A religião na América Latina

Mais Lidos

  • “Os israelenses nunca terão verdadeira segurança, enquanto os palestinos não a tiverem”. Entrevista com Antony Loewenstein

    LER MAIS
  • Golpe de 1964 completa 60 anos insepulto. Entrevista com Dênis de Moraes

    LER MAIS
  • “Guerra nuclear preventiva” é a doutrina oficial dos Estados Unidos: uma visão histórica de seu belicismo. Artigo de Michel Chossudovsky

    LER MAIS

Revista ihu on-line

Zooliteratura. A virada animal e vegetal contra o antropocentrismo

Edição: 552

Leia mais

Modernismos. A fratura entre a modernidade artística e social no Brasil

Edição: 551

Leia mais

Metaverso. A experiência humana sob outros horizontes

Edição: 550

Leia mais

Por: André | 28 Agosto 2014

Na Europa, a religião encontra-se empacotada em algum lugar relativamente separado da personalidade, e a capacidade da Igreja – católica, claro – de influenciar na conduta dos cidadãos depende de sua destreza para atuar no mercado das crenças. O resto é a inércia. Mas a América Latina é outra coisa.

O artigo é de Miguel Ángel Bastenier e publicada no jornal El País, 20-08-2014.

No inconsciente – ou muito consciente – coletivo latino-americano, a religião é um fator político. Isso sabe muito bem a presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, católica declarada que tem em seu gabinete do Palácio do Planalto uma imagem de Nossa Senhora Aparecida, e que em vista das eleições de 5 de outubro corteja os 42 milhões de compatriotas que veneram o Jesus dos evangélicos, protestantismo em veloz expansão em toda a América Latina. De 2000 a 2013 o catolicismo perdeu, segundo o Latinobarômetro, 13% dos fiéis, e no Brasil, que, com 130 milhões de batizados continua sendo o país com mais católicos no mundo, as igrejas evangélicas cresceram vertiginosos 60%. Na América Central já se aproximam do catolicismo, que não chega a congregar 50% da população.

Dilma assistiu no fim de semana, rodeada de cidadãos e cidadãos em cargos importantes, à inauguração do Templo de Salomão, da Igreja Universal do Reino de Deus, com capacidade para mais milhares de fiéis do que a São Pedro, de Roma. A presidenta, que depois da morte do candidato socialista Eduardo Campos terá de enfrentar muito provavelmente Marina Silva, ambientalista, negra e evangélica, repetiu que acredita firmemente no poder da oração, talvez pensando em não ter que se expor, contando com sua ajuda, a um sempre arriscado segundo turno; mas, com oração ou sem ela, atrair uma parte do voto evangélico seria, literalmente, um santo remédio.

Os catecúmenos das redes sociais, o Twitter especialmente, puderam se dar conta de como os espanhóis praticamente não mencionam as potências celestiais, enquanto no universo eletromagnético latino-americano, católicos e protestantes invocam o Senhor até em sua identificação na rede. E o que é esse acesso de fervor, especialmente comum à alma evangélica? Jorge Castañeda, em A Utopia Desarmada, qualifica o populismo político de “reflexo do sonho não realizado latino-americano de uma modernidade sem dor”. Isso me parece também o milagreirismo, de novo mais evangélico que católico, um populismo cura-tudo, ao mesmo tempo uma espécie de spanglish das religiões.

O catolicismo latino-americano, ainda em retrocesso, apesar do advento do Papa Francisco, cobre, no entanto, um espectro político muito mais amplo, da direita à esquerda, do que o protestantismo evangélico, instalado em coordenadas solidamente conservadoras, e de uma disciplina de voto também mais ampla, com a qual contaria Marina Silva, claramente à esquerda de sua congregação. Dilma, em meio de uma queda da atividade econômica, do fiasco esportivo da Copa tão recente, e de uma visível carência do afeto contagioso que transbordava em seu antecessor e guia, o presidente Lula, necessita de votos onde os encontrar; ainda que tenha de orar por eles.

Comunicar erro

close

FECHAR

Comunicar erro.

Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

A religião na América Latina - Instituto Humanitas Unisinos - IHU