17 Janeiro 2018
Alexandre Araújo Costa
Gleisi de Schrödinger:
'Pra prender o Lula vai ter que matar gente'
'Será uma carta feita por quem cumpre as regras. Lula pode ser tudo, menos radical'
Idelber Avelar
Quem joga truco sabe disso. Pelo que me contam meus amigos que jogam pôquer, vale para o pôquer também. Eu não sei, pôquer eu não jogo. Mas em todas as variantes do truco que conheço (a mineira, a paulista, a argentina), o blefe é uma arte difícil, à qual você deve recorrer com bastante parcimônia e cuidado, porque se alguém descobre que você é um blefador vazio, você vai terminar levando, como dizemos em Minas, "um seis pau no meio das fuças".
Já faz tempo que o lulismo vem recorrendo ao blefe desesperado claramente sem ter zap nem sete de copas nas mãos. Stédile falando em "parar o Brasil" se Marina fosse eleita em 2014, Lula ameaçando chamar o "exército do Stédile" para deter o impeachment de Dilma, os exemplos são muitos. No caso do impeachment, como se viu, não apareceu exército nenhum. O impeachment passou e, independente do que você pense sobre ele, o fato é que as manifestações pró-impeachment foram bem maiores.
Agora é a Senadora Gleisi Hoffmann que anuncia que "para prender Lula, vai ter que matar gente". É uma tremenda irresponsabilidade que uma Senadora da República diga uma fanfarronice dessas, porque sabemos que não é com a vida dela que ela está brincando. Não se sabe quantas pessoas o PT conseguirá colocar nas ruas no dia 24 mas, a julgar pela história recente, suas lideranças deveriam ter mais cuidado ao usar a linguagem da ameaça, porque sabe-se que o que elas têm nas mãos não é nenhum zap, não é nenhum sete de copas.
Gustavo Gindre
Há uma diferença sutil, mas importante, entre defender (1) o direito a priori de Lula se candidatar ou (2) que Lula tem direito a um julgamento justo. Ambas as posturas são críticas à Lava-Jato, mas são bem diferentes entre si. Eu escolho a segunda.
Gustavo Gindre
Tinha que haver estudos sérios para entender como o punitivismo e o individualismo ganharam espaço nos movimentos sociais brasileiros, através da recepção de padrões norte-americanos.
Pedro Munhoz
Alguns breves comentários: (Lula prepara nova Carta ao Povo Brasileiro para acalmar mercado – Revista Exame,
- Cartas para acalmar o mercado podiam até ter uma certa valia em 2002/2003. Hoje em dia o mercado, consabidamente, não lê mais carta alguma. Já é difícil o bastante fazê-lo abrir sua conta de email. Ele anda ocupado demais ficando nervoso para enriquecer meia dúzia de banqueiros a troco de medidas que vão ferrar com oitenta, noventa porcento da população. Sugiro a Lula que desista da carta e mande ao mercado um meme pelo whatsapp. Até onde eu sei, de vez em quando o mercado visualiza o whatsapp.
- Por mais que o mercado adore ser acalmado por candidatos à presidência, Lula, se quiser mesmo trilhar esse rumo, vai ter que se esforçar mais. O mercado não se acalma mais com o fitoterápico oferecido pelo PT em 2002. O mercado agora é junkie. Tarja preta pra cima. Ele tá brabo. Tá trincando. Tá babando. Tá adoçando a vodka balalaika com rivotril gotas. Tá dando cabeçada nozotro na rua. Eu não iria sequer tentar acalmar o mercado, melhor não chegar perto dele sem uma pistola municiada com dardos tranquilizantes, daqueles que fariam um elefante dormir.
- Seja lá o que Lula pretenda fazer para acalmar o mercado, tenho a mais absoluta certeza de que reforma política e a convocação de constituinte não está em seus planos. Não se ele quiser acalmar o mercado. O mercado detesta as duas coisas. A não ser, é óbvio, que as reformas tornem o povo ainda mais alijado do poder, mais impotente, mais subserviente. Isso acalma o mercado.
- O preço para acalmar o mercado atualmente é, em suma, alto demais. Alto para nós, alto para os brasileiros. Para Lula, eu não sei.
- O ideal, penso, seria mandar o mercado ir passear com seus chiliques e dialogar apenas com quem importa, que é o povo. Mas Lula é Lula. Lula é um negociador. É tudo, menos um radical, como diria Gleise Hoffman (e eu concordo). Lula, creio, só sabe jogar o jogo que jogou em 2002/2003. Ele acha que dá pra conciliar de novo, que dá pra repetir o arranjo, acalmar o mercado, etc, etc.
Deixo minhas barbas de molho: será que repetir 2003 funcionaria, mesmo dentro dos limites a que se propôs o petismo?
Moysés Pinto Neto
Acho que o principal mudança que passei nos últimos anos em termos de visualizar a política é realmente tomar a sério interlocutores -- e com isso tudo muda. Tomar a sério significa levar até o fim o raciocínio, entregar ao outro a oportunidade de se ver convencido e de efetivamente fazer real o que se propõe.
Ao mesmo tempo, isso também me afastou de muitos outros. Uma vez estava numa mesa com outro professor que defendeu, por exemplo, que só um "banho de sangue" seria alternativa viável política para nós. Imediatamente, minha pergunta foi: como devemos nos organizar então? Lutamos contra o desarmamento? Formamos milícias secretas? Evidentemente, a resposta foi "não foi bem isso que quis dizer", mas foi sim -- é que falta um compromisso performativo naquilo que é dito.
Minha paciência com quem diz: "precisamos destruir isso e depois a resposta aparecerá" é cada vez mais curta. Em geral, a atitude arrogante dessas pessoas quando perguntadas sobre o que fazer é reflexo da miséria da própria ideia defendida, incapaz de promover a transformação desejada e pedante o bastante para se livrar do compromisso pragmático. Formam grupelhos para se proteger do atrito com a realidade e atacar aqueles que ousam arriscar errar. Em detrimento isso, sempre têm a crítica implacável -- "radical", dizem eles -- e o horizonte de um porvir que não fica bem explicado, mas um deus ex machina irá aparecer para dele fazer o paraíso redimido.
Mais do que diferenças ideológicas, esse tem sido o critério para despertar meu interesse: o interlocutor leva a sério suas próprias ideias? Ele imagina um cenário em que a ação coletiva possa produzir soluções reais -- inclusive técnicas -- para os problemas que levanta? Ou o interlocutor é um mero moralista político que levanta sua voz para produzir efeitos retóricos sem qualquer capacidade de enfrentar problemas? Sim, ele pode ser bem agressivo, como em geral são os sacerdotes com seus adversários, mas uma rápida conversa -- da qual ele fugirá alegando a mediocridade ou mesquinhez do tema -- já é suficiente para perceber o caráter vazio das palavras grandiloquentes.
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