Líder das FARC pede perdão ao papa Francisco

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11 Setembro 2017

À frente da missa do Papa Francisco em Villavicencio e sua homilia pedindo reconciliação na Colômbia, o ex-comandante das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, as FARC, divulgou uma carta aberta pedindo perdão ao papa.

"Suas repetidas expressões sobre a infinita misericórdia de Deus me levam a pedir pelo seu perdão por quaisquer lágrimas ou dor que tenhamos causado à sociedade colombiana ou qualquer um de seus indivíduos", escreveu Rodrigo Londoño, mais conhecido por seu nome de guerra, Timochenko.

A reportagem é de Gerard O'Connell, publicada por Catholic News Service, 09-09-2017. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.

O comandante rebelde de longa data, que está passando por um tratamento médico em Cuba após um acidente vascular cerebral, disse que lamentava não poder estar presente na visita de Francisco. Declarando-se um "admirador devoto" do primeiro papa latino-americano, elogiou a insistência de Francisco na dignidade de todo ser humano e a crítica aberta a um sistema econômico no qual as nações ricas saqueiam a riqueza das mais pobres.

“São os pobres que contemplam a presença de Deus, a quem se revela o Mistério com maior nitidez”, diz o Papa na Cartagena de Pedro Claver.

Ao meio dia de ontem, 10-09-2017, o Papa Francisco rezou o Angelus na frente da Igreja São Pedro Claver, em Cartagena, Colômbia.

Eis as palavras do Papa ao introduzir a oração mariana:

Queridos irmãos e irmãs! Pouco antes de entrar nesta igreja, onde se conservam as relíquias de São Pedro Claver, benzi as «primeiras pedras» de duas instituições destinadas a cuidar de pessoas com graves necessidades e visitei a casa da senhora Lorenza, onde todos os dias recebe muitos dos nossos irmãos e irmãs para lhes dar alimento e carinho. Estes encontros ajudaram-me muito, porque lá se pode palpar o amor de Deus que se torna concreto e diário. Todos juntos, vamos rezar o Angelus, recordando a encarnação do Verbo.

Pensamos em Maria que concebeu Jesus e O trouxe ao mundo. Contemplamo-La, nesta manhã, sob a invocação de Nossa Senhora de Chiquinquirá. Como sabeis, durante um longo período de tempo, esta imagem esteve abandonada, perdeu a cor e encontrava-se rota e esburacada. Era tratada como um pedaço de saco velho, usada sem qualquer respeito até que acabou entre as coisas descartadas.

Foi então que uma mulher simples (chamada, segundo a tradição, Maria Ramos), a primeira devota da Virgem de Chiquinquirá, viu naquela tela algo de diferente. Teve a coragem e a fé de colocar aquela imagem arruinada e rota num lugar de destaque, devolvendo-lhe a sua dignidade perdida. Soube encontrar e honrar Maria, segurando o Filho nos seus braços, precisamente naquilo que, para os outros, era desprezível e inútil. E, assim, fez-se paradigma de todos aqueles que, de várias maneiras, procuram recuperar a dignidade do irmão prostrado pelo sofrimento das feridas da vida, daqueles que não se conformam e trabalham por lhes construir uma morada decente, assisti-los nas suas grandes necessidades e sobretudo rezam com perseverança para que possam recuperar o esplendor de filhos de Deus que lhes fora arrebatado.

O Senhor ensina-nos através do exemplo dos humildes e dos que não contam. Se à Maria Ramos, uma mulher simples, concedeu a graça de acolher a imagem da Virgem na pobreza daquela tela rota, à Isabel, uma mulher indígena, e ao seu filho Miguel deu-lhes a capacidade de serem os primeiros a ver transformado e renovado este quadro da Virgem. Foram os primeiros a ver com olhos simples este pedaço de pano inteiramente novo e, nele, o esplendor da luz divina, que transforma e faz novas todas as coisas. É aos pobres, aos humildes, aos que contemplam a presença de Deus, que se revela com maior nitidez o Mistério do amor de Deus. Eles, pobres e simples, foram os primeiros a ver a Virgem de Chinquinquirá e tornaram-se seus missionários, arautos da beleza e santidade da Virgem.

E, nesta igreja, rezaremos a Maria, que de Si própria disse ser «a escrava do Senhor», e a São Pedro Claver, o «escravo dos negros para sempre», como a si mesmo se designou desde o dia da sua profissão solene. Ele esperava os navios que chegavam da África ao principal mercado de escravos no Novo Mundo. Muitas vezes recebia-os apenas com gestos evangelizadores, devido à impossibilidade de comunicar pela diferença das línguas. Mas Pedro Claver sabia que a linguagem da caridade e da misericórdia era entendida por todos.

Na verdade, a caridade ajuda a compreender a verdade, e a verdade reclama gestos de caridade. Quando sentia repugnância deles, beijava-lhes as feridas. Austero e caritativo até ao heroísmo, depois de ter confortado a solidão de centenas de milhares de pessoas, passou os últimos quatro anos da sua vida doente e na sua cela num estado espantoso de abandono.

Realmente São Pedro Claver testemunhou, de forma estupenda, a responsabilidade e a solicitude que cada um de nós deve ter pelos irmãos. Apesar disso, este santo foi injustamente acusado, pelos outros, de ser indiscreto no seu zelo e teve que enfrentar duras críticas e uma tenaz oposição da parte de quantos temiam que o seu ministério ameaçasse o lucrativo comércio dos escravos.

Ainda hoje, na Colômbia e no mundo, milhões de pessoas são vendidas como escravos, ou então mendigam um pouco de humanidade, uma migalha de ternura, fazem-se ao mar ou metem-se a caminho porque perderam tudo, a começar pela sua dignidade e os seus direitos.

Maria de Chiquinquirá e Pedro Claver convidam-nos a trabalhar pela dignidade de todos os nossos irmãos, especialmente os pobres e descartados da sociedade, aqueles que estão abandonados, os emigrantes, as vítimas da violência e do tráfico humano.

Todos eles têm a sua dignidade, e são imagem viva de Deus. Todos fomos criados à imagem e semelhança de Deus, e a todos nos sustenta a Virgem nos seus braços como filhos amados. Dirijamos agora a nossa oração à Virgem Mãe, para que nos faça descobrir em cada um dos homens e mulheres do nosso tempo o rosto de Deus. Angelus Domini

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