e a lenta recuperação (com baixo crescimento do PIB e do emprego) estão fazendo o Brasil ter a sua segunda década perdida e não haverá condições demográficas tão propícias jamais nos séculos vindouros.

A crise do mercado de trabalho na presente década significa a perda do futuro do país e do futuro não só da juventude atual (que sofre mais que proporcionalmente com a escassez de oportunidades de trabalho) mas do futuro das gerações que ainda vão nascer e que vão herdar mais problemas do que soluções.

O Brasil está emparedado e o passo fundamental para mudar esta triste página da história é possibilitar que cada cidadã e cidadão brasileiro possa ter orgulho de trabalhar para si sustentar e para garantir a sustentabilidade econômica e ambiental da nação. O trabalho é a base da riqueza das nações e o pleno emprego e o trabalho decente devem ser a prioridade número 1, pois é o direito humano mais desrespeitado atualmente no Brasil.

Leia mais