20 Outubro 2014
Adaptar as vias e os métodos “às crescentes necessidades de nossos dias e às diferentes condições das sociedades”. Esta é a missão do Sínodo dos Bispos, segundo disse o Papa Paulo VI quando instituiu esta estrutura episcopal. Tais palavras foram lembradas, hoje, por Francisco, justamente durante a cerimônia de beatificação de Giovanni Battista Montini e de encerramento da assembleia sinodal dedicada a analisar os desafios atuais da família.
A reportagem é de Andrés Beltramo Álvarez, publicada por Vatican Insider, 19-10-2014. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Ao recordar esta frase, Jorge Mario Bergoglio explicou indiretamente por que decidiu beatificar Paulo VI neste dia. Ele lembrou que Montini podia “perscrutar atentamente os sinais dos tempos”. Foi isso o que fez, nos últimos 15 dias, o Sínodo dos Bispos em meio a um clima, às vezes, de discussões polêmicas e acirradas.
Os padres sinodais que protagonizaram estes debates animados acompanharam o papa neste domingo, no pátio da Basílica de São Pedro. A praça vaticana luziu por inteiro, abaixo de um sol intenso. No início da missa, ocorreu o rito de beatificação do pontífice que guiou a Igreja entre junho de 1963 e agosto de 1978.
A declaração foi recebida com aplausos por uma multidão que enchia a Praça de São Pedro, em particular quando o papa levou até o altar localizado no pátio da basílica uma relíquia: uma das camisas ensanguentadas, produto do atentado que Montini sofreu nas Filipinas, em 1970.
De um lado, o papa emérito Bento XVI não passou despercebido. Ele chegou cedo e se sentou com os demais cardeais e bispos. Bento conhecia o beato desde o Concílio Vaticano II e recebeu dele tanto o cuidado pastoral da arquidiocese alemã de Munique (em março de 1977) quanto o barrete de cardeal, três meses depois.
Francisco dedicou a sua homilia para refletir sobre a famosa passagem bíblica: “Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”.
“À provocação dos fariseus, que queriam, por assim dizer, fazer-lhe o exame de religião e induzi-lo em erro, Jesus responde com esta frase irônica e genial. É uma resposta útil que o Senhor dá a todos aqueles que sentem problemas de consciência, sobretudo quando estão em jogo as suas conveniências, as suas riquezas, o seu prestígio, o seu poder e a sua fama. E isso acontece em todos os tempos e desde sempre”, assegurou o papa.
Em contrapartida, pediu que não tenham medo de responder positivamente às “surpresas de Deus”.
“Ele não tem medo das novidades! Por isso nos surpreende continuamente, abrindo-nos e levando-nos para caminhos inesperados”. O papa reafirmou a abertura à vontade de Deus e “dedicar-lhe a nossa vida, cooperando para o seu Reino de misericórdia, amor e paz”.
“Aqui está a nossa verdadeira força, o fermento que faz levedar e o sal que dá sabor a todo o esforço humano contra o pessimismo predominante que o mundo nos propõe. Aqui está a nossa esperança, porque a esperança em Deus não é uma fuga da realidade, não é um álibi: é restituir diligentemente a Deus aquilo que lhe pertence. É por isso que o cristão fixa o olhar na realidade futura, a realidade de Deus, para viver plenamente a existência – com os pés bem fincados na terra – e responder, com coragem, aos inúmeros desafios novos”, declarou.
Francisco sustentou que o mesmo ocorreu nos dias do Sínodo deste ano, porque a Igreja foi chamada, sem demora, a cuidar das “feridas que sangram” e a reacender a esperança para tantas pessoas sem esperança”.
Sobre Paulo VI, exclamou: “Deste grande Papa, deste cristão corajoso, deste apóstolo incansável, diante de Deus hoje só podemos dizer uma palavra tão simples como sincera e importante: Obrigado! Obrigado, nosso querido e amado Papa Paulo VI! Obrigado pelo teu humilde e profético testemunho de amor a Cristo e à sua Igreja!”
E, citando uma passagem do diário de Montini, acrescentou: “Talvez o Senhor me tenha chamado e me mantenha neste serviço não tanto por qualquer aptidão que eu possua ou para que eu governe e salve a Igreja das suas dificuldades atuais, mas para que eu sofra algo pela Igreja e fique claro que Ele, e mais ninguém, a guia e salva”.
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“Adaptar as vias e os métodos” é a missão do Sínodo, segundo Paulo VI - Instituto Humanitas Unisinos - IHU