Porto Alegre. Terceiro ato seguido contra Temer termina em repressão da BM

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02 Setembro 2016

Ruas centrais dos bairros Santana e Cidade Baixa foram palco de truculência por parte da Brigada Militar e confronto com os manifestantes, que tentaram revidar jogando pedras e queimando contêineres de lixo, na noite desta quinta-feira (1). O terceiro ato após o impeachment de Dilma Rousseff e contra o governo de Michel Temer começou na Esquina Democrática por volta das 18h e, após uma caminhada de duas horas em que ocorreram diversas depredações de bancos, lojas e carros, a Brigada Militar avançou em direção aos manifestantes com bombas de gás e balas de borracha, em perseguição que durou cerca de uma hora e meia.

A reportagem é de Débora Fogliatto, publicada por Sul21, 01-09-2016.

Depois do ato desta quarta-feira (31), que reuniu milhares e também foi alvo da tropa de choque, a expectativa era que desta vez a manifestação fosse menor. Não foi o caso. Quando a marcha começou em direção à rua Júlio de Castilhos, a multidão mostrava que não ficaria muito atrás do dia anterior, novamente embaladas por movimento de juventude e com muitas lideranças femininas. A maior faixa carregada na frente da marcha constatava: “o golpe é misógino”. Entoando “somos o povo e o Michel Temer nós vamos derrubar”, além do já tradicional “fora, Temer” os manifestantes deram a volta no terminal Parobé e seguiram em direção ao túnel.

Organizado pelo coletivo Fora da Ordem, o protesto também contou com a presença de movimentos como Unidade Popular pelo Socialismo, POA Fora da Ordem, MAIS, JPT, UJC, Voz Ativa, UJS, UJR, Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro, e podia-se ver algumas bandeiras de partidos, dentre eles PT, PCB e PSOL. O clima era de animação enquanto o ato seguia pelo Centro, onde passou pelo Túnel da Conceição com gritos de “Ô Michel Temer, vai se f*, democracia é maior do que você” e “olê, olê, olê, olê, fora, Temer”. Ao passar pelos hospitais Beneficência Portuguesa e Santa Casa, os manifestantes fizeram silêncio.

O clima começou a mudar na Avenida Independência, onde alguns manifestantes começaram a virar contêineres de lixo e quebrar vidros de agências bancárias. Conforme o ato chegava no Moinhos de Vento, bairro nobre da cidade onde aconteceram as manifestações pró-impeachment, as depredações aumentavam. Ao dobrar na rua Florêncio Ygartua e seguir pela 24 de Outubro, fachadas de lojas e até carros estacionados foram quebrados por pedras jogadas por um grupo. Essas atitudes eram saudadas por parte do ato e vaiadas por outra.

A marcha contornou o Parcão, criticando os moradores do bairro: “é fácil bater panela enquanto a fome fica dentro da favela” e “que palhaçada, batem panela mas quem lava é a empregada”. Na esquina da rua 24 de Outubro com a Avenida Goethe, o protesto ficou parado por algum tempo, enquanto algumas pessoas queriam seguir para a rua Padre Chagas e as lideranças do ato avisam que a caminhada iria pela Goethe, entoando “recua, direita, recua, é o poder popular que tá na rua”.

Nesse momento, o clima já era tenso, enquanto muitos temiam uma ação violenta por parte da Brigada Militar, que acompanhou de perto todo o trajeto. A presença de um helicóptero, que também acompanhava o protesto desde o início, foi outro fator que chamou a atenção dos manifestantes.

Repressão e confronto

Ao chegar na avenida Protásio Alves, o ato parecia estar se dirigindo para o fim, seguindo pela Osvaldo Aranha em direção ao Hospital de Pronto Socorro, onde os organizadores pretendiam que fosse encerrado. A depredação de uma agência do Bradesco na Osvaldo, porém, parece ter sido o estopim para que a Brigada Militar passasse a atirar bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo contra os manifestantes. A maioria dos participantes correu pela rua Ramiro Barcelos, fugindo das investidas, enquanto alguns defendiam tentar retornar para a Osvaldo e retomar o ato.

Na Ramiro, mais lixeiras foram viradas, algumas das quais chegaram a ser incendiadas pelos manifestantes. Alguns revidavam a abordagem da BM com pedras enquanto a tropa de choque continuava investindo, chegando a jogar uma “chuva” de bombas de gás e atirar com balas de borracha. No ar da Ramiro e da Jerônimo de Ornelas, para onde a multidão corria, o cheiro do gás se misturava ao de vinagre, usado para neutralizar o efeito das bombas nos olhos e nariz, e ao de fumaça, em função do fogo colocado nos contêineres. Um grupo chegou a ficar encurralado na esquina entre as duas ruas brevemente, com a Brigada dos dois lados, e sendo alvo do gás.

Por toda a Jerônimo, até a João Pessoa, a cena se repetiu: manifestantes achavam que a situação estava mais tranquila e tentavam retomar o ato, quando era ouvido mais barulho de bombas sendo jogadas e a correria recomeçava. Em alguns momentos, enquanto recuavam, os manifestantes entoavam para os policiais: “que vergonha deve ser espancar trabalhador para ter o que comer, que vergonha deve ser”. Em certo momento, segundo relatos, um morador de um prédio teria descido com uma arma na mão, ameaçando “acabar com a baderna”, após um contêiner ser virado próximo ao seu prédio.

Mesmo não estando bloqueada, a João Pessoa também foi palco de mais bombas de gás, que atingiram os poucos manifestantes que restavam, e precisaram voltar a correr, pedindo que os motoristas parassem enquanto tentavam escapar. O que restava do ato escoou para a rua General Lima e Silva, onde um helicóptero sobrevoando mais baixo que o normal assustava os comerciantes e frequentadores da Cidade Baixa. Cerca de cem manifestantes seguiram gritando “Fora, Temer”, e a Brigada Militar não era mais avistada pelos que restaram mobilizados. Alguns ainda gritaram “amanhã vai ser maior”, insinuando que não irão deixar de protestar após as repressões.

Parte dos manifestantes seguiu ainda para a avenida Loureiro da Silva, com a intenção de encerrar o ato no Largo Zumbi dos Palmares. Há relatos de que outra parte dos manifestantes teriam seguido em direção ao Bom Fim, onde também sofreram repressões da polícia. Três pessoas foram presas durante a ação da BM, segundo a Mídia Ninja.

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