Agora é a vez de Sodano: grande diretor do conclave

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18 Fevereiro 2013

Agora, o jogo começa ao vivo. Dessa segunda-feira até sábado, os Exercícios Espirituais, que se realizam no Vaticano para a Quaresma, freiam ainda um pouco os contatos pré-conclave. Mas a renúncia papal já ficaram psicologicamente para trás, e o próprio Bento XVI convida a olhar para a frente.

A reportagem é de Marco Politi, publicada no jornal Il Fatto Quotidiano, 18-02-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Os protagonistas desta fase são dois. O cardeal secretário de Estado, Tarcisio Bertone, que assumirá a administração da Igreja Católica na qualidade de camerlengo na noite do dia 28 de fevereiro, e o cardeal decano Angelo Sodano. Bertone entra mancando no conclave. Sua última gafe é não ter verificado que o novo presidente do IOR, Ernst von Freyberg, é presidente de uma empresa alemã que fabrica submarinos e navios de guerra. O Vaticano, no sábado, estava totalmente despreparado para as perguntas levantadas sobre o assunto pelos jornalistas. Também não causa uma boa impressão – para além das qualidades individuais de Freyberg – o fato de que ele se dedicará ao Banco do Vaticano apenas três dias por semana.

Há muito tempo, uma amplo frente de cardeais na Itália e no exterior – de Schönborn a Scola, de Bagnasco a Ruini, passando pelo cardeal de Paris, Vingt-Trois – é contrário à Bertone. Mas o torpedo mais mortal disparado contra ele nestas vésperas do conclave vem do cardeal de Colônia, Joachim Meisner, que há poucos dias lembrou ter implorado ao Papa Ratzinger para que mandasse para casa o secretário de Estado, ainda em 2009, na época do escândalo internacional sobre a remissão da excomunhão do bispo lefebvriano Williamson, negador do Holocausto.

"Eu disse ao papa: Santo Padre, o senhor deve demitir o cardeal Bertone! Ele é responsável – exatamente como um ministro em um governo secular". Nas altas hierarquias eclesiásticas, nada acontece ou é dito por acaso. Se Meisner lembra hoje o episódio, é para lançar um "alto lá!" a Bertone em nível internacional, a fim de bloquear quaisquer manobras eventuais suas no conclave. O cardeal de Paris, ainda no ano passado, havia proposto a sua demissão.

Os cardeais estrangeiros também estão irritados porque Bertone encheu o Colégio dos Cardeais de homens da Cúria. De 28 de italianos, nada menos do que 13 são curiais, e outros seis são curiais eméritos. Tudo isso, ao qual se soma o episódio Vatileaks, criou entre os cardeais eleitores um clima anti-Bertone e não favorece, em geral, uma candidatura italiana tipo Scola.

O cardeal Sodano, ao invés, deverá desempenhar um grande papel na fase do pré-conclave. Como decano do Colégio dos Cardeais, será ele que irá liderar os nove dias de encontros plenários em que serão discutidos os problemas da Igreja, o seu futuro e (nas entrelinhas) as qualidades de um futuro pontífice.

Equilibrado, diplomático, não partidário, Sodano vai trabalhar para fortalecer no pré-conclave as candidaturas de "centro", isto é, de personalidades moderadas, mas dispostas a fazer aberturas e reformas. Sodano é inclusivo, disposto a trabalhar por uma prudente inovação. Antes de acabar o pontificado de Wojtyla, ele já havia salientado que "a Igreja sempre deve ser reformada" e também havia citado o teólogo reformador Küng em uma coletiva de imprensa na Lateranense. Além disso, em 2001, ele pressionou (e quase obrigou) o Papa Wojtyla a dar o barrete cardinalício ao reformador Karl Lehmann, presidente da Conferência Episcopal Alemã, que o então cardeal Ratzinger queria impedir.

Até que ponto os vários papáveis estão dispostos a reformas no estado atual – quando a campanha pré-eleitoral ainda nem bem começou – é uma grande questão. Durante anos, reinou um clima conformista. Nenhum cardeal contradizia Bento XVI.

Mas, sob a superfície, eles abrem caminho. O ultraconservador Meisner declarou, de repente, que a pílula tomada em família para regular os nascimentos (não a abortiva) é lícita. "Eu falei a respeito com Dom Gänswein, ele me disse que o papa sabe, está tudo em seu lugar", declarou Meisner ao jornal Kölner Stadr-Anzeiger. Algo impensável há duas semanas!

O arcebispo Lluis Sistach, de Barcelona, afirmou de repente que "poderia haver a reforma do celibato para os sacerdotes". Impensável há duas semanas.

Assim como a abertura de Dom Paglia (não cardeal) sobre os casais de fato.

Enfim, é indicativo que o cardeal português Saraiva Martins tenha comentado que seria "positiva" a eventualidade de um papa extraeuropeu. Muito está se movendo sob a superfície. A questão diz respeito à consistência do bloco reformador. Única certeza: os ultraconservadores, depois da sua vitória em 2005, fracassaram.

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